Em sua intervenção no ato do dia 10 de Maio, que comemorava a vitória soviética sobre o nazismo, Breno Altman questionou se o destino da esquerda seria lutar ou virar um puxadinho do Partido Democrata americano. O artigo TikTok, China e o pânico moral fabricado para sabotar a regulação no Brasil, de autoria de Reynaldo José Aragon Gonçalves, e publicado neste 15 no Brasil 247, revela que, pelo menos por enquanto, a função de puxadinho é a que vigora no País para a esquerda pequeno-burguesa.

O texto gira em torno da repercussão da gafe cometida pela primeira-dama, Rosângela “Janja” Lula da Silva, que questionar o presidente chinês sobre a necessidade da regulação do TikTok, alegando que a plataforma chinesa seria um vetor de corrupção das crianças e disseminação de ideias de extrema direita.

Indignado, Gonçalves disse que “a notícia não deveria ser o vazamento. Também não deveria ser o tom, o protocolo ou o desconforto. A notícia, se ainda houver espaço para jornalismo no Brasil, é que uma primeira-dama brasileira, diante do presidente da segunda maior potência do planeta, manifestou uma preocupação legítima, urgente e necessária: o impacto das redes sociais, em especial o TikTok, sobre crianças, mulheres e a democracia brasileira”.

Sempre que se fala em defesa de mulheres, crianças, e da democracia, é bom que a esquerda se preocupe. Invariavelmente, esses temas são utilizados para aprovar leis repressivas, ou inventar punições para crimes que sequer estão tipificados no código penal.

Regular virou eufemismo para censurar

Gonçalves escreve que “o que está em jogo aqui não é uma etiqueta protocolar, mas o tensionamento real em torno do debate sobre regulação das plataformas digitais no Brasil”. No entanto, o que se vê é uma censura sem precedentes. O Partido da Causa Operária (PCO), por exemplo, teve seus canais bloqueados em ano eleitoral pelo ministro Alexandre de Moraes.

Para o articulista, “o tema da regulação da informação, das redes sociais e da atuação das big techs no Brasil foi sequestrado por uma operação de distração que favorece justamente os grupos que não querem nenhum tipo de limite à atuação dessas empresas no território nacional”. Esses grupos querem ser favorecidos por um simples motivo: a censura atrapalha os negócios. E, ao contrário do pensa Gonçalves, a proibição só tem favorecido a extrema direita.

A exploração do caso pela imprensa golpista contra Janja já era de se esperar. Conforme se aproxima a próxima corrida eleitoral, a burguesia precisa queimar Lula e Bolsonaro para tentar enquadrar seu próprio candidato.

O autor do texto informa que a “CNN Brasil explorou a divisão dentro da delegação presidencial, dando palco para parlamentares da oposição acusarem Janja de ‘trazer o autoritarismo chinês para o Brasil’”. Gonçalves não soube criticar de maneira apropriada, deveria ter demonstrado a hipocrisia, pois a imprensa burguesa favorável à censura das redes.

Segundo Gonçalves, “o TikTok é hoje uma das principais ferramentas de disseminação de conteúdos negacionistas, antidemocráticos e pró-extrema-direita no país”. Esse jargão, “negacionismo”, ganhou força durante a pandemia de COVID-19. Quem ousasse questionar as vacinas era logo chamado de negacionista, propagador de fake news e arriscava ser processado e preso.

A proibição só favoreceu os grandes laboratórios farmacêuticos e, a cada dia, mais e mais notícias vão dando conta de que as vacinas tinham mesmo inúmeros problemas e que melhor teria sido mantido aberto o debate.

Por outro lado, a esquerda passa um atestado de incompetência, pois se existem pessoas disseminando mentiras nas redes, a esquerda deveria contrapor com a verdade. Como não consegue lutar, implora para que as instituições burguesas realizem o trabalho que certa esquerda não consegue.

O artigo fala que “algoritmos tóxicos têm promovido conteúdos de ódio, distorções da realidade e desafios perigosos para crianças brasileiras”. Lembra um pouco aquela antiga conversa de que a televisão botaria a juventude a perder no século passado. Gonçalves cita o caso de “um menino que morreu ao tentar o ‘desafio do desodorante’”. Crianças têm morrido desde sempre por fazerem algo impensado. No Brasil, porém, estão morrendo mais de pobreza e bala perdida.

Gonçalves sustenta que “o Brasil precisa estabelecer um sistema de regulação democrática, ancorado em sua Constituição e em suas instituições”. No entanto, a Carta diz que é livre a expressão, vedado o anonimato. O que se tem feito no País é inconstitucional.

Big techs fazem o que querem?

O articulista afirma que “as big techs atuam livremente, sem responsabilidade legal proporcional ao seu impacto. Qualquer tentativa de regulação vira alvo de pânico moral”. Mas quem está em pânico e fazendo uma campanha moral contra as redes são justamente os setores pequeno-burgueses da esquerda.

Um ponto fundamental no texto de Reynaldo José Aragon Gonçalves é que ele fala o tempo todo em defesa de soberania. Exatamente o argumento que Joe Biden vinha utilizando para banir o TikTok dos Estados Unidos.

Esses setores da esquerda nem escondem mais sua completa adesão à política do imperialismo — não por coincidência, o ataque é sobre uma empresa chinesa.

A implementação da censura nas redes e controle da informação é fundamental para o imperialismo impor sua ditadura pelo planeta. Conforme aumenta sua crise, setores que até ontem diziam combater o imperialismo, estão se mudando de armas e bagagens para uma política que, dentre outras mazelas, conduz o mundo para uma guerra generalizada.

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Last Update: 17/05/2025