Veteranos das forças especiais britânicas revelaram à rede BBC na última quarta-feira (14), acusações graves de crimes de guerra cometidos por seus colegas durante operações no Iraque e no Afeganistão. As denúncias incluem execuções de civis, prisioneiros algemados e até uma criança, além da prática de plantar armas para encobrir os assassinatos.

As acusações, detalhadas no programa Panorama – Forças Especiais: Eu Vi Crimes de Guerra, abrangem mais de uma década, período superior ao investigado atualmente por uma comissão pública britânica, que analisa ações entre 2010 e 2013. Entre os relatos, ex-soldados descreveram assassinatos sistemáticos de prisioneiros algemados e de pessoas baleadas enquanto dormiam.

Um veterano da força de elite Serviço Aéreo Especial (SAS) relatou: “eles algemaram um menino jovem e o executaram. Ele era claramente uma criança, longe de estar em idade de combate”. As denúncias também apontam para uma unidade do SAS, chamada UKSF1, responsável por operações de detenção que resultaram em mais de 80 mortes, segundo advogados de famílias afegãs. Pela primeira vez, o Serviço de Embarcações Especiais (SBS), unidade de elite da Marinha Real, também foi implicado.

Os testemunhos sugerem um ambiente de impunidade, com soldados descritos como “sem lei” e com “traços psicopáticos graves”. Um inquérito público, iniciado em janeiro, já havia revelado a execução de meninos afegãos com menos de 16 anos pelo SAS em Helmand. Membro do Parlamento, o liberal-democrata Mike Martin, do comitê de defesa, afirmou:

“Essa é a mais recente de uma longa série de evidências que ouvimos sobre crimes de guerra cometidos por forças especiais britânicas no Afeganistão. Quando nos alistamos e servimos no exterior, fizemos isso exercendo julgamento legal e força de maneira legal, muitas vezes colocando-nos em perigo. Saber agora que soldados de elite estavam deliberadamente ignorando essas regras é uma decepção.”

O relator especial da ONU para os direitos humanos no Afeganistão Richard Bennett, destacou: “as alegações reforçam a necessidade de responsabilidade abrangente e justiça para as vítimas e suas famílias”. O Ministério da Defesa britânico declarou apoio total à investigação independente e pediu que qualquer prova, incluindo as do programa Panorama, seja apresentada à comissão e à polícia.

Um porta-voz do ex-primeiro-ministro David Cameron negou acusações de acobertamento, chamando-as de “total absurdo”. Desde 2001, as operações britânicas no Afeganistão e no Iraque deixaram milhares de mortos, com estimativas de até 100 mil civis mortos no Iraque, segundo a organização Iraq Body Count.

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Last Update: 15/05/2025