O mundo está mudando.

O eixo de desenvolvimento está girando não apenas para a Ásia, mas também para a África, o continente que mais cresce no mundo em termos de população e que, em breve, deve experimentar um boom econômico. Um exemplo emblemático é a Nigéria, que alguns organismos internacionais preveem que será uma das maiores economias do mundo em alguns anos.

Neste cenário de transformação global, o Brasil vem aumentando sua corrente de comércio com a nação africana de maneira impressionante nos últimos anos, registrando um crescimento de 78,8% entre 2021 e 2025.

A evolução das relações comerciais entre Brasil e Nigéria reflete uma tendência geopolítica mais ampla, na qual as economias emergentes fortalecem seus laços comerciais e diplomáticos, reduzindo a dependência tradicional dos mercados desenvolvidos. Esta parceria estratégica ganha ainda mais relevância quando consideramos que a Nigéria, com seus 232,7 milhões de habitantes, representa não apenas o país mais populoso da África, mas também a sexta maior população mundial.

A Nigéria como potência emergente

As projeções econômicas para a Nigéria são verdadeiramente impressionantes. Segundo análises do Goldman Sachs, o país africano deve se tornar a quinta maior economia mundial até 2075, ultrapassando nações tradicionais como Brasil, França, Itália e Canadá. Mais otimista ainda, o World Economic Forum projeta que o PIB nigeriano pode atingir US$ 4,348 trilhões até 2050, com um PIB per capita de US$ 11.533 e uma população estimada em 377 milhões de habitantes.

Atualmente, a Nigéria ocupa a 58ª posição no ranking mundial de PIB, com US$ 379,13 bilhões em 2024, representando 0,34% da economia global. Embora estes números possam parecer modestos, o potencial de crescimento é extraordinário quando consideramos os fatores demográficos e os recursos naturais abundantes do país.

O principal motor deste crescimento projetado é a demografia favorável. Enquanto grande parte do mundo desenvolvido enfrenta o envelhecimento populacional, a Nigéria possui uma população jovem e em expansão, com taxa de crescimento de 2,10% ao ano. Esta vantagem demográfica, combinada com as vastas reservas de petróleo e gás natural, posiciona o país como um dos principais candidatos a se tornar uma superpotência econômica nas próximas décadas.

Comércio bilateral em ascensão meteórica

Os números do comércio bilateral entre Brasil e Nigéria revelam uma trajetória de crescimento notável. A corrente de comércio, que mede o total de exportações e importações entre os dois países, saltou de US$ 1,21 bilhão em 2021 para US$ 2,17 bilhões em 2025, representando um crescimento de 78,8% em apenas quatro anos.

Este crescimento não foi linear. O pico foi atingido em 2023, quando a corrente comercial alcançou US$ 2,76 bilhões, seguido por uma retração em 2024 para US$ 1,85 bilhão, antes de se recuperar em 2025. Esta volatilidade reflete tanto as flutuações nos preços das commodities quanto os ajustes nas políticas econômicas de ambos os países.

As exportações brasileiras para a Nigéria cresceram 60,7% no período analisado, passando de US$ 682,1 milhões em 2021 para US$ 1,096 bilhão em 2025. Ainda mais impressionante foi o crescimento das importações brasileiras de produtos nigerianos, que mais do que dobraram no período, registrando alta de 102,2%, de US$ 529,7 milhões para US$ 1,071 bilhão.

Açúcar brasileiro conquista mercado nigeriano

A pauta exportadora brasileira para a Nigéria é dominada pelos açúcares e preparações açucareiras, que representaram US$ 656,2 milhões em 2025, equivalentes a 59,9% do total exportado. Este produto se consolidou como o principal item da agenda comercial bilateral, refletindo tanto a competitividade do setor sucroenergético brasileiro quanto a crescente demanda do mercado nigeriano.

O segundo item mais importante nas exportações brasileiras são os produtos petrolíferos, que movimentaram US$ 154,9 milhões em 2025, representando 14,1% do total. Esta categoria ganhou relevância significativa nos últimos anos, saltando de praticamente zero em 2019 para se tornar um dos principais produtos exportados.

Cereais e preparações ocupam a terceira posição, com US$ 67,4 milhões (6,1%), seguidos pelos produtos químicos orgânicos, com US$ 56,0 milhões (5,1%). O quinto lugar é ocupado por material de transporte, que movimentou US$ 28,4 milhões (2,6%), demonstrando a diversificação crescente da pauta exportadora brasileira.

Fertilizantes nigerianos abastecem agricultura brasileira

Do lado das importações, o Brasil depende significativamente dos fertilizantes nigerianos, que representaram US$ 595,5 milhões em 2025, equivalentes a 55,6% do total dos produtos nigerianos importados pelo Brasil. Esta dependência reflete a importância estratégica da Nigéria para o agronegócio brasileiro, especialmente em um contexto global de escassez e volatilidade nos preços dos fertilizantes.

O petróleo e produtos petrolíferos nigerianos ocupam a segunda posição nas importações brasileiras, com US$ 455,9 milhões (42,6%). Juntos, fertilizantes e petróleo representam mais de 98% de tudo que o Brasil importa da Nigéria, evidenciando a concentração da pauta importadora em commodities essenciais.

Os demais produtos importados incluem fibras têxteis (US$ 9,3 milhões), minerais não metálicos (US$ 4,1 milhões) e couro e peles (US$ 2,6 milhões), representando volumes ainda modestos mas com potencial de crescimento.

Missão Alckmin fortalece laços diplomáticos

A importância crescente da parceria Brasil-Nigéria foi reforçada pela missão oficial liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin em junho de 2025. A viagem, organizada pelos ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), das Relações Exteriores (MRE) e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), teve como objetivo ampliar as parcerias econômicas e institucionais entre os dois países.

Durante a missão, Alckmin presidiu, ao lado do vice-presidente nigeriano Kashim Shettima, a 2ª Reunião do Mecanismo de Diálogo Estratégico Brasil-Nigéria. Este mecanismo, criado em 2013, é composto por sete grupos de trabalho que abrangem áreas como comércio e investimentos, agricultura, defesa, cooperação jurídica, energia e mudança climática, cultura, educação, ciência, tecnologia e saúde, além de política externa.

A agenda incluiu ainda reuniões bilaterais com autoridades governamentais e lideranças empresariais, culminando no Fórum Empresarial Brasil-Nigéria, que reuniu empresários dos dois países para discutir oportunidades de negócios e investimentos. A presença da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) na comitiva destacou também a dimensão cultural e histórica das relações entre os dois países.

Desafios e oportunidades no horizonte

Apesar do crescimento impressionante do comércio bilateral, a Nigéria enfrenta desafios estruturais significativos que podem impactar suas perspectivas de crescimento. O país convive com extrema desigualdade social, com 112 milhões de pessoas vivendo em pobreza e 5 milhões enfrentando fome, enquanto os cinco homens mais ricos acumulam US$ 29,9 bilhões.

A corrupção sistêmica representa outro obstáculo importante. Estima-se que US$ 20 trilhões foram desviados do tesouro nigeriano entre 1960 e 2005, valor superior ao PIB dos Estados Unidos em 2012. O atual presidente, Bola Tinubu, tem implementado reformas anticorrupção, incluindo a prisão de altos funcionários, mas os resultados ainda são incipientes.

O desemprego juvenil, que atinge entre 12,1% e 21,5% dos jovens, e a infraestrutura deficiente também representam gargalos para o desenvolvimento econômico. Apenas 6,5% do orçamento nacional é destinado à educação e 3,5% à saúde, resultando em 57 milhões de nigerianos sem acesso à água potável e mais de 10 milhões de crianças fora da escola.

Perspectivas promissoras para o futuro

Apesar dos desafios, as perspectivas para o aprofundamento das relações comerciais entre Brasil e Nigéria são altamente promissoras. A complementaridade das economias é evidente: enquanto o Brasil oferece produtos agrícolas processados, tecnologia e manufaturados, a Nigéria fornece matérias-primas essenciais como fertilizantes e petróleo.

O crescimento populacional nigeriano, que deve atingir 377 milhões de habitantes até 2050, criará um mercado consumidor gigantesco para produtos brasileiros. Simultaneamente, a urbanização acelerada e o desenvolvimento da classe média nigeriana ampliarão a demanda por produtos de maior valor agregado.

A posição geográfica estratégica da Nigéria, como porta de entrada para o mercado da África Ocidental, oferece ao Brasil a oportunidade de expandir sua presença em todo o continente africano. Com uma população combinada de mais de 400 milhões de habitantes, a região representa um dos últimos grandes mercados emergentes do mundo.

Para o Brasil, a parceria com a Nigéria também oferece diversificação geográfica de mercados e acesso a recursos naturais estratégicos. A dependência brasileira de fertilizantes nigerianos, embora represente um risco, também demonstra a importância desta parceria para a segurança alimentar nacional.

Conclusão: uma parceria estratégica para o século XXI

A evolução das relações comerciais entre Brasil e Nigéria representa mais do que simples números de comércio exterior. Trata-se de uma parceria estratégica entre duas das principais economias emergentes do hemisfério sul, unidas por laços históricos, culturais e pela visão comum de um mundo multipolar.

O crescimento de 78,8% na corrente comercial entre 2021 e 2025 é apenas o início de uma trajetória que pode transformar ambos os países em protagonistas da nova ordem econômica global. Enquanto a Nigéria caminha para se tornar uma das maiores economias mundiais, o Brasil tem a oportunidade de se posicionar como parceiro preferencial desta transformação.

O sucesso desta parceria dependerá da capacidade de ambos os países superarem seus desafios internos e aproveitarem as oportunidades criadas pela mudança do eixo econômico global. Para o Brasil, isso significa diversificar ainda mais sua pauta exportadora e investir em setores de maior valor agregado. Para a Nigéria, implica em acelerar as reformas estruturais necessárias para sustentar seu crescimento de longo prazo.

A missão do vice-presidente Alckmin representa um passo importante nesta direção, sinalizando o compromisso brasileiro com o aprofundamento desta parceria estratégica. Os próximos anos serão decisivos para determinar se esta relação comercial promissora se transformará em uma aliança duradoura capaz de beneficiar ambos os países e contribuir para a reconfiguração da economia global.

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Last Update: 24/06/2025