O ex-ministro da Defesa de Israel e atual parlamentar da oposição, Avigdor Lieberman, afirmou que o governo israelense está fornecendo armas a uma milícia jihadista ativa no sul da Faixa de Gaza. A declaração foi feita nesta quinta-feira, 5, durante entrevista à rádio pública Kan Bet.

Segundo Lieberman, o grupo beneficiado tem vínculos com o Estado Islâmico (ISIS) e estaria sendo armado com o objetivo de atuar como força de contenção ao Hamas, organização que governa Gaza desde 2007 e é considerada inimiga de Israel.

“Assim como Netanyahu apoiou o Hamas como contrapeso à Autoridade Palestina, agora está ajudando a estabelecer uma nova força armada como contrapeso ao Hamas”, afirmou Lieberman, referindo-se ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Em resposta, o gabinete do premiê divulgou nota em que afirma: “Israel está trabalhando para derrotar o Hamas de várias maneiras, por recomendação de todos os chefes do sistema de segurança”. O comunicado não faz menção direta às declarações de Lieberman nem aos supostos vínculos do novo grupo com o ISIS.

Na semana passada, duas fontes citadas pelo jornal israelense Haaretz indicaram que uma nova milícia começou a operar no sul da Faixa de Gaza. De acordo com os relatos, o grupo é liderado por Yasser Abu Shabab, figura conhecida na região e associada a uma influente família beduína da cidade de Rafah.

Vídeos compartilhados recentemente nas redes sociais mostram homens armados circulando em Gaza com equipamentos militares padrão, como coletes à prova de balas, capacetes e insígnias.

Em alguns casos, as imagens exibem símbolos como a bandeira da Palestina e um emblema com a inscrição “Serviço Antiterrorista”, em inglês e árabe.

Fontes locais ouvidas pelo Haaretz informaram que Abu Shabab já esteve detido em prisões controladas pelo Hamas, acusado de envolvimento em diversas atividades criminosas. Um episódio citado ocorreu no fim de 2024, quando ele e seus homens foram responsabilizados por saques de ajuda humanitária no sul de Gaza.

Na época, em entrevista ao The Washington Post, Abu Shabab não negou completamente as acusações. “Nosso grupo evitou levar comida, barracas ou suprimentos destinados a crianças”, declarou, sem fornecer mais detalhes sobre a operação.

Durante a entrevista desta quinta-feira, Lieberman associou diretamente a milícia liderada por Abu Shabab a grupos jihadistas. “O clã Hamasha é, em essência, criminosos sem lei que, nos últimos anos, quiseram dar a si mesmos uma perspectiva ou interpretação ideológica, então se tornaram salafistas [jihadistas] e começaram a se identificar com o ISIS”, disse.

Ainda segundo o ex-ministro, o governo israelense estaria fornecendo armas leves e rifles de assalto ao grupo. Ele alertou para o risco de que esse armamento seja posteriormente utilizado contra Israel. “No final das contas, essas armas serão usadas contra nós”, afirmou.

A revelação acontece em meio ao prolongado conflito entre Israel e o Hamas, intensificado após os ataques de outubro de 2023 e as subsequentes operações militares israelenses em Gaza.

A criação ou fortalecimento de milícias paralelas dentro do território palestino é vista por analistas como parte de estratégias alternativas de contenção do Hamas, mas gera questionamentos sobre os riscos de fragmentação do controle militar e a proliferação de grupos armados com agendas independentes.

Até o momento, não houve posicionamento das Forças de Defesa de Israel (IDF) ou do Ministério da Defesa sobre as alegações específicas feitas por Lieberman. Também não há confirmação oficial sobre o fornecimento de armas ao grupo liderado por Abu Shabab.

O envolvimento de milícias locais com pautas jihadistas tem sido documentado em diferentes regiões de Gaza, especialmente diante do vácuo de poder em áreas onde o Hamas enfrenta resistência ou perda de controle. Contudo, a atribuição de vínculos diretos com o ISIS ainda é tema de controvérsia e nem sempre respaldada por provas documentais.

O caso reforça a tensão entre governo e oposição em Israel, especialmente em relação à condução das operações na Faixa de Gaza e à gestão das ameaças à segurança nacional. Lieberman, que já foi titular da Defesa e ministro das Relações Exteriores, tem sido um crítico frequente das políticas de Netanyahu no front palestino.

A entrevista do parlamentar ocorre em um contexto de críticas internas à condução da guerra em Gaza e diante de pressões internacionais por soluções políticas duradouras. A revelação de suposto apoio a uma facção jihadista adiciona novos elementos ao debate sobre os rumos da política de segurança israelense e suas implicações regionais.

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Last Update: 05/06/2025