Uma hora antes da entrevista de Emmanuel Macron à emissora pública France 2, na noite desta terça-feira 23, a esquerda chegou a um acordo interno e propôs o nome de Lucie Castets, uma funcionária pública de alto escalão desconhecida dos franceses, para ocupar a chefia de governo da França. Questionado sobre a escolha, o chefe de Estado disse que adiaria a nomeação de um novo governo para depois dos Jogos Olímpicos de Paris, em “meados de agosto”.
Nesta quarta-feira, os dirigentes de esquerda não medem as palavras para criticar a postura de Macron. Castets acusou o presidente de “negar a democracia”. “O momento é grave e não podemos adiar este tipo de decisão”, disse a candidata da esquerda, em entrevista à emissora France Inter. Ela também ressaltou que uma coalizão entre a esquerda e os partidos que apoiam Macron é “impossível”.
O coordenador da França Insubmissa, Manuel Bompard, disse que ficou “atordoado com o desprezo, a arrogância e a violência da intervenção” de Emmanuel Macron. “Tenho a impressão de ter de lidar com uma espécie de louco entrincheirado no [Palácio do] Eliseu”, disse o deputado, à rádio RTL.
O dirigente comunista Fabien Roussel, por sua vez, afirmou que o presidente “parece uma criança caprichosa que nega o resultado” das eleições legislativas.
Repercussão na imprensa
A imprensa francesa também analisa as decisões do chefe de Estado. “A esquerda chega a um acordo, Macron toma mais tempo”, diz a manchete do Figaro.
O jornal avalia que o presidente “não pareceu estar convencido” de que o nome sugerido pela Nova Frente Popular vai colocar um fim ao impasse iniciado no segundo turno das eleições legislativas, em 7 de julho. Desde então, a aliança de esquerda negociava internamente a escolha de uma pessoa para ser indicada para a chefia de governo.
Na entrevista, o presidente voltou a insistir que os partidos têm a “responsabilidade” de conseguir chegar a “consensos” para viabilizar a governabilidade do país a partir de setembro. Para Le Figaro, mesmo que Macron reconheça a própria derrota nas eleições, ele parece não compreender “o quanto a sua escolha funesta de dissolver a Assembleia degradou a política francesa” e faz o país viver um “suplício” para se recompor.
O Libération afirma que a economista Lucie Castets, é “uma desconhecida que resolve a equação da esquerda”. Ela fez carreira em altos cargos do funcionalismo público francês e foi secretária das Finanças da prefeitura de Paris.
Do outro lado, entretanto, Macron parece continuar a acreditar que “uma aliança entre a esquerda moderada, a direita e seus próprios aliados” ainda é possível para evitar uma primeira-ministra da oposição, salienta Libération.
“O desprezo demonstrado por Macron à opção de Castets não esteve ‘à altura’ do que exige o momento atual’, ao contrário do que ele próprio tem exigido dos partidos políticos, salienta o diário.