Mão segurando arma
Imagem ilustrativa – Agência Brasil

Ex-membros do governo dos Estados Unidos alertaram que a eventual classificação do PCC (Primeiro Comando da Capital) e de outros grupos criminosos brasileiros como organizações terroristas pode abrir caminho para sanções econômicas e diplomáticas contra o Brasil. A advertência foi feita durante o 2º Seminário Internacional sobre Segurança Pública, Direitos Humanos e Democracia, realizado nesta quinta-feira (29) em São Paulo.

Segundo a coluna de Jamil Chade no UOL, delegações dos Estados Unidos têm pressionado o Brasil a adotar a classificação de terrorismo para o crime organizado, proposta rejeitada pelo governo Lula. A ideia, no entanto, encontra apoio entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), alinhados à política de segurança do presidente americano Donald Trump.

Nicholas Zimmerman, ex-conselheiro de segurança da Casa Branca e especialista em América Latina, destacou que, embora a adoção da proposta possa gerar benefícios de curto prazo nas relações com Washington, os riscos superam os ganhos: “Esse benefício de curto prazo não resultaria em mudanças reais no combate ao crime”.

Ele alertou que, no médio prazo, a reclassificação poderia complicar as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, ao alterar regras de cooperação internacional e abrir precedentes para novas exigências e controles.

Zimmerman também destacou a infiltração crescente do crime organizado na economia brasileira, o que poderia reforçar argumentos para aplicação de sanções por parte dos EUA. “As políticas de sanções dos EUA são claras e isso não parece ser uma receita para uma cooperação mais próxima”, concluiu.

Sombras de quatro pessoas na frente de muro pixado com a sigla do PCC
Muro pixado com a sigla do PCC – Reprodução

Outro alerta veio de Ricardo Zúñiga, ex-secretário do Departamento de Estado dos EUA. Para ele, a mudança na classificação do PCC alteraria radicalmente o enquadramento legal dessas organizações, afetando empresas, instituições financeiras e até pessoas físicas com vínculos diretos ou indiretos:

“A consequência dessa classificação é que uma organização deixar de ser criminosa e passa a ser terrorista, o que é um regime totalmente diferente. Isso tem um impacto em empresas, instituições e pessoas físicas. Isso altera totalmente”, explicou.

Zúñiga, que foi cônsul dos EUA em São Paulo, lembrou que, durante sua atuação no Brasil, recebeu relatórios indicando que mais da metade das armas usadas em homicídios no país vinham dos EUA. Para ele, ao classificar o PCC como grupo terrorista, o fornecimento de armas passaria a ser enquadrado como apoio ao terrorismo, aumentando a gravidade dos crimes.

“O fluxo de armas para o sul é um dos principais produtos que financiam grupos nos EUA. Antes, seria um crime. Agora, seria o apoio ao terrorismo. A mudança é profunda”, alertou.

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Last Update: 29/05/2025