No ato do 1º de Maio convocado pelo Partido da Causa Operária (PCO) em São Paulo, o presidente nacional da legenda, Rui Costa Pimenta, fez um duro discurso contra a escalada repressiva do regime político brasileiro. Iniciando sua fala com a execução da “Internacional”, Pimenta destacou o caráter histórico e revolucionário do Dia do Trabalhador, “não como um palco para propaganda eleitoral”, mas como símbolo da luta mundial pela emancipação da classe operária e pelo comunismo.

Logo em seguida, o dirigente denunciou a proibição da realização do ato na frente da Fiesp pela Polícia Militar de São Paulo.

“A Constituição diz que você pode fazer manifestação política sem necessidade de autorização prévia. Mas como fazer isso sem usar um carro de som?”, questionou. Segundo ele, trata-se de “um truque para impedir manifestações públicas”, já utilizado anteriormente, como no ato contra a cúpula imperialista do G20 no Rio, reprimido também por ordem do governo Lula.

Pimenta denunciou que o Estado está se apropriando dos últimos direitos políticos da população:

“Nós já estamos a meio caminho andado de uma ditadura, e vamos caminhar, se não houver resistência séria, para uma ditadura integral”. Ele revelou ainda que o partido está sendo investigado pela Polícia Federal sob a acusação de terrorismo:

“Nós, aqui presentes, estamos sendo investigados por terrorismo. Essa é a realidade do Brasil em 2025.”

Sobre a repressão judicial, Pimenta foi enfático:

“Enquanto dizem que o STF está combatendo o bolsonarismo, o que está acontecendo é o roubo dos direitos políticos do povo.”

Ao abordar a política da esquerda institucional, o dirigente criticou o apoio cego ao Judiciário: “a esquerda pequeno-burguesa acha que se pode defender os trabalhadores sem liberdade política. Isso é impossível. Sem liberdade, não há greve, não há sindicato, não há organização”. Para ele, essa posição é uma ilusão que paralisa a luta dos trabalhadores.

Rui Costa Pimenta apontou ainda para a ofensiva patronal contra os direitos trabalhistas, denunciando a manobra em torno da escala 6×1 e das propostas de jornadas flexíveis: “isso é proposta de patrão. Querem destruir o limite da jornada de trabalho”.

O dirigente alertou para o risco de surgimento de uma “terceira via” burguesa, resultado direto da atuação do STF: “se essa operação for bem-sucedida, vão acabar com o que resta da CLT. É preciso soar o alerta geral”.

Sobre o governo Lula, Pimenta foi categórico: “é um governo impotente, que foi completamente arrastado para a direita. Apoia o STF, ou seja, está colocando a corda no próprio pescoço”.

Ao tratar da situação internacional, o presidente do PCO fez uma firme defesa do povo palestino:

“Estamos sendo perseguidos por apoiar a resistência palestina. Cometemos o ‘crime’ de dizer que o povo palestino tem o direito de se defender com armas na mão.” Segundo ele, até mesmo a esquerda brasileira virou as costas à resistência: “Eles podem chorar os mortos, mas não admitem a legítima defesa.”

Fez ainda um paralelo histórico: “o Vietnã derrotou o imperialismo japonês, francês e norte-americano. A Palestina também vai derrotar o imperialismo no Oriente Médio.”

Confira, abaixo, o discurso de Rui Costa Pimenta na íntegra:

“Queria primeiro chamar atenção para o fato de que nós tocarmos a Internacional nesse ato de 1º de Maio é uma coisa totalmente apropriada. Para nós, o 1º de Maio representa a luta da classe operária mundial pela sua emancipação, pela revolução socialista mundial que vai estabelecer, como diz a letra da Internacional, um dia, uma terra sem amos, sem capitalista, sem repressão, sem exploração do homem pelo homem. Para nós, o 1º de Maio é o dia da classe operária consciente internacional, é o dia do socialismo e é o dia do comunismo. Não é um mero ato para propaganda eleitoral.

Quero assinalar aqui a situação em que nós nos encontramos no Brasil, que alguns dizem que é o Estado Democrático de Direito. A nossa intenção era fazer o ato de 1º de Maio em frente à Fiesp. Mas acontece que a Polícia Militar do Estado de São Paulo atribuiu a si mesma o direito de impedir a realização do ato. Porque nós não podemos levar esse carro de som até a Fiesp. A Constituição Federal diz que você pode fazer qualquer tipo de manifestação política sem necessidade de autorização prévia das autoridades. Agora, como é que nós vamos fazer um ato público sem que a gente possa usar o aparelho de som? É um truque que está sendo usado para impedir as manifestações públicas. Eu digo que é um truque que está sendo usado para impedir as manifestações públicas porque não é a primeira vez que isso acontece. Nós já nos defrontamos com essa situação no Rio de Janeiro, quando nós organizamos um ato e protesto contra a presença dos genocidas dos países imperialistas no G20. A Polícia Militar do Rio de Janeiro, por orientação do governo do senhor companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, impediu que nós usássemos um aparelho de som no ato, entre outras coisas. E assim, ele abriu caminho para que a Polícia Militar seja a partir de agora a dona da Constituição Federal ao lado do STF, para definir onde você vai poder fazer ato público e onde você não vai poder fazer ato público.

Eu chamo a atenção para esse fato porque nós estamos vivendo no país uma situação muito grave. Enquanto setores de esquerda dizem que o que o STF está fazendo é a defesa do Estado Democrático de Direito, todos os nossos direitos reais estão sendo roubados pelo Estado. É isso que está acontecendo. E isso daqui é mais uma demonstração disso. Nós estamos caminhando para uma situação em que nós não vamos poder exercer nenhum direito político nesse país. Nós já estamos a meio caminho andado de uma ditadura, e nós vamos caminhar, se não houver uma resistência séria, a uma ditadura integral.

O companheiro que me apresentou falou dos processos que nós estamos sofrendo. Queria chamar a atenção para o fato de que nós estamos sofrendo um processo, ou estamos respondendo a um inquérito, mais precisamente, na delegacia da Polícia Federal contra o terrorismo. Quer dizer, nós aqui estamos sendo investigados, todos nós aqui estamos sendo investigados por terrorismo no Brasil hoje em 2025. Essa é a realidade que nós estamos vivendo. O direito político, as liberdades políticas, não existem mais no Brasil. Enquanto o STF, mas não é só o STF, a Rede Globo, os grandes capitalistas falam para pessoas que não conseguem pensar que eles estão combatendo o bolsonarismo, eles estão na realidade roubando os direitos, os poucos direitos políticos que restam ao povo brasileiro. É isso que está acontecendo. Quando nós falamos isso, tem gente que fala que nós estamos defendendo o Bolsonaro. Não. Nós não estamos defendendo Bolsonaro. Nós estamos defendendo os direitos do povo brasileiro.

Outro dia, nas redes sociais, uma pessoa veio me falar o seguinte: por que vocês não defendem os interesses dos trabalhadores e ficam atacando o STF? Isso é típico da esquerda pequeno-burguesa. A esquerda pequeno-burguesa acha que você pode defender os interesses dos trabalhadores sem liberdade política. Eles nunca viveram sob uma ditadura. Em 1964, você não conseguia defender o interesse dos trabalhadores porque você não tinha liberdade política para lutar. Você não tinha liberdade política para defender o interesse do trabalhador. Você não podia fazer greve. Você não podia se organizar em sindicato. Você não podia fazer manifestação. Então, se não há liberdade política, não há como defender o interesse do trabalhador. Por isso que eu estou falando sobre isso aqui no Primeiro de Maio. É uma questão vital. Eles atacam a extrema direita, que é uma maneira de disfarçar a investida contra os direitos de toda a população. Nós não vamos nos calar diante das arbitrariedades do STF. Porque quem está sofrendo arbitrariedade, principalmente, mas não só, é o Bolsonaro. Não. A defesa dos direitos políticos dos trabalhadores, para nós, é uma questão essencial. Nós exigimos que o Estado dos patrões, que o Estado dos opressores, que o Estado capitalista respeite os direitos políticos do povo brasileiro.

Queria lembrar a vocês, se for necessário lembrar, que uma das causas do estabelecimento do dia 1º de Maio foi a luta pela redução da jornada de trabalho. Vocês viram aqui um ato que estava sendo realizado paralelamente do pessoal da escala 6×1. Nós temos uma faixa ali que fala: “35 horas semanais, sem redução do salário e com fim de semana livre”. O pessoal da escala 6×1 não define o problema salarial e nem o problema do fim de semana livre. Dessa forma, o que eles estão propondo é estabelecer a jornada de trabalho flexível. Eles querem que você trabalhe quatro dias por semana e folgue três. Isso significa acabar com o limite da jornada de trabalho, porque o pessoal vai fazer hora extra, o pessoal vai arrumar o segundo emprego. Isso daí é uma proposta patronal. Nós somos favoráveis a que haja o fim de semana livre. Isso foi acolhido nos últimos anos, mas nós somos favoráveis que a jornada de trabalho seja claramente estabelecida e que não haja redução dos salários.

Um dos resultados da política do STF, que seria a defesa da democracia e do Estado de Direito, pode ser o estabelecimento de um governo que não seja nem o Bolsonaro, nem o PT, que seja um integrante da burguesia. E se essa manobra for bem-sucedida, ele vai acabar com o que resta da CLT. Então nós temos que prestar muita atenção, companheiros, no que está acontecendo na situação política brasileira. O que nós temos aqui é uma situação gravíssima, da maior importância política, que só pode ser enfrentada com a mobilização do povo trabalhador.

O PT não é obstáculo. O governo Lula entrou com boas intenções, mas ele não conseguiu governar e acabou sendo completamente arrastado para a direita. É um governo impotente, é um governo que não dá conta da situação, apoia o que o STF está fazendo, ou seja, está colocando a corda no próprio pescoço, em nome de combater a extrema direita, em nome de defender a democracia — que é justamente o oposto daquilo que o STF está fazendo.

Então, está na hora, companheiros, de abandonar a ilusão de que a salvação do povo brasileiro, dos trabalhadores brasileiros, virá de cima. Vai vir de Brasília? Não vai vir de lá. De lá só vão acontecer ataques contra o povo trabalhador, como já está acontecendo na questão política. A burguesia brasileira, o grande capital brasileiro, junto com o imperialismo, está preparando um dos maiores ataques contra o povo brasileiro de toda a sua história — maior inclusive do que foi o governo FHC. É isso que nós temos que ter em consideração. E a única maneira de enfrentar essa situação é através da mobilização popular. Nós precisamos investir as palavras. Nós precisamos despertar o movimento operário. Nós temos que ir aos bairros populares, nós temos que explicar a situação, nós temos que soar o alerta geral de que se prepara um grande ataque contra o povo brasileiro, e que a maioria da esquerda está vivendo um sonho cor-de-rosa, onde o governo Lula vai salvar todo mundo — coisa que não está acontecendo e não vai acontecer.

Bom, companheiros, uma questão essencial que nós temos que falar aqui nesse 1º de Maio é, logicamente, o problema da Palestina. Um dos principais focos — não é o único foco, mas um dos principais focos — de perseguição contra o nosso partido é a questão da Palestina. Nós cometemos o crime de não apenas defender o povo palestino contra o genocídio, contra criminosos, contra aquilo que é um nazismo de carne e osso que existe hoje no mundo, que é o sionismo, mas também cometemos o crime de defender a resistência palestina. Pelo que nós pudemos observar nesse período, desde o dia 7 de outubro, é que o povo esmagado não pode se defender. Você pode chorar por eles. Você pode chorar pelas 50 mil pessoas mortas em bombardeios — 50 mil civis mortos em bombardeios. Bombardeios que foram executados sobre uma região que não tem sequer defesa antiaérea. Quer dizer, é o livre despejo de explosivos em cima da cabeça da população. Você pode chorar pelas 8 mil crianças mortas. Mas você não pode se defender. Você não pode falar: “não, o povo palestino tem o direito de se defender de armas na mão”. Você não pode falar isso. Até mesmo a esquerda, até mesmo a esquerda não defende a resistência palestina. A esquerda brasileira não defende a resistência palestina. A nossa obrigação aqui, quer haja processo, quer não haja processo, haja o que houver, é defender os palestinos, defender a resistência palestina contra os genocidas, os criminosos, os piores criminosos que existem no mundo — os sionistas e o imperialismo.

Nós temos que lembrar — muita gente pode estar aí pensando que a situação na Palestina é uma situação sem esperança. Não pensem nisso, companheiros. Esse mês aqui, nós temos aniversário da derrota do imperialismo no Vietnã. Nós temos que prestar homenagem à coragem, à determinação, à capacidade de enfrentar uma situação insustentável que marcou a luta do povo vietnamita. Eles lutaram contra o imperialismo. Durante a Segunda Guerra Mundial, derrotaram o imperialismo japonês. Logo depois da Segunda Guerra Mundial, derrotaram o imperialismo francês. E depois, derrotaram o imperialismo norte-americano. O exemplo do Vietnã mostra que não importa o quanto o inimigo é poderoso, quanto dinheiro ele tem para gastar em bombas para jogar sobre a cabeça da população, quais armas modernas ele tem para oprimir os povos do mundo inteiro — a luta e a determinação de um pequeno país, como o Vietnã, foi capaz de derrotar o monstro imperialista. E a população palestina, os palestinos e o povo árabe vão derrotar o imperialismo no Oriente Médio e no mundo todo.

Para concluir, companheiros, nós estamos fazendo esse ato aqui por uma situação que precisa ser esclarecida. A Central Única dos Trabalhadores decidiu não fazer ato do 1º de Maio em São Paulo e no ABC. Por quê? Porque as centrais sindicais pelegas, que já estão apoiando essa alternativa de “nem Lula, nem Bolsonaro”, decidiram fazer um ato, decidiram fazer uma coisa repulsiva, que é chamar os trabalhadores através do sorteio de carros, etc., para uma coisa abominável, nojenta. E a Central Única dos Trabalhadores, dirigida pelo PT — nós fazemos parte da CUT também — decidiu não fazer nada. Deixou o terreno livre para os inimigos dos trabalhadores. É importante lembrar: eles disseram que eram grandes aliados dos trabalhadores nos últimos dois anos. Agora, os aliados foram embora. Pegaram o boné e foram embora. E eles não fazem nada. Isso mostra, companheiros, a ilusão que existe de que o problema vai ser resolvido por um milagre. Mas a realidade é que o PT e a CUT não vão mobilizar o povo para lutar contra a situação, está se formando um vazio.

Vocês viram o ato que foi feito aqui do lado pelo PSOL? É pura propaganda eleitoral, financiada por fundos imperialistas. Então, nós temos aqui a obrigação de reunir todos os setores que queiram lutar, de buscar criar uma ampla frente de luta dos trabalhadores, porque há uma tendência de luta entre os trabalhadores. Nós estamos vendo aqui que despontam aqui, acolá, movimentos de luta dos trabalhadores e de determinados sindicatos. Nós precisamos procurar esse pessoal, nós precisamos organizar uma frente única, e nós precisamos criar uma ampla mobilização para defender o interesse dos trabalhadores — os interesses pelos seus direitos políticos, pelas suas condições de vida, pelos seus direitos sindicais, pelos seus direitos trabalhistas. Mas a essência do problema consiste no seguinte: é preciso um movimento completamente independente de todos os setores da burguesia, de todos os representantes políticos da burguesia. Sem a independência política dos trabalhadores, não há como lutar com a burguesia. Não se pode lutar com a burguesia aliado com uma parte da burguesia. Não se pode lutar contra os capitalistas quando você está dependendo da aliança com os representantes políticos do capitalismo para fazer qualquer coisa.

Então, esse 1º de Maio que nós convocamos, sob a palavra de ordem pela independência política da classe operária diante da burguesia, nós esperamos que seja um ponto de partida para a constituição de uma frente de luta independente dos trabalhadores. É uma tarefa difícil, nós temos consciência. Mas nós também temos confiança de que temos a capacidade de agrupar os setores que querem lutar — e esses setores são muitos —, e que temos condição de criar um amplo movimento contra a burguesia, o imperialismo, seus representantes políticos, a ditadura do STF, a extrema direita e todas as forças políticas reacionárias que pairam sobre a cabeça do povo brasileiro como uma grande ameaça.

E nós vamos fazer isso. E nós vamos ser vitoriosos.

Obrigado.”

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Last Update: 02/05/2025