Na última terça-feira, dia 22 de abril, o portal Esquerda Diário, ligado ao MRT (Movimento Revolucionário dos Trabalhadores) publicou artigo a respeito do acidente ocorrido numa plataforma da Petrobrás no Rio de Janeiro na última segunda-feira (21). O artigo elenca uma série de acidentes e corretamente denuncia a política levada adiante pelo governo federal para a Petrobrás, com o repasse de dividendos aos acionistas em grande montante; a manutenção de contratos de privatização de ativos que subordina a produção à maximização dos repasses acionários e portanto mantém secundarizada a segurança, acarretando nos acidentes apontados.

“A luta por condições de trabalho seguras também passa pela luta contra uma empresa gerida para os acionistas privados e pela reestatização sem indenização de cada um dos ativos criminosamente vendidos nos últimos anos.”

Porém, o artigo do MRT cai num golpe clássico da burguesia, quando se propõe a apresentar seu programa para a gestão da empresa:

“A luta por segurança no trabalho encaramos como parte da luta por uma cadeia de produção de hidrocarbonetos que seja 100% de uma Petrobrás 100% estatal administrada democraticamente por seus trabalhadores junto a especialistas e ambientalistas eleitos em universidade [sic] públicas (grifo nosso)”.

Aqui se faz necessário esclarecer: a gestão da empresa ou está sob o controle dos trabalhadores ou não está. Ou ela precisa ser administrada por “administradores” e “especialistas”, ou pelos trabalhadores que a compõem. Sem sequer entrar no mérito de como se daria esse método de eleição, e o que significa “eleitos em universidades públicas” (seria o local da votação, de formação ou trabalho dos profissionais citados, ou seriam eles eleitos pelos membros de universidades públicas?), basta observarmos a dinâmica que ora se sucede quanto ao petróleo na Margem Equatorial.

O Ministério do Meio Ambiente, supostamente composto por tais especialistas e ambientalistas, impede a Petrobrás de explorar e de sequer pesquisar sobre o petróleo na Margem Equatorial. Seria esse setor que deveria estar na gestão da empresa junto aos trabalhadores da Petrobrás? A empresa, mais que isso, deve se preocupar acima de tudo com o quê? Com a exploração do recurso, a forma com que isso deve ocorrer, a precificação, ou com o meio ambiente? Não apenas isso, a Petrobrás possui setores próprios para a verificação de riscos. Seria necessário um setor externo à empresa que esteja acima dos trabalhadores?

Curioso é que o artigo do Esquerda Diário não toca no tema da Margem Equatorial, embora o assunto seja o mais pertinente já há anos na discussão nacional sobre o que toca a empresa. Apesar do incidente, mostrado em imagens, parecer de grande impacto, ele foi rapidamente contido, sem maiores danos ou grandes ferimentos. As causas do acidente ainda estão sendo investigadas.

Conforme denúncia do Sindipetro-Norte-Fluminense, “os acidentes, que vêm se tornando recorrentes são o resultado direto de anos de negligência de governos anteriores que abandonaram as políticas de segurança e integridade das unidades offshore, provocando o sucateamento das instalações”. Em outras palavras, a ingerência na política da empresa à revelia dos trabalhadores é o que faz com que seja colocado em risco não só os trabalhadores, mas toda sorte de acidentes, inclusive ambientais.

A eficácia da Petrobrás, apesar da sabotagem neoliberal em resolver o problema, demonstra a prontidão da empresa estatal para a exploração de petróleo na Margem Equatorial, o que pode e deve ser incrementado colocando a empresa sob o comando dos trabalhadores de maneira direta. A operação da empresa na Bacia de Campos, a pouco mais de 200 quilômetros da costa, local do acidente, atesta a plena capacidade da Petrobrás para explorar o recurso.

O MRT, ao não mencionar o problema da Margem Equatorial, mas reforçar a questão do papel de “ambientalistas” na empresa, demonstra em si uma campanha contra a exploração do petróleo. A organização usa demagogicamente uma aparente defesa do controle operário da Petrobrás para defender o controle da mesma por interesses diversos dos trabalhadores, por um setor completamente controlado pelo imperialismo, que é o setor ambiental. A defesa de “especialistas e ambientalistas junto aos trabalhadores” é, na verdade a defesa de uma Petrobrás subordinada àqueles que hoje controlam o Ibama. É uma defesa da subordinação dos trabalhadores aos “especialistas”, dos interesses nacionais aos “ambientais” (imperialistas), e da Petrobrás como qualquer coisa, menos como pedra angular para o desenvolvimento nacional.

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Last Update: 27/04/2025