Os resultados da pesquisa “As Classes Trabalhadoras” foram apresentados neste evento realizado no dia 9 de agosto na Fundação Perseu Abramo, em São Paulo. Na mesa, da esquerda para a direita: Cristina Marins, Cebrap; Jordana Dias Pereira, Fundação Perseu Abramo; Jorge Pereira Filho, Fundação Rosa Luxemburgo; Matheus Toledo, Fundação Perseu Abramo; Paulo Ramos, Projeto Reconexão Periferias da Fundação Perseu Abramo. Jordana, Jorge e Matheus integram o CASB. Foto: Fundação Perseu Abramo

Da Redação* 

O Centro de Análise da Sociedade Brasileira (CASB) é uma parceria que reúne as fundações Perseu Abramo, Lauro Campos, Marielle Franco, Maurício Grabois – ligadas respectivamente ao PT, PSOL e PCdoB – e a Fundação Rosa Luxemburgo (Alemanha).

Na última sexta-feira, 09/08, o CASB divulgou os primeiros resultados de uma pesquisa inédita, As Classes Trabalhadoras, que entrevistou 4.017 pessoas economicamente ativas entre 18 e 55 anos.

O estudo mostra, por exemplo, que:

  • 67% dos entrevistados se identificam como trabalhadores e apenas 4% se declaram empreendedores.
  • 40% dos que votaram em Jair Bolsonaro na última eleição presidencial concordam com a taxação de grandes fortunas.

O estudo aponta quatro resultados centrais:

  • demanda por salário, proteção social e direitos;
  • identificação das pessoas como trabalhadores e pertencentes à classe média;
  • potencial de organização coletiva; e
  • disputa de valores relacionados a políticas de justiça social.

“A pesquisa não tem uma finalidade pautada simplesmente na disputa de voto, mas sim busca compreender o significado da atual classe trabalhadora, de modo a contribuir para um debate mais amplo, que esteja assentado nos desafios que precisam ser superados para melhorar a vida de todos esses trabalhadores”, afirma o diretor da Fundação Perseu Abramo, Carlos Henrique Árabe, um dos responsáveis pelo estudo.

A investigação foi feita em duas etapas.

A primeira, de ordem qualitativa: ouviu presencialmente 14 grupos focais formados por trabalhadores de empresas de plataforma da Grande São Paulo (motoristas, entregadores e profissionais dos ramos de beleza, cuidado e limpeza).

A segunda, quantitativa, consistiu na realização de 4.017 entrevistas, com pessoas economicamente ativas entre 18 e 55 anos no país todo. O levantamento promovido visa entender as mudanças do mundo do trabalho no contexto da sociedade brasileira.

Mais direitos trabalhistas

“A ideologia do empreendedorismo parece estar perdendo força e a percepção que as pessoas têm de sua ascensão social está atrelada diretamente à renda obtida”, conta a coordenadora do estudo, Jordana Dias Pereira, que também integra o CASB.

A avaliação se baseia, entre outros pontos, no fato de que 64% dizem que o principal ponto negativo do trabalho por conta própria é a preocupação de ficar incapacitado e sem renda.

Chama atenção ainda a valorização dos direitos trabalhistas: 79% gostariam de ter acesso ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e 69% ao seguro desemprego.

Em relação à ascensão social, 43% dos que relatam ter origem em famílias pobres não se consideram mais nesse estágio e 71% se percebem como integrantes da classe média.

Potencial de sindicalização

Outro dado interessante é que 19% nunca participaram de sindicatos, mas gostariam de ter a experiência, o que indica um potencial de crescimento, já que a taxa atual de sindicalização é de 9% entre as pessoas ocupadas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Por sinal, 33% dos entrevistados estariam dispostos inclusive a fazer contribuição financeira, 24% aceitariam tomar parte em organizações coletivas mais amplas e 55% votariam em representantes de sua categoria para cargos ao Executivo e ao Legislativo.

Taxação de bilionários, moradias populares e reforma agrária

Com base na declaração de voto no segundo turno da última disputa presidencial, 40% dos eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro são favoráveis à taxação de grandes fortunas – o resultado geral indica que 53% concordam com a medida.

A destinação de imóveis com dívidas altas para moradias populares é defendida por 46% dos entrevistados ante 24% que discordam.

Em relação à reforma agrária, 40% se posicionam a favor e 27% contrários.

Segundo Matheus Toledo, que também integra o CASB e colaborou na análise dos resultados, tais números indicam que a disputa de valores é algo que precisa ser feita.

“As pessoas não vêm por osmose e o que se tem é um terreno fértil e promissor para que pensemos em políticas públicas voltadas a atender os anseios desse público”, afirma.

*Com informações da assessoria de imprensa da Fundação Perseu Abramo

casb-relatorio-pesquisa-as-classes-trabalhadoras-2024

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Última Atualização: 13/08/2024