A empresa chinesa UnionPay, apontada como a maior operadora de cartões do mundo, está prestes a desembarcar no Brasil.
A movimentação se mostra estratégica, e acontece no momento em que o presidente norte-americano Donald Trump discute impor mais sanções ao Brasil. Vale lembrar que duas das maiores bandeiras de cartões – Visa e Mastercard – são norte-americanas.
A chegada da gigante asiática está sendo viabilizada pela fintech brasileira Left (Liberdade Econômica em Fintech), que será responsável pela emissão dos cartões e pela integração da UnionPay com bancos, maquininhas e sistemas de pagamento. A função crédito, no entanto, deve ser lançada apenas no final do ano.
Em entrevista exclusiva ao Jornal GGN, o professor e financista José Kobori, que acaba de assumir uma vaga no conselho da fintech, afirma que nunca se sentiu motivado a voltar a atuar no mercado financeiro por tudo que passou, até conhecer de perto a proposta da fintech brasileira.
“Apesar da minha experiência, eu nunca quis voltar a atuar no mercado financeiro. Já tinha atingido o auge da minha carreira profissional quando sofri uma injustiça incomensurável que me fez repensar os valores das pessoas que atuam no mercado financeiro, nada mais me motivava nesse meio. Mas quando fui conhecer o trabalho da fintech Left, percebi que havia ali um verdadeiro propósito, uma intenção real de construir um banco progressista, um banco de esquerda”, afirma Kobori.
O financista explica que a chegada da UnionPay ao Brasil vai além da concorrência no setor de cartões. Trata-se de uma disputa estratégica no cenário global, com potencial para fortalecer a soberania financeira do país.

Redistribuição de receita para causas sociais
Kobori explica que a atuação da fintech ultrapassa a estrutura bancária tradicional, a começar pelo seu modelo de operação, que prevê a redistribuição direta de receita para movimentos sociais.
“Quando alguém se cadastra no banco, pode escolher quem quer ajudar, por exemplo, o MST ou outro movimento popular. A receita gerada por transações como o Pix ou o uso de cartão é parcialmente revertida para essas entidades. É uma estrutura pensada para apoiar, de fato, quem constrói transformação social”, explicou.
Kobori também enxerga a chegada da UnionPay como um movimento capaz de ajudar a fortalecer a soberania econômica, especialmente diante dos recentes ataques do governo Trump às exportações brasileiras.
“Quem vai sofrer são os americanos. Quem paga tarifa é o americano, não será o brasileiro. O Brasil pode até vender menos num primeiro momento, mas os Estados Unidos terão que consumir menos ou buscar outros fornecedores. No médio e longo prazo, o mundo vai se reequilibrar. E quem vai sair perdendo, no fim das contas, são eles”, avalia.
Apenas no último trimestre, a Visa teve um faturamento próximo a US$ 10 bilhões no Brasil. A UnionPay, por outro lado, detém 40% do mercado global de transações com cartões.
Além de ser uma nova opção para pagamentos, a UnionPay pode permitir que transações internacionais sejam feitas sem passar pelo dólar americano. Isso acontece porque ela está ligada a um sistema chinês chamado CIPS (Cross-Border Interbank Payment System), que é uma alternativa ao SWIFT, o sistema usado hoje no mundo todo para transferências bancárias internacionais.
Kobori também chama atenção para a pressão crescente dos Estados Unidos sobre o sistema de pagamentos brasileiro, tendo o Pix como alvo central dessa disputa, justamente o mecanismo que permitiu uma ampla inclusão bancária da população nos últimos anos.
“Esse ataque ao Pix é, na verdade, uma tentativa clara de manter o domínio do capitalismo financeiro americano dentro do Brasil. Visa, Mastercard e American Express faturam bilhões com essas transações por aqui, e não querem abrir mão dessa hegemonia”, ressalta Kobori.
