Pesquisadores identificaram diferenças relevantes nos sinais biológicos de alerta da doença de Alzheimer de acordo com a idade e o nível de escolaridade, além de constatarem que homens são afetados na mesma proporção que mulheres. As conclusões fazem parte de um estudo que amplia o entendimento sobre a doença em meio ao avanço global dos casos de demência.
A pesquisa indica que marcadores sanguíneos associados ao Alzheimer aparecem com maior frequência em pessoas com mais de 85 anos e são menos comuns em indivíduos com menos de 75 anos do que se estimava anteriormente. Os dados ajudam a refinar estratégias de detecção precoce da doença, considerada a forma mais comum de demência.
Os resultados também contestam a ideia de que o Alzheimer seja predominantemente feminino. A análise não encontrou diferenças significativas na presença dos sinais biológicos entre homens e mulheres, em nenhuma das faixas etárias avaliadas, segundo o estudo realizado com mais de 10 mil participantes na Noruega.
O trabalho integra um esforço internacional para enfrentar o crescimento da demência, que atualmente afeta mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo e pode ultrapassar 150 milhões de casos até 2050, impulsionado pelo envelhecimento da população.
“Para lidarmos com esse desafio global, é essencial identificar sinais de demência nos estágios iniciais”, afirmou Dag Aarsland, professor de psiquiatria geriátrica do King’s College London e autor principal do estudo, publicado na revista Nature. Segundo ele, os exames de sangue avaliados na pesquisa mostram potencial para oferecer esse diagnóstico em larga escala.
Os pesquisadores analisaram 11.486 amostras de sangue de participantes com mais de 57 anos, coletadas no âmbito do Estudo de Saúde de Trøndelag. O objetivo foi identificar o acúmulo de proteínas tóxicas no cérebro, consideradas um dos principais indicadores do risco de desenvolvimento do Alzheimer.
A taxa de resultados claramente anormais ficou abaixo de 8% entre pessoas de 65 a 69 anos, mas aumentou de forma expressiva com o avanço da idade, chegando a quase dois terços entre participantes com mais de 90 anos. A diferença é mais acentuada do que a apontada em estudos anteriores, segundo os autores.
Cerca de 11% dos participantes com mais de 70 anos atenderam aos critérios para possíveis tratamentos com anticorpos monoclonais, que podem retardar o avanço do declínio cognitivo.
Embora não tenham sido observadas diferenças entre os sexos, os pesquisadores identificaram níveis mais elevados das proteínas tóxicas em pessoas com menor escolaridade formal, sobretudo nas faixas etárias mais avançadas. O achado reforça a hipótese de que a educação exerce um efeito protetor contra o Alzheimer, ao aumentar a chamada reserva cognitiva.
Especialistas destacaram a relevância do estudo. Para David Thomas, diretor de políticas da instituição Alzheimer’s Research UK, trata-se de uma pesquisa de alta qualidade, fundamental para compreender como os exames de sangue podem ser aplicados na prática clínica. Ele ressaltou que esses testes são menos invasivos, mais acessíveis e mais fáceis de ampliar do que métodos tradicionais, como exames de imagem ou a coleta de líquido cefalorraquidiano.
Thomas, no entanto, alertou que a presença das proteínas associadas ao Alzheimer não configura, por si só, um diagnóstico definitivo. “Algumas pessoas apresentam esses marcadores, mas nunca desenvolvem os sintomas da doença”, explicou, acrescentando que os exames podem ser menos sensíveis em idosos mais avançados.
A diretora do Centro de Ciências Cerebrais da Universidade de Edimburgo, Tara Spires-Jones, classificou o estudo como “importante e instigante”, mas apontou limitações, como o fato de a amostra ser relativamente homogênea e pouco diversa do ponto de vista genético. Segundo ela, isso pode restringir a compreensão das variações da doença em diferentes grupos étnicos.
LEIA TAMBÉM: