Entenda a raiz do conflito entre EUA e Irã: o golpe de 1953 em Mossadegh

Mossadegh

Para compreender o conflito entre Estados Unidos e Irã, é preciso voltar a 1953. Naquele ano, o Irã vivia uma rara experiência de democracia secular, sob a liderança de Mohammed Mossadegh, um primeiro-ministro amplamente respeitado. Político íntegro, pragmático e comprometido com o bem-estar de seu povo, Mossadegh era tudo, menos um radical. Ele chegou ao poder de forma democrática e se tornou símbolo de esperança para os iranianos.

Em um momento delicado da geopolítica mundial, com a Guerra Fria dividindo o mundo entre EUA e União Soviética, Mossadegh tomou uma decisão histórica: nacionalizou a Anglo-Persian Oil Company, hoje conhecida como British Petroleum (BP), até então controlada pelos britânicos.

A tentativa de renegociar os lucros com o Reino Unido, dividindo-os igualmente, fracassou. Mossadegh acreditava que o petróleo iraniano deveria servir ao combate à pobreza em seu país — e foi aclamado pela população por isso.

Os britânicos, por outro lado, viram a nacionalização como uma ameaça direta a seus interesses. O então ministro das Relações Exteriores, Ernest Bevin, chegou a dizer que, sem o petróleo iraniano, seria impossível manter o padrão de vida desejado para o povo britânico.

Diante disso, o Reino Unido passou a pressionar os Estados Unidos para intervir, alegando que o Irã sob Mossadegh poderia cair na esfera de influência soviética. Embora Mossadegh não simpatizasse com o socialismo e fosse educado no Ocidente, isso pouco importou. O real motivo era o controle do petróleo.

O governo americano aceitou participar da operação para derrubar Mossadegh. Coube à CIA a missão, que resultou na criação da Operação Ajax — hoje documentada e tornada pública após décadas sob sigilo. O golpe foi executado com sucesso, e a democracia iraniana foi destruída.

Em seu lugar, os Estados Unidos e o Reino Unido restauraram a monarquia da dinastia Pahlevi, profundamente impopular, subserviente ao Ocidente e enriquecida às custas de um povo empobrecido. O modelo da Operação Ajax seria reproduzido em outros países: Guatemala, em 1954; Chile, em 1973; e de forma indireta, no Brasil, com o golpe militar de 1964.

No caso iraniano, os efeitos foram particularmente duradouros: o povo suportou o regime dos Pahlevi por mais de duas décadas, até que, em 1979, uma revolução popular os derrubou. O xá fugiu para os EUA, e em resposta, estudantes iranianos invadiram a embaixada americana em Teerã, mantendo diplomatas como reféns por 444 dias — o mesmo local onde a Operação Ajax havia sido planejada.

Esse é o ponto de partida de muitos dos ressentimentos atuais. Em retrospecto, talvez os Estados Unidos devessem ter recusado o apelo britânico para minar Mossadegh. Mas, mesmo após alguma hesitação inicial, a resposta foi afirmativa — e o preço cobrado por essa decisão continua sendo pago até hoje.

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