Segundo Reinaldo Azevedo, lava-jateiro redimido, “João não é Pedro; 4.781 não é a Lava Jato, e fofoquinha não é Vaza Jato”. O título de sua coluna no UOL, construído com três negativas, parte do pressuposto de que a comparação é inevitável, exceto talvez pelo fato de que Bolsonaro não é Lula – este passou dois anos preso até que se percebesse que focinho de porco não é tomada.
Muito bem. Os defensores do todo-poderoso Xandão alegam que ele até pode ter desrespeitado o rito, mas que isso seria algo menor, que não configuraria ilegalidade. Pois é aí que a porca torce o rabo. O que se chama de “rito” no Direito equivale ao método na ciência. Tal qual o método, é o rito que garante o pressuposto da Justiça.
“Rito” não se confunde aqui com uso de toga e malhete, o martelo do juiz, que são apenas símbolos. Em Direito, existe o “rito processual”, ou seja, as etapas por que passa um processo para que tenha validade reconhecida. Quanto a isso, as coisas parecem claras, mas boa parte da esquerda só viu má-fé na reportagem da Folha de S. Paulo, que foi repercutida pelos demais jornais.
A interpretação é que o plano da burguesia é livrar o Bolsonaro de possível prisão sacrificando o Xandão, que virou ídolo da esquerda pequeno-burguesa. Então, é preciso defender o Xandão e seus métodos, que, segundo os ingênuos de plantão, seriam usados apenas contra os extremistas de direita. O próprio juiz, no entanto, deu provas do contrário no Inquérito das Fake News (o 4.781), que atingiu o PCO.
Chegou-se ao exagero de considerar qualquer discussão pública sobre eficiência da urna eletrônica como ato de golpismo, passível de punição. Enquanto isso, as urnas da Venezuela são postas em dúvida porque o sistema judicial seria controlado por Maduro. Ainda bem que, no Brasil, o sistema é controlado por uma entidade acima de qualquer suspeita.
Pode ser que queimar o Xandão seja mesmo uma estratégia da burguesia para manter vivo o Bolsonaro, mas, se assim for, o mais provável será que o próprio juiz faça parte da encenação – ou alguém acha que o Xandão é petista? Lula enfrenta muitas pressões, mas, caso consiga reeleger-se, pode ter um novo governo mais forte. Certamente, a burguesia está preparando alguma coisa para evitar esse cenário.
Sair em defesa do Alexandre de Moraes, representante da burguesia, é que não parece boa estratégia para a esquerda. As concessões do governo não atraem a simpatia da direita. Vejam-se os editoriais e colunas de jornais burgueses, todos criticando a relação de Lula com Maduro, mesmo sem que o Brasil reconheça o resultado da eleição venezuelana.
É difícil dizer o que o Lula deveria fazer, pois a pressão que ele sofre é imensa. Do lado de fora do governo, no entanto, a esquerda poderia ser mais coesa e menos suscetível aos engodos da burguesia. O Lula precisa do apoio de uma esquerda forte, que mobilize a população em torno do que reamente importa para o trabalhador. Uma esquerda hesitante, a reboque dos truques da burguesia, não ajuda em nada. Faz papelão quem se diz de esquerda e sai em defesa do juiz.