Centros acadêmicos e entidades estudantis da Universidade de Brasília (UnB) divulgaram carta de repúdio contra ações de grupos de extrema-direita no campus Darcy Ribeiro. Foto: Ascom/UnB

Os Centros Acadêmicos e entidades estudantis da Universidade de Brasília (UnB) divulgaram uma carta de repúdio contra ações de grupos de extrema-direita que, segundo os estudantes, invadiram o campus Darcy Ribeiro, depredaram espaços acadêmicos e espalharam desinformação.

Em resposta a esses ataques, representantes estudantis reuniram-se com a Reitoria em 13 de março para exigir maior segurança e a criação de um protocolo efetivo para conter invasões e identificar os responsáveis. Apesar de o documento destacar que a UnB tem sido alvo de campanhas direcionadas contra a educação pública, a administração superior ainda não se manifestou oficialmente sobre as denúncias, o que reforça a urgência de medidas concretas para proteger a comunidade acadêmica. Confira o texto:

Nós, Centros Acadêmicos, coletivos e entidades estudantis da UnB, viemos por meio desta carta expressar nosso repúdio veemente aos ataques promovidos por grupos de extrema-direita que, no dia 10 de março, invadiram o campus Darcy Ribeiro para gravar e divulgar um vídeo difamatório, espalhando desinformação, destruindo materiais estudantis e causando pânico na comunidade acadêmica. Lamentavelmente hoje (14) o mesmo grupo invadiu novamente a UnB e depredou patrimônio de Centro Acadêmico, como haviam prometido.

Ontem, dia 13 de março representantes do movimentos Tudo que Nóis Tem É Nóis, os coletivos Kizomba, Afronte, UJS, Paratodos, a União Nacional dos Estudantes, estudantes independentes e membros do CA de Serviço Social e do CA de Veterinária –anteriormente ameaçado por movimentos de extrema-direita – tiveram uma reunião com a administração superior da UnB e o gabinete da reitoria para tratar do avanço das organizações de extrema-direita na universidade e de seus ataques ao patrimônio, a autonomia e a existência da UnB.

Hoje, dia 14 de março, o atentado no CA de Artes Visuais (CAVis) foi um claro ataque aos estudantes de um curso fundamental para as expressões humanas durante toda nossa história.
Essa ação não é um fato isolado: é resultado direto da escalada do discurso de ódio e contra a esquerda, fomentado por setores extremistas e reacionários que tentam acabar com as universidades públicas como conhecemos.

A UnB é, historicamente, um espaço de crítica, liberdade e pluralidade e tem sido alvo de uma campanha golpista e fascista da extrema direita que visa impedir a mobilização estudantil — referência de luta em tantos momentos históricos — de alcançar a comunidade da UnB. Além disso, esses ataques buscam repetir os avanços da onda reacionária que cresce em nosso país. A difamação e a violência — simbólica e material — promovidas por esses grupos são reflexo de uma estratégia que busca intimidar estudantes, professores e técnicos, tentando minar a resistência e a produção de conhecimento crítico que tanto contribuem para a transformação da sociedade brasileira.

Nos últimos anos, vimos crescer a articulação de partidos e grupos de interesse que instrumentalizam a religião, e usam de discursos construídos pelo militarismo e neoliberalismo para atacar a educação pública e suas entidades representativas. Não aceitaremos que a Universidade de Brasília, um dos pilares do pensamento democrático e do combate às desigualdades, seja dominada por aqueles que queriam a abolição do Estado Democrático de Direito para a construção de um projeto político que se nega a enxergar as formas de domínio e opressão contra a população periférica, os povos originários, o povo negro, as mulheres e a comunidade LGBTQIAPN+.

Acreditamos no poder que todos nós universitários temos em nossas mãos de transformar a sociedade que vivemos, entendendo as complexidades que a construíram. Temos a capacidade de organizar o enfrentamento eficaz às relações de domínio que perpetuam ondas de violência que afastam grupos marginalizados e invisibilizados de ocuparem posições na sociedade sem justificativa plausível.

O interesse para além de marcar o ambiente universitário com opressões está em tentar desorganizar e atacar a parcela de estudantes que ocupa a universidade e contribui ativamente para alterar de forma efetiva e qualitativa a sociedade.

Cumpre destacar que na reunião do dia 13 de março, estudantes organizados, representantes de Centros Acadêmicos, coletivos e entidades estiveram reunidos com a Reitoria para discutir a segurança e a convivência universitária. Ficou evidente que não basta repudiar os ataques: é essencial que a administração superior adote medidas concretas e imediatas para proteger a comunidade acadêmica e garantir que fascistas e neonazistas não se sintam confortáveis para circular livremente pelo campus promovendo violência.

Exigimos:
* Fortalecimento da segurança universitária, com foco na proteção da comunidade acadêmica e dos espaços estudantis;

* Criação de um protocolo de resposta a ataques externos, com ações preventivas e de contenção para situações de invasão e violência;

* Investigação rigorosa e denúncia pública dos responsáveis pelos ataques, com acompanhamento da Ouvidoria e da Procuradoria da UnB;

* Posicionamento público e contundente da Reitoria em defesa da universidade pública, gratuita e plural, contra qualquer tentativa de censura, intimidação ou perseguição política.

A Universidade de Brasília não pode ser conivente com a ascensão da extrema direita. A omissão abre espaço para que o medo se instale, afetando diretamente a convivência estudantil, a possibilidade de organização para se proteger de ações que alterem o relacionamento dos estudantes com a universidade e a sua inserção nos espaços — como os vídeos produzidos pelo YouTuber de extrema-direita ao longo do ano de 2024 — , de modo a contribuir para a produção acadêmica benéfica a todos, e nós, estudantes, não permitiremos que isso aconteça.

A UnB é e sempre será um espaço de resistência, e a Reitoria deve estar à altura dessa história, compreendendo que a construção do medo e da opressão como forma de atuação política ou midiática não pode ser tolerada moralmente e nem academicamente, visto que quando um ambiente se torna opressor, ou o estudante irá se afastar, ou terá sua progressão e desenvolvimento acadêmico afetado.

Seguiremos lutando, organizados e combativos, para que nossa universidade continue sendo referência na resistência às formas de opressão que tentam se construir de forma velada sob discursos de ódio, servindo os interesses de um modelo neoliberal que não enxerga com bons olhos e se preocupa com o impacto de nossas organização na estrutura de poder e domínio que beneficiam os setores favorecidos pela desigualdade social de nosso país.

Não recuaremos!

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Last Update: 15/03/2025