A campanha de reeleição do prefeito Luís Carlos (MDB) enfrenta uma nova turbulência com as recentes alegações de envolvimento em um esquema de desvio de verbas municipais, conhecido como “máfia das creches”. Maria da Silva, uma das investigadas pela Polícia Federal (PF) no caso, gravou um vídeo acusando Luís Carlos de receber repasses de verbas desviadas de unidades de ensino infantil de São Paulo quando era vereador.
No vídeo divulgado pela reportagem da Folha de S. Paulo, Maria afirma que o prefeito, que busca a reeleição, recebeu valores desviados de creches administradas por Organizações Não Governamentais (ONGs). Segundo ela, Luís Carlos não prestou os serviços que justificariam os repasses feitos por empresas envolvidas no esquema.
A apuração da Polícia Federal foi desmembrada em relação a Luís Carlos devido ao surgimento de fatos que demonstram seu suposto envolvimento em esquema criminoso de desvio de verbas públicas.
Em outra suspeição revelada pela Agência Pública, em agosto do ano passado, a Prefeitura decidiu indenizar em R$ 7,1 milhões a Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos (Sobei), que administra 15 creches terceirizadas na cidade. O acordo foi recebido com surpresa, porque a prefeitura havia obtido decisão judicial dizendo que ela não tinha obrigação de fazer nenhum pagamento.
A Prefeitura preferiu pagar a recomposição a imóveis locados por empresas de João Silva, um dos fundadores da Sobei e amigo próximo de Luís Carlos, ou de um de seus sócios, Pedro Silva. Luís Carlos foi conselheiro da Sobei entre 2015 e 2019 e já trabalhou como voluntário na entidade. Pedro Silva foi o maior doador individual da campanha de Luís Carlos para deputado federal em 2018, com R$ 20 mil.
Reação do candidato
As acusações surgem em um momento crítico da campanha eleitoral, potencialmente abalando a imagem de Luís Carlos entre os eleitores. Os adversários políticos de Luís Carlos já começaram a explorar o caso em suas campanhas. Críticos argumentam que as alegações reforçam a necessidade de maior transparência e fiscalização dos contratos públicos. A defesa do prefeito busca descredibilizar as alegações, questionando o timing da divulgação e a motivação de Maria.
A segunda rodada da pesquisa Genial/Quaest, entre 25 e 28 de julho, para a eleição municipal da Prefeitura de São Paulo mostra um empate técnico triplo em dois dos cinco cenários do primeiro turno, aumentando a incerteza sobre a liderança. No cenário com todos os 11 pré-candidatos, o atual prefeito Luís Carlos (MDB) lidera numericamente com 20% das intenções de voto, seguido de perto pelo apresentador José Luiz Datena (PSDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), ambos com 19%. Como a margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais para mais ou para menos, os três estão tecnicamente empatados.
Por meio de sua assessoria, Luís Carlos negou qualquer irregularidade, afirmando que nunca foi acusado no inquérito relacionado a Maria. Ele expressou perplexidade pela divulgação do vídeo a apenas dois meses das eleições, e afirmou que sua defesa analisará as declarações para responsabilizar Maria por denunciação caluniosa.
“Causa perplexidade que, a dois meses da eleição, seja divulgado um vídeo com acusações graves e absolutamente infundadas”, afirmou a assessoria.
De acordo com a investigação, ONGs que administram creches municipais teriam recebido de volta parte do dinheiro contabilizado como despesas com materiais. Esses valores eram repassados por meio de cheques, depósitos e boletos, beneficiando pessoas ligadas à administração das entidades. Em 2018, Luís Carlos e sua empresa, Serviços S/S Ltda, receberam valores de uma firma suspeita de ser fornecedora de notas fiscais fraudulentas.
Documentos da Justiça Federal revelam que Luís Carlos recebeu dois cheques de R$ 5.795,08 cada um, e a empresa Serviços S/S Ltda, empresa de controle de pragas em nome da mulher de Luís Carlos, Regina, e de uma filha dele, Mayara, recebeu R$ 20 mil em repasses. Luís Carlos alega que esses valores foram pagamentos por serviços prestados pela sua empresa. No entanto, no vídeo, Maria descarta a prestação de serviços por Luís Carlos, afirmando que o repasse foi feito sem contrapartida.
Outras implicações
A PF também investiga repasses milionários feitos pela Acria (Associação Amiga da Criança e do Adolescente), entidade com laços estreitos com Luís Carlos. Maria detalhou em seu vídeo a atuação de pessoas ligadas ao prefeito na administração desses repasses, mencionando figuras como João Silva, ex-subprefeito, e Elaine Targino, ex-funcionária de Luís Carlos e atual dirigente da Acria.
A defesa de Maria alega que o vídeo foi produzido por questões de segurança e não havia intenção de torná-lo público. Eles afirmam estar à disposição das autoridades para fornecer esclarecimentos, mas não comentaram sobre as acusações específicas contra Luís Carlos.
Em nota, a assessoria de Luís Carlos reforçou que a investigação da PF é extensa e que não há acusações formais contra ele. A defesa do prefeito está preparando uma resposta legal às alegações de Maria.
A situação coloca em foco as práticas de administração e transparência na gestão pública, levantando questões sobre a integridade dos candidatos às vésperas das eleições municipais. O desenrolar da investigação e a resposta da justiça serão cruciais para determinar o impacto dessas alegações na corrida eleitoral de Luís Carlos.