A crise política envolvendo a questão de ‘Israel’ devido ao genocídio cometido contra os palestinos, que chocou o mundo todo e expôs a podridão do regime sionista, obriga alguns grupos que, normalmente, se alinham ao imperialismo em diversas questões, a disfarçarem minimamente suas posições.
Um desses casos é o PSTU. O partido anteriormente assumiu diversas posições de apoio ao imperialismo, tendo se colocado a favor de diversos golpes de estado dados pelo imperialismo, como na Ucrânia, no Egito e até no Brasil.
Frequentemente, se posiciona contra o governo cubano e venezuelano e, mais recentemente se colocou a favor dos nazistas ucranianos durante seu conflito com a Rússia, inventando conceitos absurdos como o do “imperialismo russo”. Até no caso palestino, onde não havia como se posicionar francamente a favor de ‘Israel’, por ser algo muito absurdo, o PSTU se colocou contra as organizações da resistência armada do povo Palestino, como o Hamas, embarcando numa defesa genérica da “população palestina”, sem defender seu direito à luta armada contra o imperialismo.
No caso do conflito de ‘Israel’ contra o Irã, no entanto, houve uma espécie de recuo dos morenistas. Quem observar suas colocações de forma genérica, pode até pensar que finalmente assumiram a posição de defesa de um país oprimido contra o imperialismo assassino, mas uma análise mais detida mostra que isso não é fato.
Recentemente, reproduziram em seu sítio uma matéria da página norte-americana “Worker’s Voice”, com o título Tirem as mãos do Irã!. Na matéria há um aparente apoio ao Irã, mas é preciso ver com mais calma para compreender o que está por trás.
A matéria demonstra um erro de avaliação a respeito da guerra, dizendo que existe a possibilidade da “pressão dos ataques de mísseis iranianos quebrará a vontade da população israelense de apoiar as guerras infindáveis e fúteis de seu governo”. No entanto, todos que observam a situação na região podem ver com facilidade que a população israelense não dá apoio nenhuma à guerra do governo Netaniahu.
Muito pelo contrário, uma boa parte da população já começou a evacuar o país, a ponto de o governo israelense ter sido obrigado a fechar aeroportos e a proibir a saída de seu país, uma medida ditatorial e demonstrativa de um país que enfrenta um processo de dissolução. O que sustenta as ações israelenses não são o apoio do seu povo, mas o apoio do imperialismo, particularmente o norte-americano.
O autor afirma que estas são realizadas com a “total cumplicidade do governo dos EUA”, mas não é simplesmente isso. ‘Israel’ é um enclave do imperialismo na região. Tudo que a entidade sionista faz é diretamente encomendada pelo próprio imperialismo. Isso ficou muito claro quando o Chanceler alemão agradeceu aos israelenses por realizarem o seu “trabalho sujo”.
O autor se surpreende com o fato de os países-membros do G7 terem declarado seu total apoio a ‘Israel’ no conflito com o Irã, apesar de pouco antes “terem ameaçado Israel com sanções pelo genocídio em Gaza, um crime contra a humanidade que Israel continua cometendo sem cessar. Como isso é possível?”
A resposta é simples: os países imperialistas todos, sem exceção, são apoiadores, financiadores e incentivadores do genocídio palestino. Se houve alguma movimentação no sentido de repreender ‘Israel’ ou de supostamente sancioná-lo por suas ações, era tudo devido à gigantesca impopularidade do que acontecia lá e da pressão por parte da população local de seus países, que se colocava totalmente contra o conflito. Inclusive, é preciso ter clareza de que ‘Israel’ se virou contra o Irã justamente para que os países imperialistas pudessem ter um pretexto para apoiá-lo também em sua operação genocida contra Gaza.
O autor revela, no entanto, sua verdadeira posição ao tratar do “papel contraditório do Irã”. Ele afirma que “embora a agressão israelense tenha forçado o Irã a se defender das forças do imperialismo, a República Islâmica do Irã não é uma aliada de princípios da libertação política em geral, ou mesmo da Palestina em particular”, o que é totalmente descabido porque o Irã sempre foi um firme apoiador do Hamas e da Resistência Palestina.
A extensão desse apoio não é clara porque algumas das transações que ocorrem entre os grupos da resistência e o Irã são feitas de forma secreta, mas dizer que o Irã não é apoiador da Palestina é algo absurdo. A razão para tal acusação absurda é colocada mais a frente:
“Embora líderes religiosos iranianos tenham consistentemente oferecido apoio retórico à libertação palestina, eles apoiaram o regime de Assad na Síria, que reprimiu brutalmente os palestinos no exílio, tolerou silenciosamente a ocupação sionista das Colinas de Golã e colaborou com o imperialismo americano em sua ‘guerra ao terrorismo’, facilitando ‘rendições extraordinárias’ (detenções prolongadas e tortura) em seu território.”
O autor considera, portanto, que Assad era o problema na Síria e o regime que agora está lá, liderado pelo HTS, e que se declara abertamente “amigo de ‘Israel’” seria o verdadeiro regime apoiador da Palestina? É evidente que Assad era apoiado pelo Irã, assim como por outros grupos do Eixo da Resistência por ser um regime perseguido, assediado e atacado pelo imperialismo. Sua derrota na Síria foi uma vitória do imperialismo na região.
A ocupação sionista que foi supostamente ‘tolerada silenciosamente’ é fruto de uma situação em que não era possível aos iranianos efetivamente tomar ação militar sem correr grandes riscos, e a suposta colaboração com o imperialismo norte-americano carece de melhores explicações. O autor continua:
“No Iraque, coordenaram e colaboraram diretamente com os Estados Unidos para bombardear o país até a submissão e reforçar a divisão sectária. Na Ucrânia, apoiaram o imperialismo russo, fornecendo armas ao arsenal russo. E, internamente, massacraram esquerdistas e reprimiram ferozmente mulheres e minorias étnicas.”
Se foram cometidos erros durante a guerra do Iraque, esses efetivamente devem ser denunciados, mas nem por isso se pode classificar o governo iraniano como algum tipo de aliado do imperialismo devido a uma situação específica. O governo Lula, por exemplo, chegou a mandar tropas para o Haiti sob ordens diretas do imperialismo e nem por isso se pode considerar um governo 100% aliado do imperialismo.
É da natureza do nacionalismo burguês que haja algum tipo de oscilação entre colaborar e se enfrentar com o imperialismo. O Irã, no entanto, é um dos países que se mantém mais firmemente em oposição contra o imperialismo no mundo todo.
O caso da Ucrânia, citado inclusive pelo autor, é uma prova disso. Apesar de o PSTU não querer admitir, os ucranianos são a atual bucha de canhão do imperialismo para o enfrentamento com um país que prejudica muito seus interesses estratégicos: a Rússia. O Irã apoia a Rússia justamente pela sua postura de enfrentamento ao imperialismo. Depois de todas essas críticas e acusações totalmente descabidas e até desnecessárias, o autor parte para o disfarce:
“No entanto, apesar de todos esses crimes históricos, todo o Irã está sob ataque do imperialismo, e a República Islâmica está, com razão, lutando para defender a si mesma e ao seu povo. Uma mudança de regime sob a égide dos bombardeios israelenses e da pressão imperialista só pode resultar em maior subordinação do povo iraniano e deve ser combatida.”
Embora a colocação seja correta, ela vem apenas para ‘limpar a barra’ de alguém que está constantemente criticando o governo iraniano, que está sob ataque direto do imperialismo. A postura vacilante da esquerda é uma postura de apoio ao imperialismo e não de defesa do Irã.