O modelo SaaS transformou o acesso à tecnologia ao longo da última década. Com poucos cliques e um cartão de crédito, empresas passaram a integrar softwares robustos às suas operações.

Porém, o aumento do custo do capital e a busca por eficiência têm forçado uma revisão desse modelo.

Segundo Fred Amaral, CEO da Lerian, muitas empresas passaram a ver o SaaS como uma dependência onerosa. “O que antes gerava conveniência, hoje representa um custo fixo elevado e, em muitos casos, com retorno decrescente”, afirma.

Empresas pagam caro por licenças não utilizadas

Empresas médias chegam a gastar entre US$ 7 mil e US$ 11 mil por funcionário ao ano com softwares SaaS.

Grande parte desses gastos está associada a shelfware — softwares contratados que nunca chegaram a ser usados.

Para Amaral, o modelo seat-based de cobrança transforma o software em um passivo. “Quando a empresa para de pagar, o sistema desliga. Não há valor residual ou ativos construídos internamente”, explica.

Falta de customização e controle técnico limita inovação

Soluções SaaS foram desenvolvidas para escalar com base em padronização. Mas isso, segundo o fundador da Lerian, cria obstáculos para empresas que precisam de integração profunda e flexibilidade.

“As APIs são engessadas, os pedidos de novas funcionalidades se acumulam, e os times técnicos passam mais tempo contornando limitações do que inovando”, afirma Amaral.

Com a evolução da inteligência artificial e das plataformas low-code, cresce a pergunta: por que pagar caro por algo genérico se é possível desenvolver soluções próprias com mais agilidade e alinhamento ao negócio?

Setores de margem apertada questionam escalabilidade do SaaS

Negócios com margens mais comprimidas estão entre os primeiros a repensar o modelo.

Fintechs relatam aumento de custo por cliente conforme a base cresce.

Healthtechs destinam até 60% da receita a licenças para sistemas de gestão e cobrança.

Transportadoras enfrentam tarifas por rota, usuário ou acesso, que impactam diretamente a rentabilidade.

“O SaaS, em muitos casos, passou a limitar o crescimento. Quando deveria impulsionar, se tornou uma barreira”, avalia Amaral.

Open source se consolida como alternativa estratégica

Frente às limitações do SaaS, soluções open source ganham espaço como opção para empresas que buscam mais controle.

De acordo com Amaral, três requisitos se tornaram indispensáveis: domínio do código, possibilidade de customização profunda e liberdade de infraestrutura.

“O open source oferece essas três entregas por definição. Sem taxas recorrentes, sem bloqueios, com total transparência sobre o que está sendo executado”, destaca o CEO.

Software aberto ganha protagonismo nas grandes corporações

A adesão ao open source já é realidade em vários segmentos.

Stacks abertas como Apache Fineract ganham força no setor financeiro. Ferramentas como Kubernetes, Git e Terraform dominam o desenvolvimento corporativo.

Até o modelo de nuvem começa a ser revisto. A 37signals, por exemplo, repatriou sua infraestrutura da AWS para servidores dedicados, economizando milhões.

Na área de inteligência artificial, empresas estão treinando modelos locais para evitar exposição a APIs externas.

“O mercado está retomando o controle da própria tecnologia”, afirma Amaral.

Empresas devem rever arquitetura e contratos de software

Segundo o fundador da Lerian, empresas que compram software precisam revisar seus contratos, eliminar shelfware e exigir maior portabilidade.

Já quem desenvolve soluções deve oferecer alternativas ao SaaS tradicional: código aberto, múltiplas opções de hospedagem e preços baseados no uso real.

“O SaaS não acabou. Mas o modelo padrão está sendo questionado em sua essência”, observa Amaral.

Para ele, a nova fase exige equilíbrio entre autonomia, eficiência e flexibilidade. “Na Lerian, chamamos isso de freedom at the core. É o início de um ciclo mais inteligente”, conclui.

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Last Update: 20/05/2025