Ahmad al-Sharaa será o primeiro líder sírio a discursar na ONU desde 1967, apesar de sanções internacionais e histórico como militante extremista


Ahmad al-Sharaa, presidente de fato da Síria, deve se tornar o primeiro líder sírio a discursar na Assembleia Geral da ONU desde 1967. Segundo informou a Reuters neste domingo (25), citando uma autoridade síria, Sharaa participará da Semana de Alto Nível da Assembleia, prevista para começar em 22 de setembro em Nova York.

A viagem de Sharaa exigirá uma autorização especial, já que o presidente continua sob sanções internacionais devido à sua designação anterior como terrorista. O ministro das Relações Exteriores da Síria, Asaad al-Shibani, já havia dado um passo simbólico em abril, hasteando a nova bandeira do país na sede da ONU durante discurso no Conselho de Segurança.

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De militante a presidente

Sharaa, anteriormente conhecido como Abu Mohammad al-Julani, iniciou sua trajetória militante na Al-Qaeda no Iraque após a invasão americana em 2003. Libertado da prisão de Bucca pelo exército dos EUA, ele rapidamente ascendeu ao comando do Estado Islâmico em Mosul. Posteriormente, sob orientação de Abu Bakr al-Baghdadi, foi enviado à Síria para criar a Frente Nusra, braço da organização no país.

Durante esse período, a Frente Nusra recebeu apoio secreto de Estados Unidos, Reino Unido, Israel e agências de inteligência regionais, como parte dos esforços para derrubar o ex-presidente Bashar al-Assad. Sharaa se tornou conhecido por operações extremas, incluindo o envio de carros e homens-bomba para matar civis no Iraque e na Síria.

Em 2017, porém, a inteligência britânica começou um processo de reformulação da imagem de Sharaa, transformando-o de terrorista notório, associado ao genocídio de minorias, em um líder político com perfil mais moderado.

Ascensão ao poder

Com a deposição de Assad em dezembro de 2024, Sharaa assumiu o controle em Damasco. A Frente Nusra, renomeada como Hayat Tahrir al-Sham (HTS), formou a base das novas forças de segurança da Síria. Desde então, seu governo recebeu rapidamente apoio de governos ocidentais e do Golfo, incluindo EUA, Grã-Bretanha, França, Turquia, Arábia Saudita e Catar.

Nos últimos anos, Sharaa manteve encontros diplomáticos com líderes internacionais de destaque, como o ex-presidente dos EUA Donald Trump, o príncipe herdeiro saudita Mohammad bin Salman, o presidente francês Emmanuel Macron e o presidente turco Recep Tayyip Erdogan.

Violações e massacres

Apesar do reconhecimento internacional, o governo de Sharaa tem sido marcado por graves violações de direitos humanos. Suas forças de segurança, dominadas por combatentes sunitas, têm realizado massacres contra comunidades alauítas e drusas. Em março, mais de 1.600 civis alauítas foram mortos na costa síria por motivos religiosos. Em julho, na província de Suwayda, no sul do país, mais de 1.000 drusos, incluindo oito crianças e 30 mulheres, foram mortos em ataques coordenados por forças de Sharaa e aliados.

Um momento histórico

A participação de Sharaa na Assembleia Geral marca um momento sem precedentes na diplomacia síria. Apesar do histórico de militância e violência, sua ascensão ao poder e a adoção pelo Ocidente e aliados do Golfo refletem mudanças profundas na política regional e no equilíbrio de forças no Oriente Médio. O discurso de Sharaa em setembro será acompanhado de perto, tanto por líderes mundiais quanto por analistas, atentos à mensagem que o ex-comandante da Al-Qaeda pretende transmitir à comunidade internacional.

Com informações de The Cradle*

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Last Update: 26/08/2025