O artigo Chega de nós contra eles, assinado por Marcelo Tognozzi e publicado pelo portal Poder360, comprova que está em marcha um golpe de Estado no Brasil.
O texto é um piti do articulista contra a mudança de política do Partido dos Trabalhadores (PT) nos últimos dias. Após ter sido humilhado pelo Congresso Nacional em uma votação que resultou na derrubada do decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o governo Lula resolveu impulsionar uma campanha aberta contra seus adversários.
Para a discussão em tela, pouco importa o mérito em si da proposta, que é ruim e limitada. Afinal, o governo está propondo aumentar um imposto que acarretará em uma diminuição do poder de compra de uma parcela da população e poderá ainda afetar de forma negativa o comércio, já bastante estrangulado com a taxa de juros. Também pouco importa, para esta discussão, a medida tomada pelo governo, que também é muito ruim, pois consiste em apelar para o Supremo Tribunal Federal (STF) para intermediar um conflito com o Legislativo.
Tognozzi não se propõe a criticar os aspectos negativos do governo, que são os acima elencados. Pelo contrário: seu objetivo é criticar aquilo que há de potencialmente positivo — o fato de que o governo, ao se ver ameaçado, indicou que poderia iniciar um processo de mobilização popular.
Vejamos o que o autor diz:
“Os ricos são maus e os pobres são bons. Essa conversa não cola mais, a não ser para meia dúzia de militantes amestrados do Psol.”
É um argumento ridículo. A questão não é se os ricos são bons ou maus. A questão é que a burguesia, que é a classe dominante, está em uma ofensiva contra os direitos da população. Isso é assim não apenas no Brasil, mas também no mundo inteiro. A burguesia está promovendo guerras genocidas, intensificando a repressão, impondo uma política de choque econômico em todos os lugares em que é bem-sucedida. E é a mesma coisa que quer no Brasil.
O que a burguesia defende? O genocídio na Palestina ou a liberdade do povo palestino? A atividade sindical dos trabalhadores argentinos ou a repressão do governo Milei? A soberania da Venezuela ou a sua pilhagem por meio de petroleiras estrangeiras?
Só é capaz de dizer que não existe a luta de classes aquele que se beneficia da exploração dos pobres pelos ricos.
O que se segue é ainda mais cretino:
“O crédito está caro, não por culpa exclusiva dos banqueiros, mas porque o governo teima em manter um cabo de guerra com o Banco Central e quer porque quer gastar mais do que arrecada.”
O crédito está caro — e nem o autor consegue omitir isso — porque o Banco Central, comandado pelos banqueiros, decidiu manter a taxa de juros nas alturas. E isso não tem nada a ver com “cabo de guerra”.
Lula foi eleito pela maioria do povo brasileiro, porque essa maioria viu no petista alguém que defendesse um programa condizente com os seus interesses. Neste caso, os interesses da população nada têm a ver com a taxa de juros elevada, mas sim com o programa de desenvolvimento nacional que está sendo inviabilizado pela sabotagem do Banco Central.
O Banco Central “independente” é um enclave do grande capital no governo. É uma maneira de rasgar o voto da população e impor uma política profundamente impopular.
O argumento de que o governo “quer gastar mais do que arrecada” é igualmente imbecil. Lula não foi eleito para ser contador; foi eleito para governar o país. Se o povo estivesse mais preocupado com o “equilíbrio fiscal” do que com a geração de emprego, por exemplo, teria votado no PSDB. O problema é que esse partido foi derrotado em 2014, teve uma votação ridícula em 2018 e desistiu de concorrer em 2022.
O que chama a atenção particularmente no artigo, no entanto, não é a inconsistência do autor — o que é bastante comum nos articulistas da burguesia —, mas sim a sua conclusão:
“Diante da insatisfação popular com seu governo e da expectativa de poder cada vez menor, Lula resolveu esticar a corda e dividir ainda mais o país. Chega de nós contra eles. A hora é de unir, não de dividir.”
Para o articulista, portanto, Lula deveria “apanhar calado”. Isto é, deveria assistir a seu governo ser sabotado — e, portanto, a população ser atacada — sem qualquer reação. O incômodo do autor com a perspectiva de que o governo reaja e mobilize o povo é, em si, uma indicação de que há um golpe em marcha. Afinal, se a burguesia não estivesse preparando uma grande maldade, que mal haveria em Lula denunciar seus inimigos?