Um encontro entre Lula e Donald Trump nos Estados Unidos durante a Assembleia Geral da ONU, marcada para setembro em Nova York, não está no radar do governo brasileiro. A afirmação foi feita por Celso Amorim, assessor especial da Presidência, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. A conversa foi ao ar na noite desta segunda-feira 11.
Segundo o conselheiro de Lula, é possível que o brasileiro, dado a programação da ONU, ‘esbarre’ com Trump na Assembleia e o dê um tratamento ‘cortês’, mas não há qualquer movimentação para uma reunião oficial e bilateral durante a estadia da comitiva no país.
“O Brasil, por tradição, é o primeiro orador na Assembleia Geral, e os Estados Unidos são o segundo. [Lula e Trump] podem se encontrar, podem não se encontrar. […] Agora, hoje, eu não creio que esteja nos planos pedir um encontro”, disse Amorim aos jornalistas.
O assessor, porém, destacou que essa é uma avaliação de momento e que, nas próximas semanas, pode ser modificada desde que os “gestos” feitos pelos dois países “justifiquem” a mudança. Estados Unidos e Brasil, convém registrar, negociam um arrefecimento das disputas comerciais. Até aqui, no entanto, não há sinais de que os norte-americanos vão reduzir as tarifas de 50% aos produtos brasileiros.
A negociação, aliás, foi tema da entrevista e, de acordo com Amorim, o Brasil sempre estará aberto a conversar com os EUA. Ele citou, porém, ‘novos desafios’ no atual momento e que travam a negociação. Segundo explicou, os fatores políticos, como a defesa de Trump a Bolsonaro e as sanções contra Alexandre de Moraes, são dois dos obstáculos que precisam ser considerados durante qualquer conversa. “Exige da nossa parte uma combinação da defesa do interesse nacional e de não aceitar provocações”, destacou.
Reunião paralela
Ainda segundo Amorim, o Brasil deve manter a organização de uma reunião paralela ao evento oficial da ONU com a defesa da democracia como mote. Ele negou, porém, que o encontro visa dar qualquer recado a Trump.
“Isso não nos causa preocupação nenhuma, porque o objetivo não é atacar um país ou outro. O objetivo é ver, por exemplo, como as redes sociais são desvirtuadas as vezes com discursos de ódio e ver as causas profundas dessa erosão da democracia, que não é um fenômeno que está ocorrendo só no Brasil ou na América Latina, mas também na Europa, onde se vê o crescimento da extrema-direita”, afirmou.