Donald Trump admitiu em sua rede social que por trás dos ataques às instalações nucleares no Irã, há uma ofensiva pela mudança do regime iraniano. A fala, feita na sua rede Truth Social, contrariou todo o movimento de seu governo – e endossado por organismos internacionais e líderes europeus chave – de que os ataques visavam somente repreender a construção de armas nucleares pelo Irã.
“Esta missão não foi e não é sobre mudança de regime [do Irã]”, disse o Secretário de Defesa Pete Hegseth, neste domingo (22). “Não queremos uma mudança de regime”, insistiu o vice-presidente JD Vance, em entrevista ao programa “Meet The Press”, da NBC. “Os EUA não estão em guerra com o Irã, mas em guerra com o programa nuclear do Irã”, manteve o braço-direito de Trump.
Horas depois, abertamente explícito e contrário à cautela da sua própria Administração, Trump assumiu, na noite deste domingo: “Não é politicamente correto usar o termo ‘Mudança de Regime’, mas se o atual regime iraniano não consegue tornar o Irã grande novamente, por que não haveria uma mudança de regime???”.
A fala ocorre ainda em meio a um momento crucial do conflito de Israel, quando o genocídio em Gaza estava começando a aderir maiores rechaços da comunidade internacional, principalmente de países europeus, e de organismos internacionais.
Os ataques iniciados por Netanyahu ao Irã, e continuados por Trump, conseguiram virar o discurso de líderes internacionais que já não podiam manter neutralidade frente ao genocídio palestino. Quando a imagem do primeiro-ministro de Israel sofria o maior nível de desgaste junto aos pares, desde que o conflito na área se iniciou há mais de 600 dias, desde outubro de 2023, ao mirar o Teerã, Netanyahu volta a receber respaldo.
‘Trabalho sujo’
“Israel está fazendo o trabalho sujo” dos países ocidentais ao bombardear o Irã, escancarou a lógica o chanceler alemão, Friedrich Merz. Com maior discrição, mas também aderindo ao movimento, Emmanuel Macron responsabilizou o Teerã pelos ataques.
De forma similar, Reino Unido e organizações como a Comissão Europeia e a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) legitimaram a atuação de Israel e dos EUA.
Nesta segunda-feira (23), o secretário-geral da OTAN Mark Rutte reafirmou que o Irã “não deve desenvolver armas nucleares” e que os ataques não ferem o direito internacional. “Meu principal medo é que Teerã possa ter a bomba atômica, o que seria uma ameaça a Israel e a toda a região”, disse.
Antes de pedir “diplomacia”, a vice-presidente da Comissão Europeia, Kaja Kallas, responsabilizou o Teerã. “O Irã não pode ter uma bomba nuclear, e a diplomacia é a solução para evitar isso”, disse. Mas martelou que a União Europeia “não será conivente” com a aceleração do programa nuclear iraniano. “Todos concordamos sobre a necessidade urgente de desescalada.”
A conivência de organismos e lideranças internacionais com os EUA, por outro lado, levanta camadas mais graves ao conflito que tem um potencial perigoso de escalada. Ao admitir que o objetivo é, também, derrubar o governo iraniano, Trump abre ainda mais espaço para respostas ao bombardeio, com a intensificação dos ataques na região e internacional, o que deve iniciar uma fase ainda mais brutal do conflito.