O governo dos Estados Unidos anunciou, nesta quinta-feira, 17, alterações na proposta de tarifas sobre navios construídos na China.
A revisão, liderada pelo Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR), reduz o escopo das taxas originalmente planejadas pelo governo do presidente Donald Trump, após críticas de exportadores, operadores portuários e empresas do setor marítimo.
A decisão ocorre em meio a tensões comerciais com a China e tem como objetivo estimular a indústria naval americana.
A proposta inicial previa a cobrança de até US$ 1,5 milhão por cada escala em portos norte-americanos de embarcações construídas em estaleiros chineses.
Com a revisão, foram introduzidas isenções e ajustes nas cobranças. Segundo comunicado do USTR, as tarifas revisadas passam a vigorar a partir de 14 de outubro e serão aplicadas de forma escalonada nos próximos três anos.
Entre as principais alterações, estão as isenções para embarcações que operam exclusivamente em rotas domésticas dos Estados Unidos, incluindo o transporte entre portos nos Grandes Lagos, no Caribe e em territórios sob jurisdição americana. Também estarão isentos os navios que chegam vazios aos portos do país para carregamento de mercadorias destinadas à exportação, como trigo e soja.
Empresas de navegação norte-americanas que operam nessas rotas, como Matson e Seaboard Marine, estão entre as beneficiadas pelas novas regras. Com isso, parte do setor que havia demonstrado preocupação com os custos e possíveis impactos logísticos passa a contar com exceções nas tarifas.
As novas taxas variam conforme a propriedade e a origem da embarcação. Navios construídos e de propriedade chinesa pagarão inicialmente US$ 50 por tonelada líquida, valor que será acrescido de US$ 30 por ano nos dois anos seguintes.
Embarcações construídas na China, mas pertencentes a empresas de outros países, terão tarifa inicial de US$ 18 por tonelada líquida, com acréscimos anuais de US$ 5.
O representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, justificou a medida afirmando que o transporte marítimo é um componente estratégico da segurança econômica nacional.
“Navios e transporte marítimo são vitais para a segurança econômica americana e o livre fluxo do comércio. As ações do governo Trump começarão a reverter o domínio chinês, enfrentarão ameaças à cadeia de suprimentos dos EUA e enviarão um sinal de demanda por navios construídos nos EUA”, declarou.
A China, maior produtora global de navios, criticou publicamente a decisão. Autoridades chinesas argumentam que as tarifas podem gerar aumento nos custos logísticos internacionais e contribuir para pressões inflacionárias nos Estados Unidos. Atualmente, mais da metade da frota comercial global é construída em estaleiros chineses.
A medida norte-americana representa mais um episódio nas disputas comerciais entre os dois países, que envolvem setores estratégicos como tecnologia, energia e transporte.
O governo dos EUA defende que a adoção de tarifas sobre navios chineses faz parte de uma estratégia para reduzir a dependência da infraestrutura de transporte construída no país asiático.
Estudos internos do setor apontam que a indústria naval americana produz, em média, cinco navios por ano, número considerado insuficiente para atender à demanda do mercado doméstico.
Analistas avaliam que a imposição de tarifas, embora represente um incentivo à indústria nacional, não será suficiente por si só para garantir a reestruturação do setor. O processo exigirá investimentos em tecnologia, mão de obra especializada e modernização de estaleiros.
A introdução das tarifas será acompanhada de perto por representantes do comércio exterior e cadeias produtivas. Exportadores e importadores alertam para possíveis impactos sobre os custos logísticos e a disponibilidade de embarcações, especialmente em mercados que dependem de rotas internacionais operadas por navios construídos na China.
As autoridades norte-americanas afirmaram que os efeitos da nova política tarifária serão monitorados e ajustados conforme necessário. Representantes do setor portuário e logístico aguardam detalhes sobre a regulamentação da cobrança e o processo de solicitação de isenções adicionais.
A flexibilização da proposta inicial é vista como uma tentativa de equilibrar os objetivos estratégicos de reindustrialização com a necessidade de preservar a fluidez das operações comerciais.
Ao mesmo tempo, insere um novo elemento nas negociações comerciais com Pequim, que já enfrentam impasses em temas como propriedade intelectual, subsídios industriais e acesso a mercados.
Com a entrada em vigor prevista para outubro, os próximos meses devem ser marcados por movimentações de empresas e governos para adequação às novas exigências. A medida, segundo fontes do setor, também pode influenciar decisões de investimento em construção naval nos Estados Unidos e em países aliados.
A posição final do governo norte-americano, com isenções e aplicação gradual das tarifas, indica a tentativa de preservar o comércio exterior sem abandonar a diretriz de fortalecimento da indústria nacional. Ainda assim, os efeitos sobre as cadeias globais e as relações com a China permanecem incertos.