EUA podem repetir “erro do Vietnã” ao atacar Venezuela, alerta Amorim

Um eventual ataque militar dos Estados Unidos à Venezuela poderia mergulhar a América Latina em um conflito prolongado, de gravidade comparável à guerra do Vietnã.

O alerta é do diplomata Celso Amorim, conselheiro de política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista ao jornal britânico The Guardian.

Para Amorim, a decisão americana de fechar o espaço aéreo venezuelano e as escaladas recentes — naval, aérea e de pressão diplomática — devem ser compreendidas não como retaliações pontuais, mas como atos de guerra.

“Se houver invasão real … sem dúvida veríamos algo semelhante ao Vietnã,” disse o diplomata, alertando que o conflito dificilmente se limitaria a Caracas ou a um confronto bilateral, mas poderia provocar reações em cadeia em toda a região.

Por que o risco de uma guerra regional

Relatos indicam que as ações recentes atribuídas aos EUA envolvem o maior desdobramento naval no Caribe desde a crise dos mísseis de 1962, ataques a embarcações acusadas de tráfico de drogas e bloqueio total do espaço aéreo da Venezuela.

Para Celso Amorim, esse conjunto não deve ser visto como mera retórica ou política de pressão, mas como parte de um plano potencial de intervenção direta.

Um ataque desse tipo poderia desencadear resistência violenta: civis, milícias, forças paramilitares e até opositores do governo — temerosos de ingerência externa — poderiam se unir em defesa da soberania nacional.

Além disso, a intervenção poderia reacender o sentimento antiamericano que muitos países latino-americanos cultivam desde a Guerra Fria, ampliando o conflito para além das fronteiras venezuelanas.

Alternativas e uma proposta de saída negociada

Apesar da dureza do recado, Amorim defende que a crise deve ser resolvida por meios diplomáticos: ele propõe reabrir um canal de diálogo, possivelmente com um referendo revogatório como mecanismo para pacificar disputas eleitorais e políticas na Venezuela, evitando assim uma escalada militar de consequências imprevisíveis.

O ex-ministro argumenta que a imposição de regime por intervenção externa, além de ferir a autodeterminação venezuelana, abriria um precedente perigoso para toda a região — algo que o Brasil, segundo ele, não está disposto a aceitar.

Artigo Anterior

Congresso Nacional dos Jornalistas debate desafios da profissão na era digital

Próximo Artigo

Mulheres dependentes de álcool terão assistência especializada no SUS

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!