Brasil reduz déficit em conta corrente e atrai mais investimentos estrangeiros.
O Brasil registrou um déficit em conta corrente de US$ 1,347 bilhão em abril de 2025, uma melhora expressiva de 49% em comparação com o mesmo período do ano anterior, quando o déficit foi de US$ 2,644 bilhões. Os dados, divulgados pelo Banco Central, mostram uma tendência positiva na economia externa brasileira, com aumento nos investimentos estrangeiros e um robusto superávit comercial.
O resultado mensal surpreendeu positivamente o mercado, que esperava um déficit maior para abril. Quando analisamos o déficit acumulado em 12 meses até abril de 2025, o valor chega a US$ 68,5 bilhões, representando 3,22% do PIB brasileiro. Embora este percentual acumulado esteja acima do patamar considerado confortável por economistas (até 3% do PIB), a tendência de redução no déficit mensal indica uma possível reversão deste quadro nos próximos meses.

Investimentos estrangeiros em alta
Um dos destaques mais positivos foi o crescimento de 38% nos investimentos diretos no país, que atingiram US$ 5,5 bilhões em abril de 2025, comparado aos US$ 3,981 bilhões registrados no mesmo mês de 2024. Esse aumento reflete a confiança dos investidores internacionais na economia brasileira.
No acumulado de 12 meses até abril de 2025, os investimentos diretos no país totalizaram US$ 69,8 bilhões (3,29% do PIB), superando o déficit em conta corrente no mesmo período. Isso é um sinal positivo, pois indica que o país está conseguindo financiar seu déficit com investimentos produtivos de longo prazo.
“O crescimento nos investimentos estrangeiros é um sinal claro de que o Brasil está no radar dos investidores globais, que enxergam oportunidades de longo prazo no país”, explica Carlos Silva, economista especializado em contas externas.
Superávit comercial robusto
A balança comercial brasileira registrou um superávit de US$ 7,447 bilhões em abril de 2025, um dos maiores da série histórica para o mês. As exportações mantiveram-se fortes em US$ 30,629 bilhões, enquanto as importações somaram US$ 23,183 bilhões no mês.
Este resultado positivo da balança comercial tem sido fundamental para amenizar o déficit em conta corrente, compensando parcialmente os déficits em serviços e rendas.
Brasil em comparação com o mundo
Quando comparado com outras grandes economias, o Brasil apresenta uma posição que merece análise detalhada. O déficit em conta corrente brasileiro de 3,22% do PIB (acumulado em 12 meses até abril de 2025) está em patamar intermediário no cenário global.
Os Estados Unidos, maior economia do mundo, registraram um déficit em conta corrente de US$ 303,9 bilhões no quarto trimestre de 2024, equivalente a 3,7% do PIB americano no acumulado anual. Isso coloca os EUA em situação ligeiramente mais desafiadora que o Brasil em termos proporcionais.
A China continua sendo um caso à parte no cenário internacional, com um superávit recorde de US$ 165,6 bilhões apenas no primeiro trimestre de 2025, equivalente a 1% do PIB chinês. Este resultado foi impulsionado por um aumento significativo de 9,4% nas exportações, que atingiram US$ 825,9 bilhões, enquanto as importações caíram 6,6%, totalizando US$ 588,3 bilhões no trimestre.
América Latina: Argentina e México em destaque
Na América Latina, dois importantes parceiros comerciais do Brasil apresentam cenários distintos. A Argentina surpreendeu positivamente ao registrar um superávit em conta corrente de US$ 1,029 bilhão no quarto trimestre de 2024, uma reversão acentuada do déficit de US$ 2,671 bilhões observado no mesmo período do ano anterior. Este resultado foi impulsionado principalmente pelo aumento expressivo no superávit da balança comercial argentina, que saltou para US$ 4,88 bilhões no trimestre, contra US$ 0,82 bilhão no mesmo período de 2023.
A melhora nas contas externas argentinas ocorre em meio a um drástico programa de ajuste fiscal e monetário implementado pelo governo, que tem conseguido reduzir o déficit fiscal e estabilizar a taxa de câmbio, ainda que com custos sociais dramáticos.
Já o México, segunda maior economia da América Latina, registrou um déficit em conta corrente de US$ 7,61 bilhões no primeiro trimestre de 2025, uma melhora expressiva de 66% em comparação com o déficit de US$ 22,207 bilhões observado no mesmo período de 2024. Este resultado positivo foi impulsionado por um superávit na balança comercial de US$ 1,029 bilhão, revertendo o déficit de US$ 2,745 bilhões do ano anterior.
O México tem se beneficiado do processo de nearshoring (aproximação das cadeias produtivas) por parte de empresas americanas, que buscam reduzir sua dependência da China. Isso tem atraído investimentos significativos para o país, especialmente nos setores automotivo e de tecnologia, contribuindo para a melhora em suas contas externas.
Outros países relevantes
A Espanha mantém um superávit em conta corrente de € 2,31 bilhões em fevereiro de 2025 (dados mensais), equivalente a aproximadamente 0,5% do PIB espanhol em termos anualizados. Embora este resultado represente uma queda de 23% em relação ao mesmo mês de 2024, a Espanha continua em situação confortável, impulsionada principalmente pelo turismo.
A Índia, por outro lado, registrou um déficit em conta corrente de US$ 11,5 bilhões no quarto trimestre de 2024, representando aproximadamente 2% do PIB indiano em termos anualizados. Este resultado representa um aumento de 10% no déficit em comparação com o mesmo período de 2023, pressionado principalmente pelo aumento nas importações de petróleo.
Viagens internacionais: déficit menor
O déficit em viagens internacionais do Brasil também apresentou melhora, caindo para US$ 987 milhões em abril de 2025 (dado mensal), uma redução de 29% em relação ao mesmo mês de 2024, quando o déficit foi de US$ 766 milhões. Esse resultado reflete tanto um aumento no número de turistas estrangeiros visitando o Brasil quanto uma moderação nos gastos de brasileiros no exterior.
“O turismo internacional está se recuperando globalmente, e o Brasil começa a se beneficiar desse movimento, com mais visitantes estrangeiros atraídos pela desvalorização do real e pelas belezas naturais do país”, comenta Maria Fernandes, especialista em turismo internacional.
Perspectivas para o futuro
Especialistas projetam que o déficit em conta corrente mensal do Brasil deve se estabilizar nos próximos meses, com possibilidade de novas reduções caso o cenário externo permaneça favorável às exportações brasileiras. Isso poderia levar a uma gradual diminuição também no déficit acumulado em 12 meses como percentual do PIB.
O aumento consistente nos investimentos estrangeiros diretos é outro fator que traz otimismo, pois indica que o país consegue financiar seu déficit com capital produtivo de longo prazo, e não apenas com investimentos especulativos.
“O Brasil está em uma trajetória de maior equilíbrio externo, com déficits mensais menores e mais financiáveis. Isso reduz a vulnerabilidade da economia a choques externos e contribui para a estabilidade macroeconômica”, conclui Silva.
A combinação de déficit mensal em conta corrente em queda, investimentos estrangeiros em alta e um forte superávit comercial coloca o Brasil em posição relativamente confortável no cenário internacional, especialmente quando comparado a outras economias emergentes e até mesmo a algumas economias desenvolvidas.