Um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, da Universidade de Oxford, em parceria com a professora Camila Mont’Alverne, da University of Strathclyde, aponta como a desinformação teve papel central na tentativa de golpe de Estado ocorrida no Brasil após as eleições de 2022.

Segundo a pesquisa, parte dos acusados de tramar a ruptura institucional usou o aparato estatal para disseminar informações falsas sobre o sistema de votação e colocar em dúvida a legitimidade do pleito que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva. Embora o ex-presidente Jair Bolsonaro não seja réu especificamente neste núcleo de acusações, sua campanha de desinformação foi determinante para o ambiente de instabilidade política que culminou nos ataques de 8 de janeiro de 2023, em Brasília.

O estudo mostra que, mesmo diante do conhecimento interno de que as urnas eletrônicas eram confiáveis, integrantes do governo difundiram versões contrárias, com o objetivo de restringir o acesso da sociedade a informações corretas e fortalecer uma narrativa de fraude. Em 2023, o Tribunal Superior Eleitoral declarou Bolsonaro inelegível após a reunião em que ele apresentou, sem provas, acusações contra o sistema eleitoral a embaixadores estrangeiros.

De acordo com Mont’Alverne, a estratégia adotada segue um padrão comum a outros líderes populistas ao redor do mundo: combinar acusações de fraude eleitoral com ataques a jornalistas e veículos de imprensa. O objetivo, segundo a pesquisadora, é enfraquecer a confiança no jornalismo profissional, que atua como barreira contra a desinformação.

“Nosso artigo mostra que consumir notícias da mídia tradicional está associado à crença em menos alegações de desinformação eleitoral ao longo do tempo. Nós usamos as mesmas alegações que Bolsonaro e seus aliados disseminavam na época. Confiar na mídia reforça os efeitos positivos de acessar notícias produzidas profissionalmente. Nesse cenário, faz sentido que líderes com aspirações autoritárias tentem levantar suspeitas da população em relação a jornalistas e veículos de imprensa, já que eles são peças-chave para fornecer informações mais precisas e desacreditar alegações sem fundamento sobre o processo leitoral”, afirma a professora.

As investigações judiciais reforçaram a conclusão do estudo, ao apontar que a disseminação de informações falsas não se limitava a questionar o processo eleitoral, mas tinha caráter explicitamente antidemocrático.

O trabalho também destaca o papel central da imprensa na defesa da democracia em 2022. Diferentemente do apoio que parte da mídia deu ao golpe militar de 1964, veículos jornalísticos atuaram naquele momento para expor narrativas falsas, conter o avanço da desinformação e contribuir para frustrar tentativas de ruptura institucional.

*Com informações do The Conversation.

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Last Update: 14/09/2025