
A escritora Marina Colasanti, autora de obras que atravessam gerações e dialogam com leitores de todas as idades, morreu nesta terça-feira (28), aos 87 anos, em sua casa no Rio de Janeiro. Reconhecida internacionalmente por sua contribuição à literatura infantojuvenil e por sua escrita feminista pioneira, Marina deixa um legado que inclui mais de 50 livros, entre contos, crônicas, poesias e ensaios, além de inúmeros prêmios e uma influência que transcende fronteiras.
Nascida em 1937 em Asmara, capital da Eritreia, na África, Marina era filha de italianos e teve uma infância marcada por deslocamentos constantes devido à Segunda Guerra Mundial.
Sem muitos amigos ou brinquedos, encontrou nos livros seu refúgio e sua paixão. Ainda criança, devorou clássicos como “Pinóquio”, contos dos irmãos Grimm e adaptações de “Dom Quixote” e “Odisseia”. Essas histórias, repletas de magia e fantasia, moldaram sua imaginação e influenciaram sua carreira literária.
Em 1948, a família se mudou para o Brasil, onde Marina passou a viver no Rio de Janeiro, na mansão de sua tia-avó, a cantora lírica Gabriella Besanzoni, no atual Parque Lage. Foi ali que ela começou a se dedicar às artes plásticas, frequentando a Escola Nacional de Belas Artes e se especializando em gravura, habilidade que mais tarde a tornaria ilustradora de muitos de seus próprios livros.
No entanto, foi no jornalismo que Marina encontrou seu caminho inicial, atuando como redatora, editora e cronista no Jornal do Brasil.
Sua estreia literária ocorreu em 1968, com o livro “Eu Sozinha”, uma coletânea de crônicas autobiográficas que colocavam a mulher e a solidão feminina no centro da narrativa. Publicado durante o regime militar, o livro marcou o início de um projeto literário feminista pioneiro no Brasil.

Marina abordava temas como a condição da mulher e as relações de gênero com uma sensibilidade única, evitando o proselitismo e explorando a complexidade humana em textos como o poema “Sexta-Feira à Noite”, que descreve com ironia as dinâmicas de poder entre homens e mulheres.
Mas foi na literatura infantojuvenil que Marina Colasanti deixou sua marca mais duradoura. Inspirada pelos contos de fadas clássicos que leu na infância, ela revolucionou o gênero no Brasil ao rejeitar as versões açucaradas e comerciais de histórias como as de Walt Disney.
Em obras como “Uma Ideia Toda Azul” (1979) e “A Moça Tecelã” (2004), Marina resgatou a essência dos contos originais, criando narrativas que respeitavam a inteligência das crianças e evitavam lições morais simplistas. “A literatura infantil não precisa ensinar nada”, defendia a autora, cujas histórias são celebradas por sua profundidade e universalidade.
Ao longo de sua carreira, Marina recebeu mais de 20 prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e nove Jabutis, além de reconhecimento internacional, como o Prêmio Iberoamericano SM e indicações ao Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantojuvenil. Em 2023, foi agraciada com o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra.
Conheça as redes sociais do DCM:
⚪️Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo
🟣Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line