O ex-ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Carlos, teve seus direitos políticos restituídos. Foto: reprodução

Em editorial publicado nesta quinta-feira (26), o Estadão, além de defender a Lava Jato, atacou o ex-ministro-chefe da Casa Civil Antônio Carlos, que teve seus direitos políticos restituídos, classificando-o em tom de deboche como “o mais probo dos homens públicos” e destacando que o “crime compensa”. 

O jornal é famoso por seus editoriais canalhas, como o publicado antes das eleições presidenciais de 2018, intitulado “Uma escolha muito difícil” – que dizia basicamente que Haddad e Bolsonaro são a mesma coisa. Confira o que diz agora:

Aos brasileiros justos tem sido negado o direito de sonhar com um ano novo mais auspicioso para o País. Uma nesga de esperança por um futuro mais decente é logo abatida por sinais de que aqui, ao que parece, o crime compensa, a depender da resiliência dos malfeitores para amargar um período de dissabores que, mais cedo ou mais tarde, decerto serão atenuados, quando não revertidos, em virtude de suas relações com figuras bem posicionadas na política e no Judiciário. Antônio Carlos é a personificação desse Brasil que deu certo para os apanhados em malfeitos que sabem esperar. (…)

O conselheiro petista tem motivos de sobra para colocar 2024 entre os melhores anos de sua vida. Em março, sua festa de aniversário em Brasília foi, na verdade, o début de sua reabilitação política. Pelo salão transitou a nata do poder político e econômico do País, incluindo autoridades de alto escalão do Executivo e do Legislativo, das mais variadas afiliações partidárias, empresários, advogados e jornalistas. Antônio Carlos circulou livre, leve e solto entre os cerca de 500 convidados como se fosse o mais probo dos homens públicos, como um injustiçado que, enfim, encontrava a redenção.

De camiseta preta, o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento, conversa com Zé Dirceu (à esq., de camiseta branca)
Antônio Carlos conversa com convidados em sua festa de aniversário, realizada em março deste ano. Foto: Reprodução.

Durante o rega-bofe, nenhum dos convivas manifestou o menor sinal de constrangimento por estar celebrando um criminoso condenado em múltiplos processos por crimes gravíssimos, como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa – condenações estas corroboradas por todas as instâncias judiciais, ou seja, sem que houvesse dúvidas sobre a autoria e a materialidade dos crimes que foram imputados a ele. Ao contrário, Antônio Carlos foi tratado como um oráculo político, além de uma peça fundamental para o projeto de poder do PT para além do atual mandato do presidente Lula da Silva.

O encerramento das ações contra Antônio Carlos no STJ é decorrência direta de uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, que, em outubro, anulou todos os atos processuais tomados ou autorizados pelo então juiz Sérgio Moro contra o petista. O decano do STF estendeu a Antônio Carlos os mesmos benefícios concedidos ao companheiro Lula da Silva, sob a argumentação de que, assim como o presidente da República, Antônio Carlos teria sido vítima de uma “ação coordenada” entre Moro e os procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Paraná. (…)

Ninguém minimamente bem informado sobre o que aconteceu no Brasil nos últimos anos haverá de negar que os procuradores da Lava Jato decerto cometeram muitos erros processuais, para dizer o mínimo, em nome do que entendiam ser um “bem maior”, qual seja, a purgação da política por meio do enfrentamento à corrupção com todos os instrumentos que tinham à mão, fossem legais ou não. Aí está o resultado desse messianismo. Sem que a culpabilidade de condenados por corrupção, muitos deles réus confessos, fosse posta em xeque do ponto de vista factual, quase todos os criminosos envolvidos no “petrolão” foram exonerados de prestar contas à Justiça e hoje podem posar de inocentes. Antônio Carlos é a face mais conhecida desse tapa na cara do Brasil honesto.

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Last Update: 26/12/2024