O ajudante de Ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, disse que a quantidade de pessoas, incluindo amigos e membros do governo de Jair Bolsonaro, que instigaram o ex-presidente a aplicar golpe de Estado “era muito grande“, que ele recebia mais de 100 chamadas e mensagens por dia com pedidos e “doideiras de tantas outras”. O número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, general Mario Fernandes, era um dos principais e revelou mensagem com Bolsonaro, combinando data de golpe: “qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro, tudo”.

“Eu recebia, por dia, mais de 100 chamadas (…) Tinha várias mensagens revoltosas, dizendo que tem que fazer alguma coisa [para reverter o processo eleitoral]”, disse Mauro Cid, em delação à Alexandre de Moraes.

Mauro Cid afirmou que os investigadores da Polícia Federal (PF) “talvez” não pegaram “tudo” o que havia de interessados e de envolvidos na tentativa de golpe de Estado.

“Eu falei na Polícia Federal, porque talvez não tenham pego tudo o que estava no meu celular, mas a quantidade de gente que tava instigando a fazer alguma coisa era muito grande. Até papéis, documentos, o pessoal mandava, ‘olha isso aqui’, ‘olha isso aqui’, ‘tem que fazer alguma coisa’. Era muita coisa”, narrou.

“Às vezes, uma informação pinçada no meio de 100, para mim era mais uma, mais uma doideira de tantas outras que eu recebi nesse período, porque eram várias”, continuou.

General assessor número 2 de Bolsonaro: “maluco”

Entre os principais incitadores do golpe de Estado, Mauro Cid deu destaque ao general Mario Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência de Jair Bolsonaro. Ele foi preso em Operação da Polícia Federal em novembro de 2024, quando Cid revelou mais detalhes sobre as tentativas de golpe de 2022.

No depoimento, o ajudante de Ordens de Jair Bolsonaro chegou a classificar Mario Fernandes como “maluco”. Segundo Cid, o general Mario Fernandes sempre esteve com “estímulo de incentivar e de pressionar o presidente a tomar alguma atitude”.

Em mensagens trocadas com ele, o general e assessor de Bolsonaro pediu, no dia 7 de dezembro, quando o então mandatário se encontrava com a Alta Cúpula das Forças Armadas [entenda sobre aqui], que Mauro Cid entrasse na reunião e mostrasse um vídeo, incitando o golpe.

A reunião de Jair Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas, naquele 7 de janeiro, foi comemorada pelo general Mauro Fernandes como um momento histórico: “Isso é história, é a história marcada por momentos como esse, que nós estamos vivendo agora.”

Mauro Cid contou a Moraes que não mostrou o vídeo, que seria inoportuno interromper a reunião de Bolsonaro com os comandantes para mostrar um vídeo. Ele narrou que, após o general e assessor do ex-presidente tomar conhecimento que o Exército e a Aeronáutica não aderiram ao plano do golpe, naquele encontro, ele ficou “indignado”.

“Quando acabou a reunião e, e foi dito: ‘Não, não vai ter nada, não vai ter nada, ninguém vai fazer nada’, o General Mário ficou mais indignado. Por isso que no outro dia, ele foi lá [no Palácio do Alvorada, conversar com Jair Bolsonaro].”

Reunião de Bolsonaro com Forças Armadas era esperada “por todo mundo”

Em seu depoimento, Cid descreveu o que chamou de “contexto” da reunião do dia 7 de dezembro como “uma reunião, obviamente, dessas reuniões dentro das Forças Armadas, que estava todo mundo esperando que ali essa era a decisão [o acerto para o golpe de Estado]. Que vai [aplicar o golpe], vai fazer agora, não vai fazer agora.”

A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) mostra outras provas de que o então número 2 da Secretaria-Geral da Presidência foi, pessoalmente, conversar com Jair Bolsonaro no dia seguinte, 8 de dezembro. Na delação, Cid confirmou que Fernandes foi visitar Bolsonaro.

Bolsonaro liberou golpe no dia da diplomação de Lula ou até 31 de dezembro

O general ex-secretário disse a Mauro Cid que eles conversaram sobre a data que seria aplicado o golpe de Estado. A mensagem foi apreendida no celular de Cid:

“Durante a conversa que eu [Mario Fernandes] tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do ‘vagabundo’ [presidente Lula], não seria uma restrição, que pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro, tudo.”

No depoimento, Cid confirmou a mensagem e confirmou que Fernandes esteve com Jair Bolsonaro no dia 8 de dezembro. “Ele esteve com o presidente e confirmo também que ele esteve sempre com aquele estímulo de incentivar e de pressionar o presidente a tomar alguma atitude.”

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Last Update: 20/02/2025