Romeu Zema, governador de Minas Gerais – Foto: Reprodução

Em editorial publicado nesta segunda-feira (9), o Estadão criticou o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), após o político relativizar a existência da ditadura militar no Brasil ao afirmar que se trata de “uma questão de interpretação”. O jornal acusou Zema de aderir ao revisionismo histórico típico do bolsonarismo e denunciou sua tentativa de reescrever o passado para agradar à base conservadora e de aliados de Jair Bolsonaro (PL). Confira trechos:

Antes, durante e depois de seu mandato presidencial, Jair Bolsonaro não só jamais deixou de manifestar o espírito golpista que orientou sua trajetória, como também tratou de cultuar, sempre que pôde, aquilo que mais o inspirou como mau militar e mau presidente da República que foi: a ditadura militar brasileira. Inspirada na eterna ameaça comunista, fantasia que formou a geração do capitão reformado e dos generais que gravitaram ao seu redor na Presidência, a mentalidade bolsonarista promoveu heresias históricas as mais diversas: enalteceu notórios torturadores, elogiou o AI-5 (ato institucional com o qual o regime de exceção assumiu sua face mais autoritária) e determinou a comemoração apologética do golpe militar de 1964 – como se pudesse ser objeto de festejo um período em que o Brasil ficou sem eleições diretas para presidente e conviveu com cassações arbitrárias, censura prévia sobre a imprensa e as artes e prisões e tortura de adversários do regime.

Ocorre que agora, com Bolsonaro inelegível e prestes a ser julgado pela trama golpista de 2022, não são poucos os políticos que, dispostos a herdar seus votos, lambem-lhe as botas e participam de sua empreitada liberticida, que inclui reescrever a História para fazê-la caber no discurso bolsonarista. Há poucos dias, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, declarou à Folha de S.Paulo que a existência da ditadura militar é “uma questão de interpretação”. Prometendo indulto ao padrinho político caso seja presidente, Zema lançou a dúvida: “Não foram concedidos indultos a assassinos e sequestradores aqui, durante o que eles chamam de ditadura?”. Para o governador, decidir se houve ou não uma ditadura em 1964 é papel de historiadores, e não de um presidenciável. (…)

Bolsonaro homenageia ditadura militar – Foto: Reprodução

O mais grave, contudo, é saber que Zema não está só. É parte da guerra cultural bolsonarista forjar inimigos, definir o Brasil como corrompido por uma “falsa democracia” e manter as massas digitais mobilizadas e a militância mais extremista em constante excitação. É a arquitetura da destruição, marca d’água do bolsonarismo: quando o passado é desmontado e tudo passa a ser discutível – se a Terra é redonda, se a vacina salva ou mata ou se o regime de 1964 foi ou não uma ditadura – abrem-se as portas para o autoritarismo. Afinal, este é o sonho das mentes autoritárias, à direita ou à esquerda: reescrever a História e estabelecer o que é verdade ou não. O extremismo e o autoritarismo se alimentam da instabilidade – institucional, política e histórica – para se apropriar do passado e redesenhar o futuro a seu favor. Mas não é obra de engenharia, e sim de demolição.

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Last Update: 09/06/2025