Em encontro com empresários brasileiros e chilenos em Brasília, presidentes reafirmam aliança estratégica, defendem soberania e integração e anunciam acordos
O presidente Lula e seu homólogo chileno Gabriel Boric encerraram nesta terça-feira (22), em Brasília, o Fórum Empresarial Brasil-Chile com um recado claro: é hora de a América do Sul assumir as rédeas do próprio destino. O encontro, realizado na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), reuniu empresários dos dois países e serviu como plataforma para relançar a integração regional com bases sólidas.
Os dois presidentes destacaram o bom momento da relação bilateral. O Chile é hoje o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas de China e Estados Unidos. O comércio entre os dois países somou US$ 11,7 bilhões em 2024, com destaque para os bens industriais e superávit brasileiro. No primeiro trimestre de 2025, as trocas alcançaram US$ 2,7 bilhões, sendo mais de US$ 1,5 bilhão em exportações brasileiras. No encontro, foram assinados 13 acordos de cooperação em áreas como ciência, tecnologia, justiça, pesca, defesa e cultura.
Em suas redes sociais, os líderes dos dois países divulgaram o encontro. Lula lembrou que a relação com o Chile “prova que um comércio regido por regras é o melhor caminho”.
O relacionamento Brasil-Chile é um exemplo contra o protecionismo. Outros países abusam de ações unilaterais e políticas de taxação, mas nossa relação prova que um comércio regido por regras é o melhor caminho. Por isso é simbólico ter estado ao lado do presidente @GabrielBoric… pic.twitter.com/66NbvU4zjm
— Lula (@LulaOficial) April 22, 2025
Por sua vez, Boric escreveu que teve “frutíferas reuniões com o presidente Lula […] Nas quais compartilhamos princípios e objetivos comuns em torno do desenvolvimento sustentável e equilibrado e da integração de nossos países no mundo”.
Soberania sul-americana
“Esse não é o momento da gente ficar com medo. Esse é o momento da gente criar coragem”, declarou Lula, ao lado de Boric, diante de empresários e autoridades. “A partir da nossa inteligência, a gente decide o que quer ser e como vai fazer comércio. A gente não quer guerra fria. A gente quer privilegiar os interesses soberanos do nosso povo”.
O presidente brasileiro reforçou que o país não pretende repetir antigas fórmulas de dependência de grandes potências. “Durante muitos séculos ficamos esperando que os Estados Unidos ou a Europa nos fizessem ricos. Agora olham pra China. Mas ninguém vai nos fazer ricos. O que precisamos é nós querermos ficar ricos”.
Ele também destacou o impacto das políticas sociais na economia. “Nesses últimos dois anos, os mais pobres tiveram um crescimento na renda de 10,7%. É isso que vai fazer mais turista brasileiro ir para o Chile e é isso que faz mais turista chileno vir pro Brasil.”
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O presidente chileno Gabriel Boric lembrou que “vivemos em um momento global complexo”. Segundo ele, “é fundamental que os países latino-americanos se unam, se fortaleçam, para poder enfrentar de forma solidária esses desafios”.
Os dois líderes concordaram que a relação entre Brasil e Chile deve ir além dos negócios. “Não queremos que este fórum seja apenas um espaço para tirar fotos. Queremos resultados concretos, com benefícios reais para os nossos povos”, afirmou Boric.
Por sua vez, Lula lembrou que ele e Boric são apenas facilitadores dos acordos. “O que a gente pode fazer é abrir as portas para que os empresários, que sabem fazer negócio, façam negócio”, declarou, ressaltando a importância de pensar bilateralmente. “Que os empresários chilenos e os empresários brasileiros saibam que o bom negócio é aquele em que os dois países ganham.”
Integração e complementaridade regional
No encontro, o presidente brasileiro reforçou a necessidade de valorização das mutualidades econômicas entre os países da região. “Nós precisamos pesquisar, aprofundar como se estivéssemos procurando petróleo, para que a gente possa utilizar todas as nossas complementaridades e fazer as outras economias voltarem a crescer”.
Lula citou ainda o potencial de inovação e integração tecnológica regional, usando como exemplo a Embraer. “Temos a terceira maior empresa de avião do mundo. Poderia ter um pouco de alguma coisa em vários países da América Latina, e todo mundo aqui utilizar avião da Embraer. Um avião sul-americano.”
Boric, por sua vez, celebrou o dinamismo da parceria comercial. “Hoje, alegra-me poder constatar que nossa relação comercial vive um excelente momento e que o Brasil é o nosso terceiro maior parceiro comercial, depois de China e Estados Unidos. O Chile, por sua vez, é um parceiro comercial mais importante para o Brasil do que a Inglaterra ou a França”.
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Novos caminhos
O presidente chileno também destacou as Rotas de Integração Sul-Americana, projeto que visa melhorar a conectividade entre os países da região. “Essa é uma amostra real, tangível, da integração regional, através de 2.400 quilômetros, de Campo Grande até os portos do Chile, passando também por Paraguai e Argentina. É uma obra que deixaremos e que é uma política de Estado”. A previsão é que a Rota Bioceânica de Capricórnio — que ligará os portos brasileiros nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina aos portos de Iquique, Mejillones e Antofagasta, no Chile — seja concluída até 2026.
Sob a liderança de Lula e Boric, Brasil e Chile reforçam um caminho de integração real, com soberania, desenvolvimento compartilhado e laços que ultrapassam cifras: são construídos em torno de valores democráticos, justiça e cooperação.
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