Nos últimos anos, com o avanço da extrema direita, tem sido cada vez mais notório que o ambiente digital se tornou um espaço fértil para práticas misóginas e machistas. Na maioria das vezes cometidas por homens e jovens meninos, as práticas violentas contra mulheres e meninas encontraram nas redes sociais o celeiro ideal para a proliferação de discursos agressivos. 

E o ambiente escolar, muitas vezes, é o espaço onde essas agressões ocorrem. Por isso, a fim de instrumentalizar educadores e a sociedade civil para enfrentar as violências que afetam as meninas, especialmente no meio digital, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM), a organização Serenas e a Embaixada do Reino Unido no Brasil, com apoio da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) e do Ministério das Mulheres, desenvolveram o curso  “Escolas ON, Violências OFF: Educação para Segurança Online de Meninas

De acordo com o MMulheres, “a iniciativa surge a partir da necessidade de formação de educadores para apoio às meninas vítimas de violências facilitadas pela tecnologia no Brasil, com orientações para prevenção, acolhimento e encaminhamento desses casos. Com conteúdos acessíveis e inteiramente online, o curso forma profissionais para a promoção de ambientes escolares mais seguros e acolhedores para meninas.”

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Cida Gonçalves, ministra das Mulheres, avalia que a formação de professores é um caminho muito efetivo para trabalharmos com a prevenção e o enfrentamento à violência online contra meninas. “Estamos mirando quem tem um papel fundamental na educação das novas gerações e também na preparação desses profissionais para que saibam o que fazer em momentos cruciais no desenvolvimento desses jovens. O curso pode contribuir com mudanças concretas no ambiente escolar”, disse.

O conteúdo é gratuito e pode ser realizado em até 30 dias a partir da inscrição. O público-alvo da formação são professores e profissionais que atuam com crianças e adolescentes, mas, segundo a Enap, qualquer pessoa pode se inscrever. São 10 videoaulas curtas, com legendas e tradução em libras, além de conteúdos escritos e atividades interativas. A formação é online e assíncrona e contará com certificação de 20 horas da Enap.

São cinco módulos: 

  • Módulo 1 – Conhecendo as violências contra meninas e mulheres;
  • Módulo 2 – Violências contra meninas facilitadas pela tecnologia;
  • Módulo 3 – Juventudes e cultura digital: comportamentos nas redes e os impactos das violências;
  • Módulo 4 – Comunidades escolares no enfrentamento das violências contra meninas;
  • Módulo 5 – A educação como ferramenta para prevenção de violências.

Ambiente digital é palco para conteúdo misógino 

Os jovens em idade escolar, muitas vezes, são alvos fáceis do algoritmo usado nas redes sociais para recrutamento silencioso para a cultura do machismo. A constatação foi feita a partir da reportagem “Como o TikTok alimenta a misoginia entre adolescentes brasileiros”. 

Realizada pelo portal AzMina, a publicação revelou que o algoritmo trabalha em silêncio, empurrando adolescentes para um caminho perigoso: o do conteúdo machista, misógino e radicalizado.

Segundo dados recentes, aponta o texto, um em cada quatro meninos de 14 a 17 anos já consome conteúdos com esse perfil. Eles são levados a acreditar que o feminismo é uma ameaça, que o cuidado é fraqueza e que a violência é uma forma válida de se afirmar como homem.

A misoginia começa sutil, com vídeos de “autoajuda” e “masculinidade”, e evolui para discursos de ódio contra mulheres. Mesmo com políticas de proteção, o TikTok falha em impedir a disseminação desse tipo de conteúdo.

Em dezembro do ano passado, o Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais, uma parceria do Ministério das Mulheres com o NetLab UFRJ, apresentou o  relatório “Aprenda a evitar ‘este tipo’ de mulher: estratégias discursivas e monetização da misoginia no YouTube

O levantamento propôs identificar os assuntos e as comunidades predominantes na machosfera na plataforma no Brasil e analisar as estratégias de disseminação de discurso misógino. Além disso, o estudo identificou padrões de narrativa e sustentabilidade financeira dos canais que propagam ódio contra mulheres.

Na avaliação do Ministério, embora não seja possível correlacionar diretamente a circulação de discursos misóginos e o aumento da violência, a pesquisa contribui com pistas para compreender melhor essa relação. 

Entre 2021 e 2024, o volume de vídeos mapeados pelo estudo aumentou drasticamente. Neste mesmo período, o número de feminicídios no Brasil também cresceu: em 2021, foram registrados 1.347 mortes de mulheres em função do seu gênero. Em 2023, o número de vítimas foi de 1.463. O número de casos de violência doméstica e familiar também aumentou quase 10% entre 2022 e 2023. 

Os 137 canais mapeados com conteúdo misógino somam 3,9 bilhões de visualizações, e somam mais de 105 mil vídeos produzidos e possuem, em média, 152 mil inscritos, se considerados todos os vídeos produzidos por cada canal – mesmo os que não foram capturados na coleta.

Os vídeos expressam aversão, desprezo, controle e ódio às mulheres, com comentários direcionados a grupos específicos, tratados de forma generalizada, como “as feministas”, “as mães solteiras” e “as mulheres mais velhas”. Com isso, perpetuam comportamentos hostis, fortalecendo um cenário discriminatório contra mulheres no YouTube.

Da Redação do Elas por Elas, com informações do MMulheres e do portal AzMina

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Last Update: 24/04/2025