A esquerda, de modo geral, tem pintado Trump como o imperador do mundo, como podemos ver no artigo “Desapego imperial”, de Monica Hirst, publicado neste 8 de março (quarta-feira) no Brasil 247. É óbvio que atual administração merece críticas, mas o que nos chama a atenção é que Joe Biden, que foi muito mais autoritário e perigoso, não tem merecido o mesmo tratamento. Acontece no Brasil um fenômeno parecido com Fernando Henrique Cardoso, o FHC, serviçal do imperialismo, que arrasou a nossa economia, provavelmente o pior presidente que já tivemos, mas que segue sendo tratado como um intelectual.

Logo no primeiro parágrafo do artigo, a autora do artigo diz que “A combinação de uma autoridade máxima com um séquito leal e devotado outorgam ao atual presidencialismo americano uma rubrica imperial”. E qual rubrica mereceria Joe Biden, que incita o separatismo de Taiuan, financia a guerra na Ucrânia e o genocídio em Gaza, de democrata?

Na sequência, lemos que “Em seis semanas, uma atuação, levada à frente sem dever satisfação, desordenou o sistema de governo doméstico e mundial”, mas isso não é necessariamente ruim, uma vez que a “ordem mundial” é ditada pelo imperialismo que, por muito pouco, nos colocou em um Terceira Guerra. A rebelião dos países africanos, a resistência no Oriente Médio, tudo isso também “desordena”.

Os Estados Unidos sempre agiram sem dever satisfação, a diferença é que Donald Trump tem esse jeito histriônico, e a esquerda costuma se importar muito mais com a forma do que com o conteúdo. A administração Biden levou a Europa a pagar muito mais caro pelo gás natural, e, seguramente, isso não foi conseguido com tapinhas nas costas ou durante um churrasco entre amigos.

Ainda no primeiro parágrafo, Monica Hirst escreve que “a determinação transmitida em sua primeira alocução presidencial no Congresso confirmou o apoio do rebanho republicano e a funcionalidade de manter falsas verdades como seu principal nutriente comunicacional”. Aqui vemos a repetição de termos como “rebanho” quando se trata da extrema direita. E também a questão das “falsas verdades”, uma provável alusão às fake news.

É importante destacar esses pontos, pois a esquerda tem insistido nesses erros. Tratar o adversário político como gado não ajuda em nada. Temos visto isso no Brasil. Muitos trabalhadores, desiludidos com a esquerda, foram cooptados pelo discurso demagógico da extrema direita. Em vez de tentar trazer esses trabalhadores de volta por meio do debate e do convencimento, a esquerda pequeno-burguesa simplesmente os classifica como gado e abandona o diálogo. Ou seja, deixa que esses elementos continuem sob a influência do bolsonarismo.

No que diz respeito às fake news, esse tem sido um dos principais meios utilizados pelo imperialismo para impor uma ditadura judiciária pelo mundo. Os meios de comunicação controlados pelo grande capital continuam mentindo sem qualquer problema, enquanto partidos como o PCO figuram no Inquérito das Fake News, uma verdadeira afronta contra a Constituição. Na Europa, pessoas estão sendo presas por postagens nas redes sociais, mas a esquerda insiste em não ver.

Atos valem mais que palavras

No segundo parágrafo, lemos que Trump “aperta os botões que desatam um clima de guerra e conflituosidade internacional”. Se é para ficar apenas em um clima, ótimo, se compararmos às guerras que estavam ocorrendo e sendo preparadas pela administração de Joe ‘Genocida’ Biden.

Outro ponto que parte da esquerda não se conforma é com a reformulação que Trump vem promovendo. Como diz a autora do artigo, “Na frente interna, em nome do primado da eficiência, a administração pública federal tornou-se alvo de um processo de enxugamento conduzido pelo DOGE, que tem Elon Musk como seu ‘proprietário’, que já resultou na eliminação de diversas agências de governo e significaram a demissão ou rescisão contratual de aproximadamente 300 mil funcionários até fins de fevereiro último”.

A eliminação de entidades como a USAID deveria ser comemorada. São agentes do imperialismo incumbidos de preparar e atuar em golpes de Estado, em apoio a ataques criminosos contra civis, na formação de lobbies para retirar determinadas matérias do currículo escolar. Não o que se lamentar.

Quem liga para compromissos?

Monica Hirst diz que “A decisão de aplicar tarifas de 25% sobre produtos de origem mexicana e canadense, que ferem frontalmente os compromissos comerciais formalizados previamente, além de romper princípios essenciais do direito internacional indicam que Trump 2.0 descarta até as próprias ações dos anos de Trump 1.0”. Mas quem acredita nessa história de “sistema baseada em regras”?

A quebra de regras e acordos é uma constante. O que os sionistas estão fazendo neste momento na Faixa de Gaza e no sul do Líbano? Descumprindo acordos. Aliás, historicamente não cumprem acordos, uma vez que estão sob a sombra protetora do imperialismo.

Hirst diz que Trump no primeiro mandato financiou a oposição contra Nicolás Maduro, especialmente Juan Guaidó, e que “hoje, além de retirar qualquer tipo de ajuda aos grupos anti-Maduro”. Temos de perguntar, qual Trump era mais imperial, o primeiro ou o atual?

Em seguida, acusa dizendo que “a Casa Branca ordenou a suspensão do status de refugiados de milhares de venezuelanos nos EUA (em janeiro último eram 607 mil), e deixou de lado qualquer preocupação com a natureza do regime político venezuelano. – grifo nosso.

A preocupação com a natureza do regime é que Hirst considera o governo da Venezuela como uma ditadura. A mesma posição do imperialismo.

Defesa do aparato imperialista

Uma das preocupações de Monica Hirst é que para a atual administração, a OEA não parece ser aproveitável; ‘reformável’ de acordo com a expressão utilizada. (…) E contribui para fazer do desapego e fácil descarte um recurso legítimo de poder nos tempos que correm. – grifo nosso.

A OEA, que além de ficar a uma quadra da Casa Branca, é uma entidade golpista que participou ativamente contra Evo Morales. Esse organismo ficou quietinho durante a Guerra das Malvinas em vez de cumprir o TIAR, Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, também conhecido como o Tratado do Rio, que é um pacto de defesa mútua entre países americanos. Esse tratado estabelece que um ataque contra um dos membros é considerado um ataque contra todos.

Esses dois exemplos que comprovam que essa entidade é um instrumento imperialista de opressão na América Latina e alguém que se diga de esquerda jamais poderia dizer que se trata de um “recurso legítimo de poder”.

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Last Update: 10/03/2025