As últimas semanas nos ofereceram excelentes oportunidades para enfrentar – e contradizer – a máxima de que esporte e política não se misturam. Se misturam, sim, e isso é bom.
Aos movimentos contra a sordidez do Projeto de Lei dos estupradores juntaram-se as manifestações de um jovem futebolista contra o racismo e as de um outro jovem futebolista contra a direita reacionária pelo mundo.
Não é demais lembrar que, pela primeira vez na história do futebol espanhol, os torcedores de um time – o Valencia – foram condenados à prisão pela prática de atos racistas.
“Não sou vítima de racismo. Eu sou algoz de racistas”, disse um jogador de futebol, do Real Madrid, depois da decisão da Justiça espanhola.
No domingo 16, um jogador de futebol, capitão da seleção francesa e estrela do Paris Saint-Germain pediu, em uma entrevista coletiva concedida na Alemanha, que os jovens compareçam às urnas para evitar a vitória da extrema-direita.
Depois disso, 160 atletas franceses publicaram uma carta conjunta no jornal esportivo L’Equipe para pedir uma “mobilização” geral contra a ameaça política que paira sobre o país.
Esta é uma boa hora para reforçarmos a necessidade de esportistas destacados, com seu poder de comunicação e influência, se colocarem lado a lado com seus iguais nos caminhos da evolução da humanidade contra o conservadorismo, o preconceito e a obscuridade das falsas notícias.
A um mês do início dos Jogos Olímpicos de Paris, maior evento de confraternização humana ligado ao esporte, acompanhamos, aqui no Brasil – que atravessa um outono quente e castigado pelas chuvas –, os infindáveis imbróglios envolvendo o futebol.
Refiro-me especialmente às polêmicas do caso Dudu, em sua transferência do Palmeiras para o Cruzeiro, e da arbitragem do jogo entre o Atlético Mineiro e o mesmo Palmeiras, com a expulsão de Hulk e Paulinho.
Dudu está em negociação com o Cruzeiro e há um acordo assinado entre ambas as equipes. Falta, no entanto, a assinatura do jogador de 32 anos.
Logo de início, me impressionou o anúncio da possível transferência do atleta, dada a sua importância para o elenco do Palmeiras.
Dudu deve ter ficado incomodado com a reserva, depois de longo período como titular, e se entusiasmado com uma proposta vantajosa em termos de valores e tempo de contrato.
Conforme noticiado pelo site Globo Esporte e pelo Lance!, depois do anúncio da transferência, houve reuniões entre pessoas que cuidam da carreira do atleta, além de um encontro do jogador com a Mancha Verde.
E assim, após o acerto entre as três partes e o anúncio da contratação, Dudu comunicou sua desistência. A trapalhada provocou irritação geral.
A situação criada deixou o jogador em maus lençóis e gerou uma reação destemperada de dirigentes da “Raposa”, que anunciaram a desistência definitiva da contratação.
A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, em entrevista concedida ao GE, insistiu em dizer que vai atuar, como sempre, de modo racional e transparente, priorizando os interesses do clube.
Na entrevista, ela cravou: “Pelo Palmeiras, ele está vendido”.
No caso da confusão pelas expulsões, principalmente do capitão Hulk, ainda no primeiro tempo de Atlético Mineiro vs. Palmeiras, na arena MRV, deu encrenca para todo lado.
O jogador recebeu dois cartões amarelos, em sequência, do árbitro Rodrigo José Pereira de Lima, por reclamação.
O cartão vermelho aplicado ao jogador foi supercriticado e alimentou as desconfianças que vêm sendo incensadas por John Textor, dono da SAF do Botafogo.
Publicado na edição n° 1316 de CartaCapital, em 26 de junho de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Esporte e política’