Euler Nejm: setor supermercadista avança, mas em uma economia que cresce superficialmente
O ano de 2024 foi bom para o setor supermercadista, que avançou no país com o aumento do consumo. Mas, da mesma forma que outros setores, falta mão-de-obra para as várias fases de prestação de serviços nos supermercados, segundo o presidente do Grupo Supernosso, Euler Nejm. E mesmo driblando as dificuldades, ele conseguiu um crescimento em 2024 de cerca de 10%, três vezes maior do que o crescimento do PIB brasileiro.
Como foi 2024 para o setor supermercadista?
O ano de 2024 foi mais um ano marcado de muitas aberturas de loja no setor. Tanto de supermercados, quanto de atacarejo Brasil afora. Em Minas Gerais não foi diferente. O setor é muito competitivo e por isso cada vez é mais eficiente. Isso porque nessa competitividade, temos que estar sempre em busca de automação, de eficiência, para poder sobreviver e crescer. O maior desafio é falta de recursos humanos, de pessoal de operação de loja. Está difícil contratar, está difícil reter, por mais benefícios que a gente crie e treine o pessoal. Eu acho que a gente acaba perdendo pelos benefícios do governo e pelos trabalhos informais que surgiram e que acabam remunerando o trabalhador de baixa capacidade de força de trabalho. Especificamente sobre o Grupo Supernosso, comemoramos um ano de inaugurações tanto do Supernosso- foram 3 lojas- uma do Apoio Mineiro, dobramos a capacidade da distribuidora Deck Minas e crescemos nas indústrias Raro. Eu tenho que celebrar, porque esse foi um ano de crescimento de dois dígitos. Crescemos 15% no faturamento. Foi um ano de desafios, mas superamos com o trabalho de equipe. Só temos a comemorar, graças a Deus.
Nessa questão da mão-de-obra, qual seria a alternativa?
Nós estamos aumentando o salário, aumentando os benefícios, fazendo um trabalho de retenção do funcionário mas, por incrível que pareça, está difícil. Nós estamos falando em automação, mas muita coisa não tem como automatizar, como é o caso do abastecimento de gôndola, o atendimento ao consumidor, isso tudo é muito importante, o transporte. Então esse é um setor que emprega muito e fica deficiente nessa época, no final do ano. Foi um trabalho muito intenso de recursos humanos, de pessoas, muito intenso para a gente manter um número razoável de trabalhadores dentro de loja para atender o consumidor. Eu estou com mais de 500 vagas em aberto.
O setor está crescendo, não cresce mais porque não tem mão de obra?
Mão de obra é um dos entraves. Agora, o setor não pode crescer mais porque está crescendo de forma forte e o mercado não está crescendo dessa forma. Ou seja, nós estamos investindo na abertura de loja, com um investimento substancial e o mercado, o poder aquisitivo não cresce nessa proporção. É quase que um “salve-se quem puder”.
O mercado financeiro está certo ao dizer que esse crescimento da economia no país é artificial?
É. A economia está crescendo com o consumo e em algum momento isso vai parar. Há um incentivo ao consumo. O pessoal está ganhando mais, com um quase pleno emprego. Estou dizendo da dificuldade de contratação. Então, está girando recursos no mercado, mas é voltado para o consumo. A produtividade no Brasil vem caindo ao longo de 20 anos.
As vendas no final do ano?
Neste final de ano, no Natal e Ano-Novo, projetamos um crescimento de 10% sobre o ano 2023.
Em termos de faturamento, significa o que?
Nosso faturamento cresceu 10%. É durante o ano, foi um crescimento flat, um crescimento robusto, são 2 dígitos. Com a economia, com o PIB que cresceu em 3%. Então, nós crescemos 3 vezes o PIB.
Isso já era esperado, chegou a surpreender?
Estamos investindo para isso. E para 2025, a expectativa é manter esse crescimento, com mais investimento, mais abertura de lojas.
E sobre a abertura de lojas em outros estados?
Continuamos os estudos, mas por enquanto Minas Gerais continua com oportunidades. Então, estamos consolidando os investimentos dentro do estado.
Hoje o Grupo tem quantas lojas?
São 60 lojas, divididas em Supernosso e Apoio e nos condomínios passamos de 200 em Belo Horizonte, e agora nós expandimos como franquia. Estamos com 500 pontos no Brasil. Estamos atuando em Goiás, Espírito Santo, expandindo através de franquia.
Em relação a economia, é brasileira. O governo está no caminho certo?
Bom, eu acho que todo governo tem acertos e falhas. O governo do PT, acho que falha, porque não procura reduzir gastos. Eu acho que, assim como a gente administra a empresa, com você tendo que medir a receita e a despesa, se você só gastar a conta chega. O governo apresentou um plano, não tão robusto, para assegurar as despesas e logo em seguida anunciou aumento do teto do Imposto de Renda. Ele tentou reduzir uma despesa e já anunciou um gasto maior. Aí fica difícil. Isso atrapalhou e o mercado financeiro reagiu negativamente. Aí vem expectativa de aumento de juro. O mercado financeiro vive muito de expectativa. Mas a longo prazo, eu acredito no Brasil, acredito na condução da economia. O Brasil tem muitas oportunidades, tem recursos. É um país abençoado.
E o Mercosul. Esse acordo com a União Europeia vai ser importante?
Acordos comerciais sempre somam, são importantes, mas cada país procura os interesses próprios. Esses acordos firmados procuram comungar interesses comuns. Procuram agregar interesses comuns e isso é sempre positivo. Significa geração de negócios, de riquezas. Acho que a política externa do nosso governo atual é muito favorável. Ele não fecha as portas para nenhuma organização, principalmente econômica.
Isso significa vinhos mais baratos, produtos mais baratos chegando aos supermercados?
Os importados não, porque o dólar reagiu negativamente. Tivemos um ano em que a nossa moeda, o Real, foi a moeda mais desvalorizada no ano de 2024, em torno de 20% frente às demais moedas, então, os produtos importados tendem a ficar mais caros. Vai ser um ano economicamente mais difícil para o país, com a expectativa de um PIB menor do que esse ano, mas o Brasil sempre supera a expectativa. O PIB vem sempre superando a projeção que o mundo faz. Com todas as dificuldades, o Brasil vem se superando e vem tendo um crescimento favorável. Essa nação é abençoada.
Com a mudança na presidência do Banco Central, você acredita em mudanças na condução da taxa Selic?
Sou favorável a Independência do Banco Central porque ele é técnico. E a taxa Selic é uma importante ferramenta para incentivar e segurar a economia. E essa independência do Banco Central deve e vai ser mantida.