O governo dos Estados Unidos recuou parcialmente em sua política tarifária e retirou a cobrança de 10% sobre a celulose importada do Brasil. A decisão, publicada em ordem executiva na sexta-feira (5), é resultado da pressão de clientes e fornecedores norte-americanos que dependem do insumo para a produção de papel, fraldas e absorventes.

A celulose já havia sido excluída da sobretaxa adicional de 40% em vigor desde agosto. Com o novo decreto, também ficará fora da chamada tarifa recíproca de 10%, criada em abril como parte do tarifaço de Donald Trump contra aliados e rivais. 

A medida atinge três códigos tarifários (categorias de celulose) do comércio exterior, que respondem por 90% das exportações brasileiras do produto aos EUA.

Em 2024, o Brasil exportou 2,8 milhões de toneladas de celulose para os EUA, cerca de 15% de suas vendas externas no setor. O país é o maior fornecedor mundial, com destaque para a celulose de fibra curta, utilizada na produção de papel branco e na indústria de higiene.

Apesar da retirada da tarifa, outros segmentos seguem afetados. Papéis em geral e painéis de madeira continuam submetidos a alíquotas de 50%. Entre janeiro e maio, as exportações brasileiras para os EUA caíram 15,2% em valor e 8,5% em volume, reflexo das barreiras comerciais impostas pelo governo Trump.

A retirada da tarifa ocorre após meses de pressão diplomática brasileira. O Itamaraty vinha apresentando em fóruns multilaterais e em contatos bilaterais o argumento de que o tarifaço de Trump feria princípios básicos do comércio internacional e penalizava setores em que o Brasil é fornecedor estratégico. 

Essa linha de atuação foi acompanhada pela defesa pública do presidente Luiz Inácio Lula da Silva da soberania nacional frente às medidas unilaterais norte-americanas.

O recuo da Casa Branca também expõe a contradição da política tarifária de Trump.

Ao mesmo tempo em que amplia barreiras contra países em desenvolvimento e até contra aliados estratégicos, o governo dos EUA é forçado a abrir exceções quando seus próprios setores produtivos ficam em risco. 

No caso da celulose, a dependência da indústria norte-americana de insumos importados deixou claro que o protecionismo era insustentável.

Ainda que a decisão alivie parte das perdas recentes, o cenário segue adverso. Produtos como papéis e painéis de madeira continuam submetidos a tarifas de 50%, e as estatísticas comerciais mostram que o efeito do tarifaço sobre a corrente de comércio permanece negativo. 

Para o Brasil, a disputa reforça a necessidade de diversificação de mercados e da defesa de regras multilaterais, numa conjuntura em que os Estados Unidos utilizam barreiras como instrumento de pressão política.

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Last Update: 11/09/2025