De acordo com dados da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev), mais de 13 milhões de trabalhadores fizeram simulações para conseguir um empréstimo pelo Programa Crédito do Trabalhador na Carteira Digital de Trabalho, lançado na última sexta-feira (21).
Dados apontam ainda que o programa recebeu mais de 1,4 milhão de propostas, das quais 1.349 foram fechadas.
Para analisar o impacto da medida na economia brasileira, a bancada do programa Nova Economia, da TVGGN, contou com a participação de Leandro Ferreira, fundador e presidente da Rede Brasileira de Renda Básica, e Marisa Rossignoli, conselheira do Corecon-SP e membro da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin).
Um dos pontos exaltados por ambos os especialistas é a possibilidade de substituição de créditos mais caros por créditos mais baratos.
“Mas eu acho que o risco que a gente corre é justamente de fazer um novo crédito, de acabar, às vezes até pela atração de uma suposta taxa menor, e acabar trazendo mais endividamento”, alerta a especialista.
Leandro Ferreira lembra que, no governo anterior havia um crédito consignado para beneficiários do Bolsa Família, que nada mais era que uma antecipação do benefício.
“Então, o cara pegava o crédito consignado, que tinha juros muito ruins, era até pior do que esse consignado que está lançando agora, que tem os seus bons efeitos esperados, mas ele ficava endividado e isso comprometia o benefício lá na frente. Então, na prática, isso transformava a política social num colateral para o consignado. O que a gente está vendo nesse caso agora é algo para corrigir medidas de crédito que são muito piores”, observa.
Assim, o consignado para CLTs é uma possibilidade de o trabalhador trocar uma dívida mais alta por outra mais barata e, ainda, corrigir “regras esdrúxulas” criadas a partir do consignado para o Bolsa Família.
“Mas é importante dizer que ainda tem a história do consignado do BPC. Isso não foi embora. Diferentemente do Bolsa Família, esse consignado do BPC acaba sendo algo similar ao consignado do aposentado. Então, a gente precisa ficar atento para que esse excesso de financeirização, da ação do Estado. Não acabe por os beneficiários em uma enrascada maior do que aquilo que ele vem para resolver”, continua o presidente da Rede Brasileira de Renda Básica.
Avanços
Na análise de Marisa Rossignoli, o país está avançando no quesito educação financeira, tendo em vista que a temática foi incluída na grade dos estudantes do Ensino Médio.
“Mas eu acho que é uma corrida desleal. Se por um lado a gente avança em alguns pontos na educação financeira, por outro lado, a oferta de crédito e o assédio para que o trabalhador faça uso desse crédito é muito grande. A gente vê assédio para o saque-aniversário, a gente vê assédio para consignados, a gente vê uma série, eu uso essa expressão mesmo, de assédio, pois a oferta de crédito é muito grande”, emendou a conselheira do Corecon-SP, que sugere, inclusive, a restrição de ações de telemarketing para captar mais interessados em empréstimos consignados.
Ao longo da entrevista, os convidados falaram ainda sobre o impacto das bets no bolso dos brasileiros. Confira o debate na íntegra em:
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