EUA capturam cargueiro e Venezuela denuncia pirataria internacional

Os Estados Unidos capturaram nesta quarta-feira (10) um cargueiro carregado de petróleo venezuelano na costa do país, no ato mais grave da escalada militar de Donald Trump na região.

Caracas classificou a operação como “roubo descarado” e “pirataria internacional”, afirmando que o ato se insere em “um plano deliberado de despojo de nossas riquezas energéticas”.

“Um roubo descarado e um ato de pirataria internacional, anunciado de maneira pública pelo presidente dos Estados Unidos, que confessou o assalto de um navio petroleiro no mar do Caribe”, protestou Maduro.

Para o governo venezuelano, a retórica de Washington sobre democracia e direitos humanos serve para acobertar seus interesses imperialistas.

“Não é migração. Não é narcotráfico. Não é democracia. Não são direitos humanos. Sempre se tratou de nossas riquezas naturais, de nosso petróleo, de nossa energia”, diz um comunicado da chancelaria bolivariana.

A apreensão foi executada por agentes do FBI, do Departamento de Segurança Interna (DHS) e da Guarda Costeira, com apoio das Forças Armadas dos EUA. Segundo a secretária de Justiça dos EUA, Pam Bondi, a operação cumpriu um mandado de captura contra um navio usado para transportar petróleo, sancionado pelo ocidente, da Venezuela e do Irã. 

Um vídeo divulgado pela Casa Branca mostra dois helicópteros militares se aproximando do cargueiro e equipes fortemente armadas descendo por cordas até o convés, sem registro de resistência por parte da tripulação.

O cargueiro, identificado por entidades marítimas como o Skipper, havia deixado o Complexo Industrial José Antonio Anzoátegu, no estado de Anzoátegui, entre 4 e 5 de dezembro com cerca de 1,8 milhão de barris de petróleo pesado Merey. 

De acordo com dados de rastreamento, o navio ainda transferiu aproximadamente 200 mil barris para outra embarcação próxima a Curaçao, destinada a Cuba, antes de ser interceptado. 

Ao anunciar a captura, Trump disse que se tratava de “um grande petroleiro, muito grande, de fato o maior jamais apreendido”, e afirmou que os Estados Unidos poderão “ficar com ele”.

“Acabamos de tomar um petroleiro na costa da Venezuela. Outras coisas também estão acontecendo, vocês verão mais tarde”, disse. Trump afirmou que os EUA poderão “ficar com” o cargueiro.

O presidente norte-americano também fez ameaças diretas ao seu homólogo colombiano, Gustavo Petro. “É melhor ele ficar esperto, ou será o próximo. Espero que ele esteja escutando: será o próximo”, ameaçou.

Desde setembro, o governo Trump ampliou de forma acelerada sua presença militar no Caribe e no Pacífico, sob o argumento de combater embarcações supostamente ligadas ao narcotráfico. 

A operação, no entanto, resultou na destruição de mais de 20 barcos e na morte de pelo menos 87 pessoas, sem que Washington tenha apresentado provas consistentes sobre o envolvimento das vítimas com atividades criminosas. 

A ofensiva militar reacende o alerta entre juristas, parlamentares e movimentos anti-imperialistas, que apontam que a Casa Branca vem empregando força letal de forma arbitrária para pressionar a queda de Nicolás Maduro e reconfigurar o acesso norte-americano às riquezas naturais da Venezuela.

A apreensão do cargueiro venezuelano representa a primeira interferência direta dos Estados Unidos no fluxo de exportações de petróleo da Venezuela, pilar central da economia do país e sua principal fonte de divisas. 

Para Caracas, a ação confirma que a escalada militar tem como objetivo final restringir, controlar ou desorganizar a renda petrolífera nacional — um movimento que, ao atingir o coração da estrutura econômica venezuelana, aprofunda o caráter hostil e unilateral das medidas impostas por Washington.

O episódio ocorre em meio à nova Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, que reabilita a lógica da Doutrina Monroe e reafirma a pretensão de Washington de controlar os rumos políticos e econômicos da América Latina. 

Ao capturar um navio comercial e ameaçar abertamente governos vizinhos, Trump sinaliza que sua política externa para a região combina pressão militar, sanções econômicas e o ataque direto às fontes de receita de Estados soberanos — um ambiente que amplia o risco de confrontos e tensiona toda a região.

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