A suposta base aliada do governo Lula vem atuando sistematicamente para derrotar o presidente no Legislativo. A imprensa burguesa, na figura da Folha de S.Paulo, destacou que já foram oito derrotas em menos de um mês.
Na primeira derrota acachapante, ocorrida no último dia 7, a Câmara aprovou por 315 a 143 votos a anulação da ação penal que inclui o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), assim como sete outros bolsonaristas, incluído o próprio ex-presidente. Arbitrariamente, o STF agiu e anulou a decisão do Congresso, sobrepondo-se novamente aos representantes eleitos pelo povo. Apesar da anulação, a aprovação parcial da anistia com um placar tão desfavorável à posição repressiva defendida pelo governo é um recado ao STF, que progressivamente implanta uma ditadura no País, e uma demonstração da falência política da posição do presidente Lula.
Somando-se a isso, nos ministérios a situação não é melhor. A queda do ministro Carlos Lupi (PDT) e a posterior ruptura da base do PDT na Câmara com o governo, na terça-feira (6), intensificam essa situação. O anúncio foi contestado por deputados mais próximos à Lula.
Ainda assim, o anúncio oficial pelo presidente da bancada da decisão unânime de retirada do apoio representa mais um enfraquecimento da posição governista no Legislativo. O PDT conta com 17 deputados e três senadores, e agora se coloca como independente, sem apoio formal ao governo.
No dia 14 de abril, o Congresso já havia aprovado requerimento de caráter de urgência para votação do projeto de anistia aos manifestantes do 8 de Janeiro. Dentre os deputados que assinaram a medida, 81 compunham partidos que estão à frente de 11 ministérios. Apesar disso, o presidente da Câmara Hugo Motta (Republicanos) ainda não colocou o requerimento em pauta.
Já no dia 22, o líder da bancada do União Brasil, Pedro Lucas Fernandes (MA), recusou o cargo de ministro das Comunicações, após ter previamente aceitado o cargo.
Uma semana depois, no dia 29, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara rejeitou o recurso do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) contra a cassação do seu mandato, tema sobre o qual o governo diz não ter posição. Contudo, o deputado recebeu a visita de nove ministros quando realizava greve de fome, inclusive da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT).
No mesmo dia, União Brasil e PP anunciaram sua federação, já como o lançamento de uma frente de oposição, apesar de comandarem quatro ministérios. Em 30 de abril, a oposição reuniu as assinaturas necessárias para requerer a CPI do INSS, que também visa minar o governo.
No dia seguinte, 1º de maio, o presidente do PSD (partido que possui os ministérios da Agricultura, de Minas e Energia e da Pesca) Gilberto Kassab, falou sobre o lançamento de candidaturas da chamada centro-direita para a presidência no ano que vem, comentando uma união do setor em torno de uma possível candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos), já no primeiro turno, e uma união natural no segundo turno, caso não haja a soma na primeira fase do pleito, tudo, é claro, em oposição a Lula.
O sucessivo alinhamento à direita do governo demonstra sucessivamente não dar quaisquer frutos. Ao invés disso, aliena sua base aliada real, em nome de uma suposta base no Congresso, que não garante apoio algum, algo já observado quando da ofensiva golpista contra Dilma Rousseff, a partir da vitória nas eleições de 2014.
Segundo nota da Secretaria de Relações Institucionais, enviada à reportagem da Folha: “é com esta base que o governo vem aprovando matérias importantes nos últimos dois anos e vê avançar a agenda legislativa prioritária, que inclui a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$5 mil, a PEC da Segurança e a medida sobre o Consignado do Trabalhador, por exemplo”.
A nota demonstra a falta de senso de realidade do governo. Enquanto traça uma política de guerra contra o Congresso, com um seguidismo absurdo frente à ditadura do STF, o governo diz buscar alianças no Legislativo. Guerreia no Congresso por motivos inúteis ou deletérios à sua popularidade, à medida que não coloca em pauta qualquer política popular.
A isenção até os 5 mil reais seria uma política passível de mobilizar as bases reais do governo Lula, os trabalhadores. Ao invés disso, essa isenção é utilizada como justificativa para um conjunto de alianças que nada prometem, nem sequer a aprovação da própria isenção, que supostamente “avança”, mas não entra em vigor nunca, ao passo em que a população está à míngua, tal qual a popularidade do governo.
O que seria uma política acertada é utilizada para justificar a adoção de uma linha completamente impopular, que isola o presidente em seu próprio governo e mantém as bases trabalhadoras, sindicais, operárias, que deram a vitória a Lula, a uma distância segura de possuírem qualquer influência nas políticas adotadas pelo governo federal. Trata-se de um suicídio político claro, evidente, e que, caso persista, levará à ruína não apenas do governo, mas a uma forte e progressiva desmoralização cada vez maior das bases reais de Lula, na classe operária.