Wagner Gomes 

Como não há governo — só performance — restou ao Planalto ressuscitar a surrada luta de classes, agora em embalagem de liquidação: “taxação BBB” — bilionários, bancos e bets, que soa como balelas, balelas e balelas, em tempos de narrativas acima de tudo. É o Estado contra o lucro, em uma espécie de fábula fiscal para tempos cínicos. Uma narrativa pronta, onde ricos malvados enfrentam pobres virtuosos, vendida como justiça fiscal, mas nascida do desespero. Quando falta projeto, inventa-se um inimigo. A retórica substitui a política. O governo posa de Robin Hood de palanque, enquanto protege a floresta de privilégios onde seus aliados se escondem. Agora, ameaça ir ao STF em busca de habeas corpus para taxação. Nenhuma linha sobre o Estado caro, ineficiente e intocável. Nessa justiça fiscal de vitrine, lucro presumido virou crime e a empresa média, inimiga. O que vale é taxar para governar. Já os servidores e os amigos do rei seguem heróis, intocáveis. A arrecadação sobe vorazmente, mas o gasto virou vício — e, como todo vício, se justifica com mentira. A imprensa, em boa parte, colabora: releases viram manchetes, colunistas confundem análise com militância. Denunciar gastos virou pecado progressista; criticar o desequilíbrio, defesa dos ricos. Reportagem cede lugar a revezamento de porta-vozes. E o jornalismo, panfletário, se pergunta por que perdeu relevância. A inflação resiste. A confiança derrete. E o Banco Central, presidido por Gabriel Galípolo (foto/reprodução internet), o único com alguma racionalidade, vira vilão de ocasião. A Nação envelhece; o cinismo, não. Brasília vive de narrativas. E o jornalismo, cada vez mais, também. Aposta-se no antagonismo. Mas, desta vez, pode render só indiferença. 

Wagner Gomes – Articulista  

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Last Update: 28/06/2025