O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos aumentou sua estimativa de endividamento federal para o trimestre atual, alertando que precisará contrair US$ 514 bilhões em novas dívidas entre abril e junho — mais do que o quadruplicado dos US$ 123 bilhões que havia projetado em fevereiro. O motivo principal é que o governo iniciou o trimestre com menos dinheiro em caixa do que o previsto, consequência direta da não elevação do teto da dívida pelo Congresso.

Em comunicado nesta segunda-feira, o Tesouro explicou que, ao fazer suas projeções em fevereiro, havia assumido que o teto da dívida — que voltou a vigorar em janeiro — seria elevado ou suspenso. Como isso ainda não aconteceu, o governo ficou impedido de emitir novos títulos líquidos, ou seja, não pode contrair dívidas líquidas adicionais até que o teto seja ajustado.

Em fevereiro, a previsão era de que o governo encerraria março com US$ 850 bilhões em caixa. Mas na prática, o valor real ficou em torno de US$ 406 bilhões — quase metade do projetado. Ainda assim, o Tesouro manteve a meta de chegar a junho com US$ 850 bilhões em caixa, assumindo que o teto da dívida será resolvido a tempo.

“O novo número de endividamento só é tão alto porque começamos o trimestre com menos dinheiro do que o previsto. Sem esse problema inicial, a projeção atual de endividamento seria US$ 53 bilhões menor do que a divulgada em fevereiro”, afirmou o Tesouro.

O economista sênior da Wrightson ICAP, Lou Crandall, destacou que a estimativa anterior foi feita antes de o presidente Donald Trump anunciar tarifas inéditas sobre importações. A receita extra obtida com essas tarifas pode estar influenciando a maneira como o Tesouro administra seu caixa, escreveu Crandall em uma nota.

As expectativas do mercado para a nova estimativa de endividamento variavam bastante devido à incerteza política. Crandall previa um aumento se o Tesouro mantivesse a “suposição irrealista” de que o saldo de caixa voltaria a US$ 850 bilhões até o fim de junho.

Já analistas do JPMorgan Chase & Co. esperavam um valor bem mais baixo: US$ 255 bilhões em endividamento líquido, com uma previsão de US$ 300 bilhões em caixa no encerramento do trimestre. Ou seja, bem distante da projeção oficial.

Vale lembrar: o teto da dívida foi reativado em janeiro. Enquanto ele não for suspenso ou elevado, o Tesouro é legalmente impedido de tomar novos empréstimos líquidos, e terá que se virar com os recursos em caixa — que estavam em US$ 563 bilhões na última quinta-feira.

O governo também divulgou projeções para o trimestre de julho a setembro: pretende emitir US$ 554 bilhões em novas dívidas líquidas, esperando terminar setembro com US$ 850 bilhões em caixa — novamente sob a condição de que o impasse do teto seja resolvido.

Na próxima quarta-feira, o Tesouro divulgará seu plano de venda de notas e títulos para os próximos meses. O mercado aposta que o cronograma deve permanecer sem alterações.

Alguns analistas, incluindo Crandall, cogitam que o Tesouro possa rever sua política de caixa, reduzindo o volume de reservas mantidas atualmente, o que tornaria o endividamento menos pressionado.

Questionado sobre como uma eventual mudança nessa política seria anunciada, um funcionário do Tesouro lembrou que, em 2015, um ajuste similar foi comunicado por meio do informe trimestral de reembolsos. Segundo ele, esse canal seguiria como o mais provável em caso de novas mudanças.

Alex Harris
28 de abril de 2025
Bloomberg

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Last Update: 29/04/2025