A pouco mais de uma semana do fim do prazo para negociações bilaterais, o governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, ainda não respondeu à proposta comercial apresentada pelo Brasil. Segundo apurou o jornalista Jamil Chade, do portal UOL, uma delegação brasileira enviou há cerca de dez dias uma oferta formal à Casa Branca com sugestões de reciprocidade comercial entre os dois países – mas até agora, não obteve qualquer retorno.
A ausência de resposta pegou de surpresa não apenas o governo Lula (PT), como também representantes do setor privado brasileiro, que apostavam na possibilidade de um entendimento com os EUA. O silêncio da administração Trump, no entanto, reforça o clima de incerteza e preocupação em Brasília, especialmente diante do prazo apertado: até 9 de julho, Washington deve definir se aceita ou não rever as tarifas impostas a diversos parceiros.
A proposta brasileira busca abrir caminho para uma relação de troca justa entre os mercados. Em um dos pontos centrais da negociação, o Brasil sinalizou a possibilidade de reduzir a tarifa de 18% sobre o etanol americano, uma das principais reclamações dos EUA. Em contrapartida, o Planalto pediu a abertura do mercado americano ao açúcar brasileiro.
Outro argumento apresentado pelo governo Lula é que os EUA mantêm superávit comercial com o Brasil, e, portanto, qualquer medida de reciprocidade deveria contemplar também os interesses dos exportadores brasileiros.
Ministros como Fernando Haddad (Fazenda), Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Mauro Vieira (Relações Exteriores) chegaram a tratar do assunto com interlocutores da administração Trump, sem progresso.
Tarifas e retaliações
Desde 2 de abril, o governo Trump passou a aplicar tarifas comerciais a dezenas de países, sob o argumento de que esses parceiros impõem barreiras injustas aos produtos americanos. No caso do Brasil, foi fixada uma tarifa de 10%, que pode chegar a percentuais mais altos em setores específicos como autopeças e aço.
Na ocasião, a Casa Branca afirmou que aceitaria negociar caso os países afetados oferecessem maior acesso a seus mercados para produtos dos Estados Unidos. Foi nessa brecha que o Brasil atuou, apresentando a proposta de entendimento, hoje ignorada.
Enquanto o Brasil permanece sem resposta, os EUA fecharam um acordo provisório com o Reino Unido. O pacto atendeu setores estratégicos para os americanos, como o de etanol e aeronaves — áreas em que o Brasil também tem fortes interesses.