Exclusivo: “Serei candidato a deputado federal pelo PT”, diz Marcelo Freixo

Durante o governo anterior, a Embratur sofreu uma degradação institucional sem precedentes. A agência se transformou em um cabide de empregos para militares, que ocupavam cargos estratégicos sem qualificação profissional. Nos corredores da empresa, pessoas andavam armadas rotineiramente. Relatos de funcionários indicam que, durante reuniões, havia armas sobre as mesas de trabalho. Esse era o estado caótico em que a instituição se encontrava.

Esses são alguns relatos de Marcelo Freixo em entrevista exclusiva para o jornalista Miguel do Rosário, editor do portal O Cafezinho, realizada nesta segunda-feira 15 de dezembro de 2025, num café em Niteroi.

Paralelamente, a imagem internacional do Brasil estava severamente prejudicada pelo negacionismo em relação à pandemia, pelas questões ambientais e pelos ataques à democracia. Essa deterioração da reputação do país resultou em uma queda drástica no número de turistas estrangeiros que visitavam o Brasil. A combinação entre uma agência de turismo desmantelada e uma imagem país abalada criou um cenário de crise completa no setor.

Mas em 2025, o Brasil caminha para um recorde histórico: 9 milhões de turistas internacionais. Até novembro, o país havia recebido 8,4 milhões de visitantes em apenas 11 meses, representando um crescimento de 40,6% em relação ao mesmo período de 2024. O recorde anterior havia sido em 2018, com 6,62 milhões de turistas.

Segundo dados atualizados da Embratur, a receita turística nos 11 primeiros meses de 2025 alcançou R$ 199,65 bilhões (US$ 36,3 bilhões).

Durante a entrevista, Freixo discutiu os desafios enfrentados para recuperar a Embratur, as perspectivas do turismo como ferramenta de desenvolvimento para o Brasil e seus planos políticos para o futuro.

“O turismo hoje é 8% do PIB,” afirma Freixo. Isso equivaleria a aproximadamente R$ 965 bilhões — uma receita equivalente a seis vezes o orçamento do Bolsa Família. De acordo com a Embratur, o turismo é responsável por 8 milhões de empregos entre formais e informais, sendo 290 mil deles empregos formais criados em 2025. É um dos setores que mais gera emprego no país.

Marcelo Freixo começou sua trajetória política no PT em 1995, deixando o partido em 2004. Em 2005, filiou-se ao PSOL, permanecendo por 16 anos.

Em junho de 2021, deixou o PSOL e ingressou no PSB para disputar as eleições estaduais de 2022 como candidato ao governo do Rio de Janeiro, mas perdeu para Claudio Castro, reeleito no primeiro turno com 58,19% dos votos válidos.

Em janeiro de 2023, Freixo retornou ao PT, partido pelo qual atualmente é filiado.

Foi nomeado presidente da Embratur pelo presidente Lula em 13 de janeiro de 2023, logo no início do governo. A Embratur é vinculada ao Ministério do Turismo.

Freixo nos contou que deverá ser candidato a deputado federal pelo PT do Rio de Janeiro, numa estratégia combinada com o próprio presidente Lula para fortalecer a nominata do PT.

Trechos da entrevista:

Miguel do Rosário: Como você encontrou a Embratur quando assumiu?

Marcelo Freixo: A imagem do Brasil estava muito comprometida internacionalmente. O negacionismo em relação à pandemia, aliado aos problemas ambientais e às queimadas, criaram uma percepção muito negativa do país no exterior.

A Embratur havia sido lotada de militares, sem qualificação profissional. As pessoas circulavam armadas nos corredores. Funcionários relatavam que havia armas sobre as mesas durante reuniões. Era um quadro de completa desorganização.

Miguel do Rosário: E como você lidou com a questão financeira?

Marcelo Freixo: Quando assumi, havia apenas quatro meses de salários em caixa. Essa era a situação orçamentária que encontrei. Fui falar com o Lula, conversei com Haddad, Tebet [Simone Tebet, ministra do Planejamento] e Alckmin [ministro da Indústria e Comércio], que é um grande aliado e possui uma visão estratégica clara sobre turismo. Considerei importante manter o modelo de agência, evitando retornar à autarquia por ser muito engessada, mas era necessário resolver essa questão orçamentária.

A Embratur tinha um convênio com o Sebrae para realização das feiras internacionais. Conseguimos fazer esse valor mais do que dobrar. Depois, quando se discutiu a questão dos bets, um percentual deles também veio para a Embratur. Assim, consegui resolver o orçamento estrutural, mantendo a agência via Ministério do Turismo.

O orçamento que vem do governo é de 150 milhões de reais. Além disso, 1% dos bets também vem para a Embratur, representando aproximadamente o mesmo valor. Levei um ano para resolver toda essa questão orçamentária.

Miguel do Rosário: Como a Embratur está promovendo o Brasil no exterior?

Marcelo Freixo: Montamos um centro de inteligência e dados. Assim, sei quem vem para o Brasil, quanto gasta e quando vem. A gente tem um painel disponível para cada dono de pousada, cada dono de hotel, cada prefeito, cada secretário.

Toda a política da gente é baseada em planejamento com dados. Eu sei para onde o italiano vai, para onde o francês vai, o que consome, quando vem, qual a melhor época para promover o Brasil lá.

Por exemplo, o argentino vinha até Búzios, Florianópolis e Rio Grande do Sul. O Centro de Inteligência de Dados mostrou que a Argentina podia se expandir pelo Nordeste. Aí a gente tem um centro de modais que trabalha com as companhias aéreas. Conseguimos voos da Argentina para Fortaleza. O número de argentinos cresceu 80% de um ano para o outro.

Miguel do Rosário: Qual é a importância do turismo para o Brasil?

Marcelo Freixo: O turismo pode ser uma grande solução para o modelo de desenvolvimento do século XXI. Todos os produtores de petróleo investem pesadamente nele. A Arábia Saudita, como muitos outros países, compreendeu que essa é uma fonte de recursos estratégica para o futuro.

Miguel do Rosário: Você mencionou algo sobre audiovisual e turismo. Como é essa relação?

Marcelo Freixo: Quem mais viaja no mundo são chineses e norte-americanos. O chinês está muito longe, o norte-americano não. É o terceiro país em número de turistas que visitam o Brasil. Sempre foi o segundo, mas foi ultrapassado pelos chilenos, que agora são o segundo maior grupo de visitantes, depois da Argentina.

44% dos norte-americanos viajam para algum lugar que assistiram num filme ou numa série. Existe uma relação muito direta entre o mundo e o audiovisual. A Nova Zelândia investiu nisso, a Coreia investiu, a Espanha investiu. Você anda em Madrid e tem um cara vestindo de Casa de Papel na rua.

Olhando esse estudo da relação de turismo com audiovisual, fui para o Ministério da Cultura com a Margaret e com o Márcio Tavares e falei: temos que criar uma Film Commission brasileira. O Brasil não tinha uma estrutura nacional para atrair filmagens, pois as que existem no Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades são municipais ou estaduais. Agora em março vai ser criada essa comissão, fruto desse estudo.

Miguel do Rosário: Existe risco da IA afetar os empregos no turismo?

Marcelo Freixo: Não, ao contrário. Posso te dar exemplos aqui uma tarde inteira. Você pode resolver um problema no banco pelo telefone, mas não pode conhecer um lugar pelo telefone. Se eu falar que quero conhecer tal lugar, não é pelo telefone, não.

Você ganha tempo para fazer a viagem. A inovação facilita você se deslocar no mundo. Vou dar um exemplo maior ainda: hoje a gente tem uma quantidade grande de gente que mora em Pipa, que mora em Paraty, que mora em Búzios, que trabalham online e que vivem nesses lugares. A gente estimula esse tipo de turismo, porque o turismo é sobre quem recebe.

Miguel do Rosário: Quais são alguns dos projetos que a Embratur desenvolveu?

Marcelo Freixo: A gente trabalhou muito a relação do turismo com outros fatores. Criamos a Rota do Samba em Oswaldo Cruz, com dez pontos de inovação. Você chega lá, encontra um QR Code no telefone, toda a playlist do Candeia na casa dele, e tudo sobre o artista em duas línguas.

Passa pela história do Paulo da Portela, pela Portelinha, pelo Bar do Nozinho, onde Walt Disney foi. Isso é inovação. O bairro está atraindo visitantes de forma impressionante por causa da rota do samba, com guias que são mulheres de Oswaldo Cruz que estudaram turismo. Desenvolvemos o afroturismo.

Miguel do Rosário: E seus planos na política para 2026?

Marcelo Freixo: O primeiro plano é eleger Lula presidente da república. Essa é a coisa mais importante que a gente tem para fazer em 2026, porque se a gente perde a eleição para presidente, todo o restante de qualquer projeto desanda.

Se em janeiro de 2023 eu tivesse dito que quando chegasse em dezembro de 2025 a gente teria tirado o Brasil do mapa da fome, aprovado a promessa do presidente Lula de isenção para quem ganha 5 mil, diminuído a desigualdade ao seu nível mais positivo, reduzido a inflação e atingido a menor taxa de desemprego, você teria dito: ‘Porra, eu duvido, porque esse congresso é difícil.’ Mas se vocês conseguirem isso, o governo Lula vai estar com 98% de aprovação.

Nós conseguimos tudo isso e a gente está disputando uma eleição difícil. Então o mundo mudou. Não basta apenas fazer. Tem um desafio de comunicação muito profundo que o Brasil está vivendo. Precisamos nos empenhar muito na organização da campanha do presidente Lula como prioridade e lançar uma nominata forte para deputado e senador. Por isso eu venho para deputado federal, já combinado com ele.

Abaixo, um pequeno vídeo que gravei durante a mesma entrevista:

 

Artigo Anterior

Os índices de aprovação e desaprovação do governo Lula, segundo nova pesquisa PoderData

Próximo Artigo

CCJ analisa PL da Dosimetria

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!