Na última sexta-feira, 26 de julho, o portal Em defesa do comunismo, alinhado ao PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), publicou um artigo intitulado NOTA POLÍTICA CONJUNTA: Sobre as eleições presidenciais na Venezuela. A nota é assinada conjuntamente por este, pelo Partido Comunista da Venezuela (PCV), entre outros PCs de semelhante expressão.
Publicada na iminência da eleição, ocorrida no último domingo, dia 28, a nota não comenta sequer por uma vez os ataques imperialistas de tipo golpista contra o candidato dos trabalhadores da Venezuela, Nicolás Maduro. Ao contrário, o PCBR, e o PCV, juntam-se à campanha de ataques ao governo bolivariano, com ataques pela esquerda, encampando de maneira encoberta a frente golpista. Ademais, utilizam o mesmo argumento do imperialismo para atacar o governo e o presidente venezuelano, agora reeleito. A exemplo disso, o início do texto deixa claro:
“Contrário ao que difunde a propaganda governamental, estas eleições na Venezuela tem um profundo caráter antidemocrático, entre outras coisas, por impedir deliberadamente aos Partidos e forças revolucionárias a inscrição de candidaturas independentes” (grifo nosso).
Ora, uma acusação tão grave como essa, se pensaria, viria acompanhada de forte demonstração factual do ocorrido, com uma análise debruçada, provas etc. No entanto, não é assim. Em momento algum qualquer das acusações é detalhada, e são, ao invés disso, somadas, empilhadas uma sobre a outra. Vamos mais fundo:
“Durante os últimos anos, sofreram intervenções e foram postos na ilegalidade, pelas instruções governamentais, partidos e organizações antiimperialistas que nas eleições parlamentares de 2020 se apresentaram de forma independente, como a Alternativa Popular Revolucionária. Além disso, foram usurpados os registros eleitorais destes partidos, para serem utilizados ilegalmente a favor da candidatura do PSUV.”
Durante os últimos anos, se pensaria haver uma série de fatos, que poderiam ser apresentados com precisão, isso é, com datas, as medidas específicas do governo, argumentos apresentados, contraposições, denúncias realizadas ao longo do processo, todo um panorama que, contudo, não é apresentado. Ao passo em que o PCV e seus aliados inexpressivos pelo mundo se alinham ao imperialismo nos ataques ao governo da Venezuela, ao presidente Nicolás Maduro e ao PSUV, partido do governo (as principais barreiras que impedem o imperialismo de pôr a Venezuela de joelhos, como uma colônia dominada pelas petroleiras imperialistas), não justificam no detalhe nada.
Seria, pela posição política adotada, no mínimo uma exigência apresentar os pontos básicos sobre as acusações, que aparecem como eventos de fato etéreos, sem qualquer substância, exceto no que tange o ataque ao governo. Assim sendo, é justo, e não apenas isso, mas natural, tomar pelo caráter dado por seus autores ao texto, o caráter do próprio texto. Em outras palavras, não é uma nota de denúncia real, mas simplesmente um ataque ao governo, e ao que se indica, teleguiado pelo imperialismo.
O PCBR, assim, se soma ao PCV, já notório por seu alinhamento a Washington em oposição ao chavismo, como mais um grupelho de fachada para os interesses dos EUA dentro da esquerda latino-americana.
A situação é deixada ainda mais evidente:
“O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), sob o controle do PSUV, negou o registro de uma nova organização com fins eleitorais que permitiria às forças políticas não alinhadas aos dois polos burgueses, apresentar uma candidatura alternativa, como também, impediu ao PCV e outras forças o registro da candidatura de Manuel Isidro Molina, negando o acesso ao sistema de postulação à organização habilitada a se inscrever” (grifos nossos).
Como exposto anteriormente, as acusações sem substância do PCV serão por nós ignoradas em seu caráter próprio. Nos ateremos a seu caráter político. Primeiro, a nota dos PCs traça uma equivalência entre o governo nacionalista de Maduro, que defende o país do imperialismo, e a oposição golpista e fascista da Venezuela. Somente este fato bastaria para garantir o não alinhamento dos partidos autoproclamados comunistas à classe operária. Mas a coisa vai além, pois os PCs propõem uma alternativa, uma alternativa ao governo que vem enfrentando o imperialismo (e a manutenção e intensificação das sanções imperialistas são uma comprovação deste fato que está além de argumentos).
“Dentre as organizações de trabalhadores e forças antiimperialistas, lhes era negado seu direito democrático de participar das eleições.” A colocação é interessante. A Venezuela é um país brutalmente atacado pelo imperialismo. Nesse sentido, o chavismo é a principal ferramenta de combate dos trabalhadores venezuelanos. Por que, nos perguntamos, existiria qualquer setor dito antiimperialista, que não comporia uma frente única com o PSUV? A falta de argumentação sobre as acusações desvela um outro ponto. A falta de argumentação sobre a razão para a existência da oposição dita de esquerda ao governo de Nicolás Maduro. Nos parece algo despropositado, a não ser que seu propósito seja favorecer o imperialismo.
Vamos à conclusão:
“Os ataques contra o Partido Comunista da Venezuela estão inseridos em um contexto geral de agressividade contra a classe trabalhadora e seu movimento: ataque às condições de vida dos trabalhadores e suas famílias, ataque às lutas sindicais, e o encarceramento de quadros dos sindicatos. Da mesma forma que em outros países, a gestão ‘progressista’ na Venezuela é a preservação da exploração capitalista contra os trabalhadores, com uma maquiagem retórica que simula descaradamente posições antiimperialistas, socialistas e até revolucionárias” (grifo nosso).
Em que passo o governo de Nicolás Maduro, inimigo declarado, e quase um inimigo militar direto do imperialismo, tem condições de atacar sua única base de sustentação, que são os trabalhadores da Venezuela? Caso perca seu apoio popular em qualquer medida, o governo chavista incorre num risco imediato de golpe imperialista na Venezuela. As acusações apresentadas pelos PCs, portanto, se mostram não apenas vazias, mas falsas, e criminosas. Pois buscam criar justamente as condições para o sucesso de um golpe imperialista na Venezuela, orquestrado pelo único outro setor real que existe naquele país: a oposição da direita fascista, fantoche do imperialismo.