O empreendedorismo feminino brasileiro passa por uma fase de transição. Dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mostram que o país ocupa a sétima posição mundial em participação feminina, com as mulheres representando 48% dos empreendedores, segundo o Sebrae. Mas, mais do que presença numérica, especialistas apontam uma mudança qualitativa: cada vez mais mulheres deixam o modelo de negócios baseado apenas em vendas digitais para adotar estruturas empresariais robustas, com processos definidos e equipes qualificadas.
Capacitação
O movimento é confirmado por estudo da Rede Mulher Empreendedora, que registrou alta de 32% na procura por cursos de gestão empresarial nos últimos dois anos. Os temas mais buscados incluem planejamento estratégico, gestão financeira e liderança de equipes. A tendência mostra que empreendedoras estão mais atentas à necessidade de profissionalização para sustentar o crescimento.
Friga
Esse processo é ilustrado pela experiência de Gisele Gomes, CEO da Friga. “Quando comecei, achava que ter uma boa ideia e saber vender era suficiente. Rapidamente percebi que empreender vai muito além do carisma pessoal. Hoje entendo que o sucesso depende de processos bem estruturados, de uma equipe alinhada e de planejamento financeiro para crescer de forma sustentável”, afirma.
Gisele destaca ainda que empresas lideradas por mulheres enfrentam barreiras adicionais. Dados do Banco Mundial indicam que esses negócios têm 15% mais probabilidade de fechar nos primeiros cinco anos, principalmente por falta de acesso a capital e conhecimento técnico em gestão.
Resiliência e inovação
Para a CEO, resiliência não se resume a suportar dificuldades, mas em reorganizar-se com estratégia. “Uma das maiores barreiras que enfrentamos é a falta de referências. Precisamos criar nossos próprios modelos de gestão, adaptar metodologias e inovar em formas mais humanas e eficientes de conduzir negócios”, afirma.
Ela reforça a importância das equipes na consolidação do crescimento. “Aprendi que não posso fazer tudo sozinha. Ter uma equipe competente e alinhada com os valores da empresa é fundamental. Isso exige investir em pessoas, treinamento e criar um ambiente onde todos contribuam para o avanço do negócio.”
Novo paradigma no mercado
A transformação reflete mudanças estruturais no ambiente econômico. O empreendedorismo feminino passa a ser visto não apenas como resposta a necessidades individuais, mas como vetor de inovação e competitividade. Para Gisele Gomes, trata-se de um marco: “Estamos construindo um novo paradigma. As mulheres estão provando que podem criar empresas sólidas e competitivas. Não queremos mais ser vistas como ‘empreendedoras por necessidade’ – somos empresárias por vocação e competência.”
Essa guinada para a profissionalização deve ganhar força nos próximos anos, com impacto direto no desenvolvimento econômico nacional e no fortalecimento do papel das mulheres no mercado empresarial.