Por Moisés Mendes, em seu blog
Leiam essa chamada de capa que ficou durante toda a tarde de sexta-feira e a manhã de sábado em destaque no Estadão online:
“Argentina: Os motivos que fazem o país que mais consome carne bovina no mundo voltar-se para a carne de porco.
O jornal informa: “Em 2024, consumo de carne bovina na Argentina caiu para o menor valor per capita em 110 anos; mudança se dá num cenário de austeridade enfrentada pela população”.
Percebam o eufemismo do Estadão. O cenário não é de pobreza e de miséria, com a destruição da economia e do suporte do setor público às populações vulneráveis. É um “cenário de austeridade”.
Ao ser obrigada a desistir da carne de boi, por ser acessível apenas a uma parcela da classe média e aos ricos, a população “volta-se” ao consumo carne de porco.
É como dizer que a situação geral do país, com o desastroso governo de Javier Milei, faz o povo ‘voltar-se’ para uma situação de fome, com os piores níveis de pobreza extrema da História da Argentina.
Essa notícia é de 5 de dezembro. O índice de pobreza atingiu 49,9% da população da Argentina no terceiro trimestre deste ano, enquanto a indigência chegou a 12,3% no período, segundo dados do Observatório da Dívida Social Argentina, calculado pela Universidade Católica (UCA).
Ao mesmo tempo, todos os jornalões brasileiros destacam a performance da bolsa de valores de Buenos Aires, como se isso significasse alguma coisa no contexto de recessão, com o PIB encolhendo 3% esse ano, e de empobrecimento do país.
Agora, leiam essa manchete de setembro de 2011, do Valor econômico:
“Dass investe para ampliar a produção na Argentina”
Essa era a notícia:
“Diante da perspectiva de reeleição da presidente argentina Cristina Kirchner, a indústria calçadista brasileira parou de fazer contas e decidiu ampliar a produção na Argentina, mesmo com uma estrutura de custos mais alta do que no Brasil. É o caso da Dass, de Santa Catarina, que produz calçados para marcas como Fila, Umbro e Nike A avaliação, pragmática, é que a política de indução à substituição de importações do governo argentino vai permanecer por longo prazo. Em jogo, está um mercado longe de ser desprezível: consome 200 milhões de pares esportivos por ano e conta com uma produção de 136 milhões de pares”. (Cristina foi reeleita.)
E essa é a manchete desse sábado do jornal argentino Página 12, sobre uma das consequências da abertura descontrolada da Argentina às importações, determinada por Milei:
“Fábrica da Dass é fechada: a crise no setor calçadista se aprofunda. 300 trabalhadores estão desempregados em Coronel Suárez”
A notícia informa o seguinte, 13 anos e meio depois da manchete do Valor Econômico sobre os investimentos da Dass:
“A empresa de calçado e vestuário Dass despediu 300 trabalhadores e anunciou o seu encerramento através de telegramas com os quais despediu quase todos os seus funcionários. A empresa fabrica para grandes marcas, como Adidas, Asics, Umbro, Fila, e anteriormente fabricava para Reebok. A empresa brasileira afirma quedas nas vendas e alerta para problemas maiores devido à onda de importações. A Dass unificará a produção em Misiones, onde tem outra fábrica.
Na cidade de Coronel Suárez, centro-sul da província de Buenos Aires, o segundo dia do ano não foi de festa, muito pelo contrário. 300 dos 42.200 habitantes de todo o distrito perderam o emprego. O telegrama que começou a chegar em suas casas no dia 2 de janeiro foi categórico: “Escrevemos para avisar que, em decorrência do fechamento do estabelecimento, encerraremos seus serviços a partir de 20/01/2025”.
Essa é a Argentina em que a população, segundo o Estadão, ”volta-se” ao consumo de carne de porco, se é que os pobres estão comendo carne.
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ATÉ TU, FREIRE?
Agora leiam essa chamada de texto de Vinicius Torres Freire, que não pode ser incluído na turma que tenta sabotar Lula. Mas vejam o que ele diz na Folha:
“País de Lula 3 cresce, com desânimo; com arrocho social, prestígio de Milei se mantém. Pessimismo com economia cresce no Brasil, Argentina tolera perda brutal de renda”
Percebam a tentativa de fazer comparações. “desânimo” no Brasil com Lula e “prestígio” de Milei na Argentina.
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