Investigação sobre os bastidores financeiros do filme Dark Horse, cinebiografia que retrata Jair Bolsonaro como herói e tem roteiro assinado pelo deputado federal Mario Frias (PL-SP), revela uma triangulação de recursos públicos envolvendo o parlamentar, uma organização não governamental e a produtora cinematográfica do longa.
Exclusivo: Uma ONG ligada à produtora do filme sobre Jair Bolsonaro, “Dark Horse”, recebeu R$ 2 milhões em emendas parlamentares do deputado Mario Frias, ex-ministro da Cultura do governo Bolsonaro e roteirista da produção cinematográfica.
Trata-se do Instituto Conhecer Brasil, uma ONG presidida por Karina Ferreira da Gama, que foi beneficiada com o repasse de R$ 2 milhões em emendas parlamentares individuais de autoria de Mario Frias. Com exclusividade, a reportagem levantou estes dados e revela o caminho destes recursos e as conexões societárias que se cruzam com aliados políticos do ex-presidente.


Segundo dados obtidos pelo GGN, os recursos foram divididos em dois pagamentos distintos, no valor de R$ 1 milhão cada: o primeiro, via Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e o segundo, via Ministério do Esporte:

Uma investigação sobre os bastidores financeiros do filme Dark Horse, cinebiografia que retrata Jair Bolsonaro como herói e tem roteiro assinado pelo deputado federal Mario Frias (PL-SP), revela uma triangulação de recursos públicos envolvendo o parlamentar, uma organização não governamental e a produtora executiva do longa.
A conexão entre a verba pública e o projeto cinematográfico privado se dá através da figura de Karina Ferreira da Gama. Além de presidir a ONG beneficiada pelas emendas, Karina é a sócia-administradora da Go Up Entertainment Ltda, empresa que atua como braço executivo do filme.
Foi através da Go Up Entertaiment que a produção desembolsou R$ 125.921,36 para a Fundação Memorial da América Latina, órgão ligado ao Governo do Estado de São Paulo. Conforme publicado no Diário Oficial, o pagamento referiu-se ao aluguel do espaço (Auditório da Biblioteca e Praça da Sombra) para as filmagens realizadas entre 19 e 22 de novembro de 2025, das 8h às 22h.

Conexão Internacional
A estrutura empresarial se estende aos Estados Unidos. A Go Up possui uma empresa espelho constituída na Flórida, a Go Up Entertainment LLC. Registros corporativos norte-americanos confirmam que a sociedade é composta pela mesma Karina Ferreira da Gama ao lado de Michael Brian Davis. Davis é citado publicamente, inclusive em reportagens da revista Veja, como o produtor executivo de Dark Horse, fechando o ciclo de comando entre a operação brasileira e o financiamento externo.

Elo político
O vínculo de Mario Frias com esse núcleo empresarial é antigo. Na prestação de contas das eleições de 2022, a campanha do então candidato a deputado federal pagou R$ 54.000,00 à empresa GO7 Assessoria (nome fantasia da “Conhecer Brasil Assessoria Produção e MKT Cultural”) por serviços de campanha. A sócia-administradora desta empresa é, mais uma vez, Karina Ferreira da Gama.


A Rede de Financiamento de Projetos Culturais Ligados ao Bolsonarismo
A atuação de Karina Ferreira da Gama, como em projetos financiados por emendas parlamentares do PL, envolve mais uma entidade sob seu comando.
Em junho de 2024, um grupo de parlamentares bolsonaristas incluindo Alexandre Ramagem (PL-RJ), Carla Zambelli (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF) e Marcos Pollon (PL-MS) direcionou R$ 2,6 milhões em “emendas Pix” para a produção de uma série documental sobre a colonização do Brasil. Conforme revelado em reportagem do portal UOL, o valor foi destinado à Associação Nacional Cultural (ANC), uma entidade privada que também tem Karina Ferreira da Gama como presidente.
O elo criativo nesses projetos também se repete. O diretor contratado para a série sobre a colonização é Doriel Francisco da Silva, proprietário da Dori Filmes. Doriel já é conhecido por dirigir outro documentário sobre a trajetória de Jair Bolsonaro, intitulado “A Colisão dos Destinos”, uma produção que com argumento do próprio Mário Frias e do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

A parceria entre Doriel, Frias e outros deputados do PL se manifesta em um terceiro projeto financiado com dinheiro público. De acordo com o UOL, Eduardo Bolsonaro, Mário Frias e Marcos Pollon destinaram juntos R$ 860.896,00 para um documentário chamado “Genocidas”. Eduardo contribuiu com R$500, enquanto Frias e Pollon destinaram R$180 mil e R$100 mil, respectivamente. A produção deste filme foi realizada por ex-assessores de Frias, e o roteiro tem a assinatura do mesmo Doriel Francisco da Silva.
Confusões entre CNPJ’s
Em levantamento da reportagem, há também indícios de confusão patrimonial e operacional entre as empresas. Tanto a ONG que recebe verba pública (Instituto Conhecer Brasil) quanto a produtora do filme (Go Up Entertainment Ltda), a empresa de assessoria eleitoral e a Associação Nacional Cultural declaram o mesmo endereço e contato no dados cadastrais de constituição empresarial: Avenida Paulista, 807, Conjunto 2315, no bairro da Bela Vista, em São Paulo, compartilhando também o telefone fixo (11) 3924-6610.


Quem financia?
Em entrevista concedida ao programa Timeline, atração comandada por Luís Ernesto Lacombe e por Allan dos Santos, blogueiro foragido da Justiça brasileira, Mário Frias abriu detalhes sobre os bastidores do projeto. O deputado buscou minimizar os custos da produção, classificando o orçamento como “baixíssimo” se comparado aos padrões da indústria cinematográfica dos Estados Unidos, e evitou citar as cifras.
Sobre a origem do financiamento, Frias atribuiu a viabilidade do filme a uma rede de contatos internacionais que cultivou durante sua gestão na Secretaria Especial de Cultura do governo Bolsonaro. Segundo ele, o apoio veio de estrangeiros que comungam dos mesmos ideais conservadores. No entanto, sobre a identidade dos investidores do projeto, o parlamentar manteve o mistério, alegando que os nomes estão protegidos por cláusulas contratuais de sigilo.