Victor Stavale surgiu na Internet em meados de 2022. Sob o pseudônimo de Vicky Vanilla, Stavale se apresentou como sacerdote da Igreja Luciferiana do Novo Aeon. O dito satanista tomou espaços em podcasts, se envolveu em polêmicas, inclusive com falas sobre política em combate ao bolsonarismo e, depois, amaldiçoando o presidente Lula.
Sob o pseudônimo de Vicky Vanilla, Stavale se apresentou como sacerdote da Igreja Luciferiana do Novo Aeon. O dito satanista tomou espaços em podcasts, se envolveu em polêmicas, inclusive com falas sobre política em combate ao bolsonarismo e, depois, amaldiçoando o presidente Lula.
Após ganhar notoriedade, Vanilla se declarou convertido ao cristianismo e, ainda, virou pastor evangélico, prometendo abrir sua própria Igreja. A guinada não parou na questão religiosa: Vanilla passou a militar fervorosamente em nome de causas neonazistas.
O pastor usa suas redes para propagar a causa supremacista e atacar minorias. Nos últimos dias, após denúncias de Júnior Freitas, militante do PSOL, Vanilla teve suas contas suspensas no Instagram. O perfil principal contava com mais de 370 mil seguidores, já seu segundo perfil tinha mais de 20 mil seguidores.
Em um dos vídeos, Vanilla promete: “Eu vou criar o primeiro partido da causa ariana no Brasil”.
O DCM teve acesso à troca de mensagens de Vicky Vanilla em um grupo de propagação de conteúdo neonazista no Telegram, do qual Victor é administrador.
O grupo, intitulado “Guardiões do Graal”, reúne mais de 1 800 pessoas e descreve o espaço como “Grupo de divulgação de conteúdo proibido pelo sistema”. Vanilla aparece com as inicias M.V.
Nos textos enviados por M.V, há conteúdos como a foto que mostra uma criança morta no colo de um soldado. O registro possui as seguintes conclusões: “Norte-Coreano comunista levou chumbo grosso dos ucranianos. Espero que aconteça no Brasil”.
Em outro trecho, M.V diz que a solução para São Paulo seria criar um decreto oficial do ‘Dia do Baile Funk’, e então esperar a concentração de pessoas em uma grande festa em comemoração da data para que helicópteros sobrevoando o local descarregassem bombas para eliminar os participantes do evento.
Em outro momento também, um conteúdo mais ameaçador é levantado na conversa no final do ano passado: M.V anuncia que muito em breve haverá o que ele diz ser “transformações no Brasil”, em seguida conta que está em contato com grupos do Leste Europeu e que iria para a região em Dezembro. Ele diz que, quando voltasse, iria liderar grupos “Anti-Esquerdistas”. Termina ainda em tom triunfal: “quem estiver conosco, triunfará na nova Brasilis, quem estiver contra sucumbirá pela nossa destra”.
Em outro episódio, Vanilla compartilha um vídeo de Neymar ensinando crianças a dançarem funk. Então Vicky brada: “De que adianta fazer filho branco para isso? Um gorila desses ganhando milhões, enquanto a maioria aqui com um salário mínimo. Até quando vamos aguentar?”
M.V compartilhou também a foto de um fuzil T4, armamento de uso militar, aparentemente colocando-o para venda pelo valor de R$ 90 mil reais.
Já em um outro grupo menor criado em Outubro de 2024 no WhatsApp, com 61 integrantes, Vanilla compara o sacrifício de Cristo ao de Adolf Hitler. Victor alega que quem não entende isso não serve para ser cristão.
A descontração de Vicky Vanilla é solicitar figurinhas de Whatsapp (Sticker) com a saudação nazista ou que apresentem a própria imagem de Hitler.
O líder neonazista gravou vídeos, no ano passado, sugerindo que seus seguidores lessem o “Mein Kampf”, de Adolf Hitler, e a obra de David Duke, supremacista estadunidense que liderou a Ku Klux Klan. No conteúdo, ele sentencia: “Se o governo falar que é proibido, pau no cu do governo”.
Na sequência, Vanilha fez um outro vídeo em que confrontava o ministro do STF, Alexandre de Moraes. Vestindo uma camiseta com o Sol Negro (símbolo nazista), diz em tom afetado: “Fala, Xandão, quer bloquear as redes sociais, seu cuzão? Seu comédia do caralho. Já não basta o processo que você fez para mim e para os outros também? Quer bloquear porque a judeuzada vai ouvir verdades?!”. Ele termina a mídia fazendo a saudação nazista (“Heil Hitler”).
O processo que Vanilla cita nesse vídeo diz respeito à decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em maio de 2024, que aplicou multa individual de R$ 30 mil reais aos deputados Carla Zambelli (PL-SP) e Gustavo Gayer (PL-GO), aos senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Cleitinho (Republicanos-MG), ao músico Roger Moreira (Ultraje a Rigor) e ao influenciador Bernardo Kuster.
Além deles, também foram condenados a pagar o valor de R$ 5 mil reais os influenciadores Bárbara Zambaldi, Leandro Ruschel e Victor Stavale (Vanilla), por associarem o presidente Lula ao satanismo em compartilhamento de vídeos gravados pelo pastor ex-satanista, durante o pleito eleitoral de 2022.
Os ativistas André D’Lucca e Wanderson Dutch denunciaram o conteúdo neonazista de Vanilla ao Ministério Público, protocolado pedido de investigação. No vídeo que a dupla denunciou, Vanilla orienta seus seguidores com as seguintes determinações: “Façam filhos brancos, mas não só brancos de cor, brancos de alma. Não adianta só a pelezinha branca não. Tá cheio de branquinho por aí que é esquerdista e maconheiro. Tá cheio de ariano que não é mais ariano, que já perdeu a identidade espiritual (inclusive, já tá pronto para reencarnar em porco ou algo mais horrendo)”. Ele segue dizendo que é preciso procurar a população ariana para promover a eugenia.
Victor Stavale, o Vicky Vanilla, responde a mais de 10 processos na justiça. Há farto material de mídias digitais e textos expondo o conteúdo neonazista de Vicky Vanilla. Há denúncias no Ministério Público e há o crime de apologia ao nazismo tipificado na legislação brasileira, só é preciso conectar as pontas.
Apologia ao Nazismo é crime previsto pela Lei 7.716/1989, segundo a qual é crime: Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
A pena prevista é de reclusão de um a três anos e multa – ou reclusão de dois a cinco anos e multa se o crime foi cometido em publicações ou meios de comunicação social.
Além disso, a lei abarca o seguinte: Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.
Nesses casos, a pena possível é de reclusão de dois a cinco anos, além de multa.