No início de junho, manifestantes nos Estados Unidos se enfrentaram contra o ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas, na sigla em inglês), a polícia e contra tropas da Guarda Nacional em Los Angeles, no estado da Califórnia.
As batidas massivas do ICE em Los Angeles, ocorridas em 6 de junho, foram o estopim de uma nova fase de repressão anti-imigrante e autoritária. Com o objetivo de alcançar 3 mil deportações diárias, o governo Trump passou a conduzir operações em massa contra trabalhadores, adotando perfis raciais que têm os latinos como alvo preferencial.
As batidas em Los Angeles pretendiam intimidar um reduto histórico da luta imigrante, mas tiveram efeito oposto: geraram protestos imediatos com expressiva adesão sindical. Centenas enfrentaram os agentes do ICE nos confrontos, resultando na detenção de David Huerta, presidente da SEIU Califórnia (Service Employees International Union California, um dos maiores e mais influentes sindicatos dos Estados Unidos, com foco em trabalhadores de serviços) e de pelo menos 44 outros manifestantes.
Os protestos ganharam mais força nos dias seguintes e prosseguiram ao longo do final de semana. Em resposta, Trump e seu governo culparam os governos de Los Angeles e da Califórnia por não agirem, e disseram que o ICE estava enfrentando uma “rebelião” de imigrantes ilegais e gangues. Tropas da Guarda Nacional foram enviadas à cidade e fuzileiros navais foram postos em alerta máximo.

Foto Democracy Now
Repressão policial
Diante do desafio e cientes da oposição massiva da população californiana ao ICE, o governador Gavin Newsom e a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, denunciaram as medidas de Trump e criticaram as batidas e repressões contra manifestantes. Contudo, foram as próprias forças policiais do estado que também reprimiram violentamente os protestos. Uma cena emblemática foi o caso da jornalista Lauren Tomasi, atingida na perna por uma bala de borracha durante transmissão ao vivo da 9News – o disparo foi efetuado pela própria polícia de Los Angeles.
O envio de 2 mil membros da Guarda Nacional contra as manifestações aumentou a indignação contra Trump em todo o país, e novos protestos foram marcados para 14 de junho, o chamado “Dia sem Reis”.
O ‘Dia Sem Reis’
Centenas de milhares de manifestantes saíram às ruas dos Estados Unidos contra Trump e sua política racista de imigração no último sábado, dia 14. Os protestos, batizados de No Kings Day (“Dia Sem Reis”), surgiram como resposta às políticas autoritárias e racistas contra os imigrantes, mas também como contraponto simbólico às celebrações presidenciais. Cada vez mais megalomaníaco, Trump resolveu comemorar seus 79 anos de idade com uma parada militar por ele organizada na capital Washington. A festança custou US$ 45 milhões. Vale recordar que os desfiles militares nos Estados Unidos são raros. O último aconteceu em 1991, quando soldados desfilaram após a primeira Guerra do Golfo.

Protesto em frente ao Capitólio no “Dia sem Reis”, no dia 14 de junho
Os protestos ocorreram em aproximadamente duas mil cidades em todos os 50 estados do país. Milhões de trabalhadores, jovens, latinos, negros, imigrantes e ativistas anticapitalistas mostraram a força da resistência popular contra o imperialismo e a extrema direita.
Os protestos evidenciaram significativa participação de outras causas: bandeiras palestinas e o apoio a Gaza surgiram em peso junto às bandeiras mexicanas. Um sinal claro de que os manifestantes vinculam o imperialismo externo dos EUA à repressão dentro do país.
HAPPENING NOW: A HUGE crowd of protesters are marching through the streets of Dallas, Texas for a “No Kings Day” protest against Donald Trump (Video: @NBCDFW) pic.twitter.com/mrDYf3U7D2
— Marco Foster (@MarcoFoster_) June 14, 2025
Mais de 100 mil em Nova York
Em Nova York, foram mais de 100 mil manifestantes na Quinta Avenida, em Manhattan. Atos com dezenas de milhares aconteceram ainda em cidades como Filadélfia, Los Angeles, San Diego, São Francisco, Atlanta e Minneapolis. Cerca de mil manifestantes estiveram na porta da mansão de Trump em Mar-a-Lago, na Flórida.
Houve repressão policial, especialmente em manifestações que ocorreram em bairros de maioria hispânica, e também por parte de prefeituras democratas, como em Los Angeles, onde a cavalaria atirou bombas de gás lacrimogêneo.
Ron DeSantis incita atropelamento de manifestantes
Em São Francisco e na Virgínia, apoiadores de Trump atropelaram manifestantes com seus carros, deixando 5 feridos. Sem dúvida se sentem mais à vontade para fazer isso depois não só das ameaças de violência de Trump, como da declaração do reacionário governador da Flórida, Ron DeSantis, que defendeu, quatro dias antes dos protestos, o direito de motoristas atropelarem manifestantes. “Temos também uma política que diz que, se você estiver dirigindo em uma rua e uma multidão se aproximar e cercar seu veículo, ameaçando você, tem o direito de fugir para garantir sua segurança. Se você sair dirigindo e acabar atingindo uma dessas pessoas, a culpa é delas por invadirem seu espaço”, disse o governador republicano.
No dia dos protestos, a congressista estadual Melissa Hortman e seu marido, Mark, foram mortos a tiros, enquanto o senador John Hoffman e sua esposa ficaram feridos em Minnesota, uma expressão da grave escalada de violência política no país.
Derrotar Trump nas ruas
O caminho para derrotar Trump e seu projeto reacionário passa pela unidade das diferentes lutas, de maneira independente do partido Democrata, que inclua as bases de todos os sindicatos, bem como as organizações sociais e partidos políticos da esquerda.
Há uma enorme oportunidade para organizar os jovens, trabalhadores, sindicalistas, estudantes, imigrantes e todos os oprimidos que participaram de um dos maiores protestos do país, e debater coletivamente os próximos passos do movimento, como a construção de greves e ações coordenadas.