O ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (PL), Anderson Torres, determinou o aumento das equipes de segurança nas ruas no segundo turno da eleição presidencial em 2022. A ideia era interferir no planejamento da Polícia Federal (PF), dificultando o acesso dos eleitores às urnas, visando prejudicar o deslocamento de potenciais eleitores do então candidato Lula (PT).

As informações foram reveladas nesta sexta-feira 24 pelo jornalista Aguirre Talento, do portal UOL, que teve acesso ao depoimento da ex-diretora de Inteligência do Ministério, Marília Alencar. Segundo a publicação, ela admitiu à PF a ação de Torres, que teria feito uma reunião com integrantes da pasta, da PF e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) logo após o primeiro turno.

A ideia era ampliar o contingente para o segundo turno, com especial foco no estado da Bahia, onde havia expectativa (mais tarde confirmada) de alta votação de Lula. Ainda segundo o depoimento ao qual o jornalista teve acesso, os agentes ficaram apenas de sobreaviso no primeiro turno, uma vez que as diárias dos policiais estavam congeladas. Já para o segundo turno, a proposta envolvia incrementar a atuação.

De acordo com a publicação, Torres teria reclamado do planejamento da PF, julgando que havia muita concentração em áreas próximas das capitais. A tentativa de interferência aconteceu pelo pedido de redistribuição dos agentes.

“Teve várias testemunhas sobre isso (…). Eu não vejo lógica de fazer isso sem uma determinação do ministro. A constatação é: ele, em vários momentos de outubro, falou sobre a preocupação, falava como o Diretor-Geral, tem nos autos sobre essa questão, tanto é que ele foi à Bahia e pediu para ser mandado o planejamento lá naquele momento para o superintendente”, disse a ex-diretora, segundo a matéria.

“E aí o ministro falou, ‘não, mas tem que aumentar o efetivo, tem que aumentar o efetivo’, não, ‘tem que ser 100%, eu quero todo mundo na rua’”, relatou Alencar, segundo o depoimento.

Na investigação sobre o caso, a PF concluiu que a distribuição ostensiva de policiais nas ruas, “em especial em locais próximos às sessões eleitorais”, constituiu um “ato de violência política” ordenado por Torres. 

A investigação foi concluída na última quinta-feira 23, indicando que o então ministro agiu para atrapalhar o fluxo de veículos e eleitores. Para chegar ao entendimento, a PF teve acesso a ordens, íntegras de reuniões e trocas de mensagens entre servidores. 

Ainda sobre o caso, a PF indiciou cinco pessoas – incluindo quatro ex-agentes da PRF – por suposto envolvimento na tentativa de impedir o deslocamento de eleitores. A defesa de Torres ainda não se manifestou sobre as informações divulgadas.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 24/01/2025