Ex-ministro do Turismo tentou viabilizar a saída do país de um dos principais investigados no caso do golpe. O plano foi frustrado, mas não esquecido


Nesta sexta-feira (13), a Polícia Federal prendeu o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto em Recife (PE). A operação, surpreendente, foi confirmada por fontes próximas à investigação. Machado é alvo de um inquérito que apura obstrução à Justiça, com suspeitas de que ele teria agido para facilitar a saída do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, do país.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) já pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de uma investigação formal contra o ex-ministro, acusado de favorecimento pessoal e participação em organização criminosa. O procurador-geral Paulo Gonet, responsável pelo pedido, baseou-se em informações da própria PF.

Ex-ministro do Turismo Gilson Machado é preso pela PF em Recife por suspeita de ajudar fuga de Mauro Cid

De acordo com as apurações, Gilson Machado teria atuado diretamente no dia 12 de maio para conseguir um passaporte português no consulado de Recife, “com o objetivo de viabilizar a saída do território nacional” de Mauro Cid — figura central nas investigações sobre os planos golpistas após a derrota de Bolsonaro em 2022.

Além disso, o ex-ministro usou seu perfil no Instagram para organizar uma campanha de arrecadação de recursos em favor de Bolsonaro, o que chamou a atenção das autoridades por possíveis irregularidades, como captação ilegal de dinheiro ou ocultação de financiamento político.

Na petição enviada ao STF, Gonet afirma que, mesmo sem conseguir o passaporte para Cid, há risco de Machado buscar alternativas em outras embaixadas. O procurador também destaca que os indícios apontam para uma tentativa clara de atrapalhar as investigações sobre os atos golpistas.

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Agora, o ministro Alexandre de Moraes, responsável pelos processos antidemocráticos no STF, deve analisar o pedido de abertura do inquérito e autorizar possíveis buscas e apreensões. Segundo a PGR, essas medidas são essenciais para avançar no caso e podem revelar documentos, registros digitais e outras provas.

Quem é Gilson Machado?

Acusado de tentar ajudar Mauro Cid a fugir do país, Gilson Machado, ex-ministro de Bolsonaro, foi preso pela PF, reacendendo suspeitas de proteção entre aliados bolsonaristas
A tentativa de proteger Cid pode custar caro a Machado, que agora é alvo de inquérito no STF por favorecimento pessoal e obstrução criminal / Reprodução

Aos 57 anos, Gilson Machado Neto é uma das figuras mais conhecidas do bolsonarismo em Pernambuco. Sanfoneiro da banda de forró Brucelose, empresário do setor hoteleiro e formado em veterinária, ele entrou na política em 2020, quando assumiu o Ministério do Turismo no governo Bolsonaro.

Sua gestão foi marcada por polêmicas e declarações alinhadas ao conservadorismo do ex-presidente. Em 2022, tentou uma vaga no Senado e recebeu mais de 1,3 milhão de votos em Pernambuco. No ano passado, concorreu à prefeitura do Recife e ficou em segundo lugar, com quase 14% dos votos.

Sua campanha, porém, foi alvo de suspensões do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE), que considerou irregular peças publicitárias criticando creches municipais — material visto como desrespeitoso e manipulador.

Antes da política, Machado era famoso nos festivais de São João do interior pernambucano. Sua banda atraía multidões, especialmente no Agreste e no Sertão. Inclusive, ele está confirmado para se apresentar no São João de Caruaru no próximo dia 24.

Envolvimento em articulações golpistas

O pedido da PGR para investigar Machado foi feito na terça (10), com base em dados coletados na casa de Mauro Cid. No celular do militar, a PF encontrou indícios de que, desde janeiro de 2023, ele buscava cidadania portuguesa — o que, para as autoridades, poderia ser uma tentativa de fugir do país.

Segundo a PF, Gilson Machado teria intermediado contatos com o consulado de Portugal no Recife para agilizar o passaporte. A tentativa fracassou após o consulado identificar inconsistências no pedido.

Após a prisão, Machado foi levado para a Superintendência da PF em Pernambuco, no bairro do Pina, onde está acompanhado de seu advogado, Célio Avelino.

O Partido Liberal (PL), ao qual o ex-ministro é filiado, emitiu nota dizendo que “acompanha o caso e aguarda o esclarecimento dos fatos pelas autoridades”, reafirmando seu compromisso “com a verdade e os valores que defende”.

Mais um baque para o bolsonarismo

A prisão de Gilson Machado chega em um momento crítico para os aliados de Bolsonaro. Nos últimos meses, o ex-presidente e seus principais assessores têm sido alvo de investigações, especialmente sobre ações que buscariam protegê-lo das consequências dos atos golpistas de 8 de janeiro.

Além do impacto jurídico, a detenção do ex-ministro abala ainda mais a base bolsonarista, que tenta se manter unida diante da pressão das instituições e da opinião pública.

Enquanto isso, o país espera respostas sobre quem tentou — e como — garantir impunidade a um dos nomes centrais do golpismo no Brasil.

Com informações de O Cafezinho, CNN e g1*

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Last Update: 14/06/2025